Aplausos de pé para “O Filho do Brasil”

Acompanhei a estreia do filme “Lula, o Filho do Brasil”, dirigido por Fábio Barreto. Minha intenção não é fazer mais uma via de apupos ao presidente da república. Depois que Barack Obama o chamou de “o cara”, de o jornal francês “Le Monde” exaltar seu charme a habilidade política e de lideranças mundiais defenderem seu nome para presidir o Banco Mundial, elogios ao presidente Lula nestas simples linhas tornam-se desnecessários. Falemos, pois, de parte de sua vida transformada em filme. 

Lula, o Filho do Brasil

Nessas poucas idas às raras salas de cinema de Belo Horizonte, não me recordo de ver um filme ser tão efusivamente aplaudido após sua exibição. Dizem que aplausos em situações assim não são adequados segundo as normas de etiqueta. De qualquer forma, as palmas foram merecidas. Só não engrossei o coro porque prometi não fazer isso ao amigo simpatizante do tucanato que foi assistir comigo.

A trama não caiu na pieguice costumeira de quando se retrata em tela a vida dos brasileiros que nasceram encravados na pobreza. Trouxe, de forma realista, parte do que acontece com os milhões de retirantes que trocam suas vidas simples pela aventura na cidade grande. Situação mais comum no Brasil de tempos atrás, mas ainda muito presente no país.

De maneira sensata, a produção passeia pela fase em que a prole da Silva deixa o interior de Pernambuco rumo a São Paulo, até o momento em que Luiz Inácio Lula da Silva se torna liderança sindical no efervescente ABC Paulista.

Suas aventuras amorosas e a luta para vencer a batalha da vida são muito bem exploradas. Detalhe com tom crítico são os conchavos nos bastidores dos sindicatos, situação ainda muito presente nos dias de hoje. A produção acerta também ao deixar claro que idealismo é bonito até certo ponto. Chega um momento em que o mais sensato é compreender que contra a força os argumentos não são absolutos.

Atores

Quanto às atuações, o destaque especial é para Rui Ricardo Diaz, ator que vive Lula nos momentos mais marcantes da trama. Quem também não deixa por menos é Glória Pires (como de costume), no papel de Dona Lindu, mãe do protagonista. No entanto, acredito que o roteiro peca ao não mostrar como foi a vida de Lula do momento seguinte à prisão no DEOPS até sua eleição em 2002. Há um salto muito grande entre a fase dos “anos de chumbo” e a posse em Brasília, no início de 2003, para o primeiro mandato presidencial.

Creio que a parte mais interessante da biografia tenha ficado de fora. Indício de uma continuação? Não acredito.

E a oposição…

Muito se fala de que o filme tem a única intenção de ser uma peça de propaganda política. Seu lançamento em ano eleitoral seria uma tentativa de o Partido dos Trabalhadores garantir mais tempo no comando do país. Esse ponto é polêmico. Que Lula tem uma trajetória de vida merecedora de semelhante produção não resta dúvida. É questionável, sim, o momento de seu lançamento. Por outro lado, dizer que é antecipação de propaganda política não se sustenta. Em 2010, o presidente não será candidato a nada, não é verdade? Sim, mas sua pupila Dilma Rousseff quer ocupar o cargo de mandatária do país. É verdade também. Contudo, transferência de voto não tem a lógica que muitos acreditam ter. Uma coisa é o presidente ser carismático, outra é transferir seu carisma. Vide as últimas eleições municipais em Belo Horizonte: prefeito e governador mais bem avaliados na ocasião penaram para eleger Marcio Lacerda.

O PSDB e seus aliados fiéis Democratas, os arautos da moral e dos bons costumes, mas que vivem metidos em escândalos dos mais diversos, poderiam então rebater na mesma moeda. Aliás, podem e devem procurar algum de seus quadros para transformar sua trajetória em filme.

Eu disputaria a tapa ingressos para a estreia de um filme sobre a vida de José Serra (governador de São Paulo e pré-candidato a presidente do Brasil). Tenho muita curiosidade em saber como foi sua vida acadêmica fora do país, como ele fez mestrado e doutorado. Assuntos assaz interessantes e nem tão claramente explicados, né não? Aécio Neves, Ieda Crusius, José de Anchieta Júnior, Cássio Cunha Lima, Eduardo Azeredo são outros tucanos de alta plumagem que, creio, seriam personagens riquíssimos para um longa metragem.

Por Orozimbo Souza Júnior –  jornalista