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Jornalista preso em Guantánamo vai contar história da prisão

Dos 779 presos – suspeitos de terrorismo, simpatizantes do al-Qaeda ou considerados inimigos do exército americano – no centro de detenção americano na Baía de Guantánamo, em Cuba, um era jornalista. O sudanês Sami al-Haj trabalhava como cinegrafista para a al-Jazira quando foi preso por forças paquistanesas na fronteira com o Afeganistão, em 2001. Agora, mais de um ano após ter sido solto, Haj está de volta ao trabalho na rede de TV árabe.

O exército americano o acusou de, entre outras ações, falsificar documentos e entregar dinheiro para rebeldes chechenos, embora ele nunca tenha sido incriminado formalmente por nenhum crime durante os anos que ficou sob custódia.

Desde os ataques do 11/9, para os telespectadores da al-Jazira no mundo árabe nada prejudicou mais as percepções dos EUA que a prisão da Baía de Guantánamo. Por isso, Haj – que preparou uma série de seis episódios sobre ela após ter sido solto – é uma arma potente para a rede.

O ex-prisioneiro de Guantánamo, no entanto, não quer restringir seu trabalho apenas à prisão. Ele ampliou a cobertura da al-Jazira sobre temas como a liberdade de imprensa no Iraque, a situação dos palestinos que estão em prisões de Israel e as implicações do Ato Patriota dos EUA, que dá ao governo americano poderes de caçar suspeitos de terrorismo. Em agosto, por exemplo, ele forçou a al-Jazira a cobrir uma greve de fome de prisioneiros políticos na Jordânia.

Fé na democracia

Mesmo após sua experiência na prisão e vivendo e trabalhando em um país repressivo e violento, ele mantém a crença na democracia e nas leis. Ele chegou a ser torturado na prisão na base aérea do Afeganistão, antes de ser transferido para Cuba. "Vi muitas coisas que não deveria ter visto", relembra. Haj acredita que foi enviado para Guantánamo por ser jornalista. "Certa vez, em um interrogatório, me perguntaram quanto bin Laden pagava à al-Jazira pela propaganda", afirmou. "Você está fazendo a pergunta errada. Ele não é um anunciante da al-Jazira, ele é notícia", respondeu na época.

Quando estava preso, tentou continuar exercendo jornalismo, escrevendo relatos para seus advogados e familiares, como abusos de prisioneiros. "Achei que tinha que documentar tudo para a história, para que a próxima geração saiba a profundidade dos crimes que estavam sendo cometidos", revelou.

Fonte: Observatório da Imprensa