América Latina: Governos progressistas encerram ano fortalecidos
Os conflitos políticos e, inclusive, militares aos quais a América Latina assistiu durante 2009 trazem para a discussão a força exercida por governos mais progressistas em embates travados com as elites político-econômicas da região. Após anos, o Congresso Nacional brasileiro resolveu tirar da gaveta e aprovar a medida que permite a entrada da Venezuela no Mercado Comum do Sul (Mercosul). A medida já havia sido aprovada pelo legislativo da Argentina, Uruguai e Paraguai, demais membros do bloco.
Publicado 26/12/2009 23:22
O ingresso oficial da Venezuela no Mercosul, dentre outros fatos que marcaram 2009, fortalece ainda mais as relações que vêm sendo construídas paulatinamente na região. Alguns analistas consideram que os países latino-americanos estão cada vez mais distantes da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta em 1994 pelos Estados Unidos.
A presença dos EUA na região é cada vez mais rechaçada pelos governos mais progressistas. À frente dos protestos regionais, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a União das Nações do Sul (Unasul) denunciaram a intenção dos Estados Unidos de intervir politicamente na região.
Um acordo entre Colômbia e Estados Unidos permitiu, este ano, a instalação de sete bases militares estadunidenses no país latino-americano. Os EUA justificaram sua presença como "combate ao terrorismo". Para a Venezuela e Bolívia, o objetivo é minar a ascensão dos governos de esquerda na região.
No Peru, após manifestações indígenas, o Congresso Nacional se viu obrigado a derrubar dois tratados de livre comércio (TLC) estabelecidos com os Estados Unidos. As medidas regulariam o uso e a exploração dos recursos naturais – como gás, petróleo e madeira – na Amazônia peruana.
O rechaço às intervenções estadunidenses e a aproximação entre os países latino-americanos são os principais responsáveis pela transformação da conjuntura política do hemisfério sul americano.
Para a coordenadora do Observatório das Nacionalidades, Mônica Dias Martins, a entrada venezuelana no Mercosul deverá contribuir para o desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste do Brasil, com as quais a Venezuela deverá estabelecer maior relação comercial. Além disso, as relações aduaneiras com a Venezuela poderão suprir necessidades energéticas – já que o país é rico em petróleo – e criar um corredor de exportação para o Caribe.
Em entrevista à ADITAL, Mônica fez um breve balanço dos principais acontecimentos políticos de 2009 para os governos da América Latina. A pesquisadora também é professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e editora da revista Tensões Mundiais.
Adital – Encerramos o ano com o ingresso oficial da Venezuela ao Mercosul. O que, de fato, isto significa para o fortalecimento do bloco?
Mônica Martins – A presença da Venezuela como membro pleno do Mercosul representa o reconhecimento de um projeto de cooperação regional com maior autonomia frente às grandes potências, bem como traz perspectivas promissoras para o desenvolvimento dos países que compõem o bloco. Com a integração, ficaremos mais próximos da América Central e Caribe, o que trará inegáveis benefícios, particularmente, para o Norte e o Nordeste do Brasil.
Adital – Como você vê articulações como a Alba, Mercosul, Unasul tomando dimensões cada vez mais significativas no contexto de definições políticas importantes?
Mônica Martins – Estamos aprendendo a conviver com a diversidade política, econômica e cultural e isto é importante para que a América do sul se consolide como ator internacional de peso.
Adital – Hoje podemos dizer claramente que os Tratados de Livre Comércio estão perdendo espaço com o rechaço não só de governos mais de movimentos sociais organizados?
Mônica Martins – A contestação à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), iniciada pelos movimentos populares, ainda na década de noventa, constitui uma forte tendência das nações latino-americanas.
Os atuais governantes buscam, de formas variadas, estimular trocas de bens e serviços mais intensas e justas entre os países. As eleições têm mostrado resultados favoráveis aos que buscam este caminho.
Adital – Qual será o grande desafio a ser enfrentado frente à ingerência imposta pelos países ditos mais poderosos com relação aos latino-americanos?
Mônica Martins – Um dos desafios que se coloca para os Estados nacionais na América Latina é o de garantir a democracia conquistada a duras penas associada à redução das desigualdades sociais e à ampliação do bem-estar de nossas populações.
Isto significa que o Conselho de Defesa Sul-Americano, criado recentemente [em março, pela Unasul], está na ordem do dia.
Fonte: Adital