Messias Pontes – Futuro sombrio para o PSDB no Ceará
Pesquisa Datafolha, divulgada ontem (22/12), põe uma pá de cal nas pretensões do tucanato cearense. Se ainda havia um fio de esperança para os tucanos no estado com uma candidatura do senador Tasso Jereissati a governador em 2010, este partiu-se irremediavelmente.
Publicado 23/12/2009 09:55 | Editado 04/03/2020 16:34
Com isso, todas as projeções apontam para uma redução substancial da bancada estadual que nas eleições de 2002 elegeu 24 deputados estaduais, e quatro anos depois esse número baixou para 14, restando hoje apenas 13. Os mais otimistas projetam a eleição de apenas sete tucanos no próximo ano.
Nos quatro cenários pesquisados pelo Datafolha, divulgados ontem, se as eleições fossem realizadas hoje o governador Cid Gomes (PSB) ganharia já no primeiro turno. No cenário 1, Cid teria 53%, Roberto Pessoa (PR), prefeito de Maracanaú, obteria 14% e Renato Roseno (PSOL) ficaria com 6%; no cenário 2, com a inclusão do nome da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, o quadro pouco se altera, ficando Cid Gomes com 49%, Roberto Pessoa com 13%, Luizianne Lins com 10% e Renato Roseno com 4%.
Incluindo o nome de Tasso Jereissati e retirando o de Roberto Pessoa, Cid continuaria a ter mais do dobro da soma de todos os outros: Cid ficaria com 47%, Jereissati com 25% e Roseno com 6%; no cenário 4, Cid obteria 44%, Jereissati ficaria com 23%, Luizianne com 8%, e Roseno com 5%.
Dos nomes apresentados aos eleitores, o do prefeito de Maracanaú é o que mais tem condições de crescer, porquanto a maioria dos cearenses não sabe que ele pretende disputar a sucessão estadual. Jereissati é conhecido de todos, pois já governou o estado por três vezes e ocupa uma cadeira no Senado há sete anos, e Roseno já disputou o governo uma vez.
Em mais de uma oportunidade dissemos aqui que o senador tucano não será candidato ao governo do estado e que só disputará a reeleição ao Senado se tiver o apoio irrestrito do governador Cid Gomes. Isto porque ele nunca disputou uma eleição sem o uso da máquina governamental. Ademais, com a saída do governador mineiro Aécio Neves da disputa presidencial o quadro se complica mais para o senador cearense.
Para Cid Gomes seria muito cômodo o apoio do PSDB à sua candidatura à reeleição, pois só um incidente de percurso o levaria a uma derrota. Acontece que existe uma pedra no caminho desse apoio tucano que é a candidatura do ministro petista José Pimentel ao Senado, candidatura esta alimentada por ninguém menos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na hipótese de Ciro Gomes não ser candidato a presidente e apoiar a candidatura da ministra Dilma Rousseff, a probabilidade do apoio do Governador a Pimentel é grande, e se isso acontecer Jereissati não será candidato à reeleição, o que deixará o tucanato órfão. A parceria de Cid com Lula está consolidada, e um pedido do Presidente para que o Governador apóie Pimentel dificilmente deixará de ser atendida.
Deve ser levada em conta que Cid não morre de amores por Jereissati e a recíproca é verdadeira. Se não bastasse o fato do senador tucano cearense ter ocupado uma posição de comando na guerra contra a CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – que tirou de um estado pobre como o Ceará a significativa soma de R$ 1 bilhão ao ano (quatro bilhões em quatro anos), Jereissati ainda está alimentando a insatisfação de motoqueiros no interior cearense contra as multas aplicadas pelo DETRAN àqueles que dirigem sem capacete, sem habilitação, sem licenciamento e sem documentação das motos, quatro infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro. Cid Gomes sabe do que a cúpula tucana está aprontando em todo o estado.
Pelo andar da carruagem, os tucanos ficarão sem palanque no Ceará, já que o governador paulista, José Serra, se for candidato a presidente, o que eu não acredito, não terá o empenho da principal liderança tucana no estado, pois as feridas abertas em 2002 ainda não cicatrizaram. Jereissati e Serra são dois bicudos que não se beijam. E se Ciro Gomes viabilizar a sua candidatura presidencial, que eu também não acredito, aí é que as coisas se complicam para Serra.
É oportuno observar que o DEMO, parceiro preferencial dos tucanos, certamente ficará de fora da chapa a ser encabeçada por um tucano para disputar a sucessão presidencial. O nome certo até há muito pouco tempo era o do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, atolado até o pescoço na lama da corrupção; a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA – Confederação Nacional da Agricultura – seria a substituta de Arruda, mas também não será boa companhia, já que foi flagrada na grilagem de terra no Tocantins.
Chapa pura, com Aécio Neves, é uma carta fora do baralho, pois este já declarou que não aceita, em hipótese alguma, ser vice de ninguém. Aécio e Serra nunca se entenderam, embora de público procurem mostrar o contrário. Mas até as pedras de Cococi sabem que um detesta o outro.
Mas o que vai decidir mesmo a sucessão presidencial é a saúde da economia brasileira. O Brasil foi o último a entrar na crise econômica e financeira mundial e o primeiro a dela sair. Mas o pior mesmo para a oposição conservadora de direita encabeçada pelo PSDB é a polarização da campanha, ou seja, o avanço representado por Dilma e o retrocesso simbolizado pela candidatura tucana. Por mais que a direita tente o contrário, a comparação dos oito anos de Lula serão comparados ao do Coisa Ruim (FHC).
O tucanato, notadamente o cearense, que se cuide, pois não deve chover na sua roça.
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE
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