Ricardo Kotscho: a mídia é boazinha quando a enchente é do Kassab
No tempo das prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy, os repórteres eram implacáveis. Mas agora, na gestão demo-tucana –que levou exatamente uma semana para ir à região onde as ruas de seis bairros continuam tomadas pelas águas do rio misturadas ao esgoto– o prefeito Kassab e o governador Serra foram poupados de dar maiores explicações. A análise é do jornalista Ricardo Kotscho, publicada no blog Balaio do Kotscho e reproduzida abaixo:
Publicado 16/12/2009 18:48
Vocês devem se lembrar das cenas toda vez que chovia forte na cidade: gravadores e microfones enfiados em suas bocas, elas eram seguidas pelas câmaras por onde andavam para ver os estragos provocados pelas enchentes.
Os repórteres queriam saber: “E agora, prefeita? O que a Prefeitura vai fazer? Como a situação chegou a este ponto? Que providências foram tomadas para evitar estes problemas?”
No tempo das prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy, os repórteres eram implacáveis, marcavam corpo a corpo, cobravam o poder público, como é sua função.
Lembrei-me destas cenas antigas quando li hoje no jornal que “Prefeitura estuda usar bombas para drenar a água”, uma semana depois da enchente que deixou alagados vários bairros da zona leste, às margens do rio Tietê.
Pois levou exatamente uma semana para o prefeito Gilberto Kassab ir à região do Pantanal, onde as ruas de seis bairros continuam tomadas pelas águas do rio misturadas ao esgoto: Chácara Três Meninas, Vila das Flores, Jardim São Martinho, Vila Aimoré, Vila Itaim e Jardim Romano.
Até então, a cobertura se limitou a ouvir as vítimas e técnicos e especialistas em enchentes ensinando que, como se trata de uma área de várzea, iria demorar mesmo para as águas voltarem ao leito do rio. O prefeito Kassab e o governador Serra foram poupados de dar maiores explicações.
Nesta terça-feira, bem abrigado na sede da subprefeitura de São Miguel Paulista, “durante os 40 minutos em que esteve na região, Kassab conversou com moradores, ouviu reclamações, falou do projeto do parque que será construído na região e da transferência das famílias”, segundo informa a Folha.
O prefeito ficou sabendo que entre 3.500 e 7.500 famílias precisam ser retiradas das áreas de risco, mas o cadastramento só começa na próxima semana e a transferência, prevista para 2012, foi antecipada para o ano que vem. Os moradores se queixaram que precisam esperar até quatro horas na fila do posto de saúde no Jardim Romano, carregando seus filhos com doenças provocadas pelas inundações.
Ao final da reunião, Kassab informou que a Prefeitura está estudando a colocação de bombas para drenar a água da enchente. “Muito possivelmente”, explicou, a água será bombeada para caminhões-pipa. Se esta era a solução possível, porque o trabalho de drenagem não começou a ser feito já na semana passada?
Diante das cenas de sofrimento dos moradores do Jardim Pantanal e dos bairros atingidos pela enchente na zona leste, caminhando com água pelo joelho para salvar os móveis das suas casas e levar os filhos ao médico, os problemas enfrentados pelos meus vizinhos do Jardim Paulista ficam tão pequenos, ridículos, insignificantes, que não temos nem o direito de ficar de mau humor (tema do post anterior deste Balaio) nestes dias que antecedem o Natal.
Para piorar o quadro, que ninguém espere não ver mais as mesmas cenas em 2010. Antes que o dia acabasse, a Câmara Municipal, controlada pelo prefeito, cortou as verbas previstas no orçamento para obras antienchente, incluindo os investimentos em áreas de risco e canalização de corregos.
As áreas de risco perderam R$ 1 milhão e R$ 70 milhões foram cortados da canalização de córregos. Mas a verba de publicidade foi mantida: R$ 126 milhões.
Se você não aguenta mais ver as imagens das enchentes paulistanas nos telejornais, é melhor deixar a TV ligada só nos intervalos comerciais mostrando uma São Paulo que é só beleza.