Negócio em real e iuan marca início do adeus dos Bric ao dólar
Brasil e China fizeram, mês passado, a primeira operação financeira diretamente nas moedas dos dois países, sem conversão para o dólar. A filial brasileira da fabricante de ar-condicionados Gree enviou quase R$ 1 milhão para sua matriz pelo Bank of China, que recebeu o dinheiro em reais e o entregou em iuans três dias mais tarde em uma agência na Província de Guangdong.
Publicado 04/12/2009 15:27
Embora ínfima, a transação tem forte valor simbólico, por sinalizar a possibilidade de aposentar o dólar nas relações comerciais entre dois dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). As remessas internacionais são feitas, em geral, em moedas conversíveis, como dólar ou euro, mas a China está em uma ofensiva para abandonar o uso da moeda norte-americana nas suas transações com o resto do mundo.
Na visita que fez a Pequim em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o comércio entre os dois países seja feito nas moedas nacionais, sem a conversão intermediária para o dólar. A remessa da Gree teve por objetivo pagar pela importação de partes destinadas à sua fábrica na Zona Franca de Manaus, onde está desde 1999.
O vice-presidente do Bank of China no Brasil, Xiao Qi, disse à agência de notícias Xinhua que a utilização das moedas dos dois países reduz o risco associado à flutuação das taxas de câmbio. Segundo ele, outras empresas chinesas com atuação no Brasil vão liquidar suas remessas para a China com a conversão direta de reais para iuans.
Em março, o presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, defendeu o abandono do dólar como reserva internacional de valor e sua substituição pelo Special Drawing Rights (SDR), uma versão rudimentar de moeda internacional criada pelo FMI em 1969.
Oscilações
O mundo deveria se preocupar mais com as oscilações do dólar do que com a cotação do yuan, afirmou o ministro do Comércio da China, Chen Deming, segundo o qual o impacto da moeda americana sobre a economia mundial é muito maior que o da chinesa. "O foco da atenção global não deveria ser a cotação do yuan, mas a estabilidade do dólar", declarou Chen em entrevista, cuja transcrição em chinês foi publicada ontem no site oficial do Ministério do Comércio do país.
Chen afirmou que o dólar deve se manter estável, por ser a moeda mais utilizada no mundo. Oscilações bruscas em sua cotação podem ter impacto negativo no momento em que a economia global continua em situação frágil, sustentou. As autoridades de Pequim estão sob crescente pressão internacional para valorizar o yuan em relação ao dólar, mas a maioria dos analistas não acredita que isso ocorrerá antes de meados do próximo ano.
Nações que importam produtos da China, incluindo o Brasil, sustentam que a cotação do yuan está artificialmente baixa, o que dá aos exportadores do país vantagem injusta no comércio internacional. Quanto menos o yuan vale em relação ao dólar, mais baratos ficam os bens vendidos pelos chineses. Chen rejeitou as pressões pela valorização do yuan e afirmou que o equilíbrio de seu valor é necessário para o desenvolvimento da China e para a manutenção da estabilidade da economia mundial.
Além disso, o ministro ressaltou que o superávit comercial chinês vai cair cerca de um terço neste ano e passar dos US$ 290 bilhões registrados em 2008 para US$ 190 bilhões. Pequim reformou seu regime de câmbio em julho de 2005 e permitiu valorização de 20% da moeda até meados de 2008. Com o início da crise, o movimento foi interrompido e o yuan mantido na casa de 6,80 por US$ 1,00.
Com agências