UNE e UEE-AM combatem criminalização dos movimentos sociais

A tentativa do jornal Estado de São Paulo em desviar o foco de seus leitores do caso de corrupção praticado pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), motivou mais um ataque deste veículo à União Nacional dos Estudantes (UNE). No Amazonas, o jornal Diário do Amazonas repercutiu mais esse combate aos movimentos sociais e fez com que o movimento estudantil universitário do Estado se posicionasse.

Leia abaixo a nota de esclarecimento assinada pelo vice AM/RR da UNE, André Marsílio, e pela presidente da União Estadual dos Estudantes do Amazonas (UEE-AM), Maria das Neves, assim como o artigo que o próprio presidente da UNE, Augusto Chagas, tornou público diante desse fato:

"Diante de mais um dia de ataques do jornal O Estado de São Paulo em que o jornal Diário do Amazonas copia uma reportagem que tem suas informações distorcidas, a entidade vem a público esclarecer que:

1. Conforme informamos em nota divulgada na impressa, a empresa MVG não foi contratada para prestar serviços no Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), tendo sido acionada apenas para o fornecimento de orçamentos para tal evento.

2. A empresa MVG foi contratada para prestar serviços de limpeza e segurança na Bienal de Arte e Cultura da UNE, no stand do projeto Sempre Jovem e Sexagenária. A Bienal, ocorrida entre 20 e 25 de janeiro de 2009, contou com a participação de 10.000 estudantes e foi realizada na cidade de Salvador, o que explica a contratação de uma empresa do estado da Bahia.

3. O recibo mostrado ao repórter, emitido pela empresa MVG, citado na matéria, está em absoluta conformidade com o projeto Sempre Jovem e Sexagenária e comprova a correta aplicação da rubrica dele constante.

4. Se houvesse interesse do jornal em apurar os fatos, e não somente atacar a entidade, um simples pedido de esclarecimento teria impedido o jornal de cometer um erro tão grave, que contribui para uma deliberada tentativa de macular o nome da União Nacional dos Estudantes.

5. A UNE tem sua história marcada pela luta por liberdades democráticas, incluída aí a liberdade de imprensa. Não tolerará, entretanto, que o poder econômico dos grandes monopólios midiáticos seja utilizado para caluniá-la. O departamento jurídico da entidade estuda as medidas judiciais cabíveis.

Esperamos que este jornal não tenha o mesmo perfil do Estado de São Paulo e possa enviar aos leitores esses esclarecimentos, onde esta entidade tem o compromisso desde sua fundação, aqui no Estado do Amazonas temos travados grandes lutas como a meia – passagem , e não vamos deixar que noticiais distorcidas apaguem uma historia honrosa da União Nacional dos Estudantes em todo o Brasil".

Atenciosamente,

André Marsílio – Vice AM/RR da UNE

Maria das Neves – Presidente da União Estadual dos Estudantes do Amazonas – UEE-AM

ATAQUES DO ESTADÃO À UNE: MAIS UM CAPÍTULO DA CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
 

Por Augusto Chagas, presidente da UNE

A principal manchete do jornal O Estado de São Paulo deste domingo acusa: “UNE é suspeita de fraudar convênios”. Em toda a página de abertura do caderno, o jornal julga: “a UNE fraudou convênios, forjou orçamentos”. Categoriza-nos de “aliados do governo” e afirma: “a organização estudantil toma dinheiro público, mas não diz nem quanto gastou nem como gastou”.

A afirmação “UNE é suspeita” não veio de nenhum órgão de polícia ou de controle de contas públicas, é uma afirmação de autoria e responsabilidade de O Estado de São Paulo. A principal acusação é de um orçamento de uma empresa não localizada, que aparece numa previsão orçamentária. De resto, outro orçamento de uma empresa que funciona num pequeno sobrado e especulação sobre convênios que ainda não tiveram suas contas aprovadas.

O fato é que a UNE nunca contratou nenhuma das duas empresas, apenas fez orçamentos, ao contrário do que a matéria, de modo ladino, faz crer. Sobre os convênios, o jornal preferiu ignorar as dezenas de convênios públicos executados pela UNE nos últimos anos – todos absolutamente regulares. Ignora também os pedidos de prorrogação de prazos feitos aos convênios citados, procedimento usual e que não tem nada de ilícito.

A diferença no peso dado a duas notícias na capa desta mesma edição evidencia mais ainda suas opções. Com muito menor destaque, denuncia os vídeos e gravações de um escândalo de compra de parlamentares, operadas pelo próprio governador do Distrito Federal. Apenas a penúltima página do caderno trata do escândalo, imperceptível sob a propaganda de um grande anunciante do jornal. Uma pequena fotografia mostra os R$100 mil que foram anexados ao inquérito divulgado pela Polícia Federal. A matéria, em tom jornalístico, não acusa. Pelo contrário, diz que os vídeos, “de acordo com a investigação”, revelam um suposto esquema de corrupção. Talvez o jornalista não tenha assistido às gravações…

Há pelo menos 17 anos este jornal não oferecia à União Nacional dos Estudantes uma manchete desta proporção. A última acontecera no Fora Collor. A hipocrisia da sua linha editorial precisa ser repudiada. Não apenas como esforço de defender a UNE das calúnias, mas para desmascarar os seus reais objetivos.

O principal deles é a desqualificação e criminalização dos movimentos sociais. O MST enfrenta um destes momentos de ataque, seja através da CPI recriada no Congresso pelos ruralistas, seja através da sistemática campanha que procura taxá-lo como “criminoso” para a opinião pública. As Centrais Sindicais sofrem a coerção econômica do patronato, policialesca do sistema judicial, e a injúria de parte da grande mídia.

A UNE, que acaba de construir o congresso mais representativo dos seus 72 anos de vida, foi tratada como governista, vendida, aparelhada e desvirtuada de seus objetivos pela maioria das grandes rádios, jornais e revistas.

A grande imprensa oscila entre atacar os movimentos sociais ou ignorá-los – como fez recentemente com a marcha de mais de 50 mil trabalhadores reunidos em Brasília reivindicando a redução da jornada de trabalho. Este jornal, por exemplo, não achou o fato importante a ponto de noticiá-lo.

As organizações populares e democráticas devem ter energia para reagir prontamente. É fundamental que o façam de maneira unificada, fortalecendo-se diante dos interesses poderosos que enfrentam. Que fique claro: o setor dominante tenta impedir as profundas transformações que estas organizações reivindicam e que são tão necessárias à emancipação do povo brasileiro e à conquista da real democracia no país.

A manchete do Estadão evidencia também a maneira como a grande mídia trata o problema da corrupção no Brasil: como instrumento de luta política por seus objetivos e com descarado cinismo. Seja pela insistente campanha para desconstruir no imaginário popular a crença na política e no Estado, ou pelas escolhas que faz ao divulgar com destaque desproporcional irregularidades que envolvem aliados ou adversários, criando ou abafando crises na opinião pública.

Na verdade, pouco fazem para enfrentar os verdadeiros problemas da apropriação privada daquilo que é público. A UNE, pelo contrário, sempre levantou a bandeira da democracia. Alguns de nossos mais valorosos dirigentes deram a vida lutando por ela. E afirmamos com veemência: a UNE trata com absoluta responsabilidade os recursos públicos que opera e os aplica para atividades de grande interesse da sociedade.

Às vésperas da primeira Conferência Nacional de Comunicação, o movimento social deve intensificar a luta pelos seus direitos. O enfrentamento à despótica posição da mídia brasileira é um dos grandes desafios que o país terá na construção da democracia que queremos.
O movimento social brasileiro vive um momento de grande unidade, que pode ser visto pela sólida relação entre as Centrais Sindicais e pelo fortalecimento da Coordenação dos Movimentos Sociais.

Não à toa, a UNE foi mais uma vez atacada. “Saibam que estamos preparados para mais editoriais, artigos, comentários e tendenciosas ‘notícias’”, afirmei em artigo publicado no dia 24 de julho, apenas cinco dias após a realização do nosso 51º Congresso. Os meses que se passaram não tornaram a afirmação anacrônica. Pois que todos saibam que a UNE não transigirá um milímetro de suas convicções e disposição de luta por um Brasil desenvolvido e justo.

De Manaus,
Anderson Bahia