Clima: O custo de não fazer nada pode ser alto
O Chile poderá perder mais de US$ 30 bilhões, cerca de 1,1% de seu produto interno bruto, até 2010, se ocorrer o pior cenário traçado na “Economia da mudança climática no Chile”, estudo apresentado sexta-feira (20) em Santiago. Nem todos os cenários avaliados no informe indicam custos econômicos.
Por Daniela Estrada, para a Agência IPS
Publicado 27/11/2009 20:02
Considerando uma emissão menor de gases que provocam o efeito estufa, o país poderia obter beneficio de US$ 25 bilhões até 2010, diz o informe elaborado por acadêmicos das Universidades Católicas de Chile e de Valparaíso, sob a direção da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
“O Chile, efetivamente, é vulnerável à mudança climática, mas de maneira não catastrófica, manejável e, fora isso, há os incentivos para agir, para conseguir reduzir os impactos. Essa é uma das grandes conclusões do ensino”, disse à IPS Sebastián Vicuña, diretor do Centro de Mudança global da Universidade Católica e Coordenador do informe. “Mas, também somos um país que contribui para que exista a mudança climática. As emissões desses gases aumentaram na última década, e a previsão e de que continuarão aumentando. A razão principal é que o desenvolvimento econômico traz consigo um crescimento no consumo de energia e, portanto, de emissões”, acrescentou.
Entre 1984 e 2008, o Chile aumentou em 166% suas emissões de dióxido de carbono, principal gás-estufa, passando de 36 milhões para 95 milhões de toneladas. O setor energético responde por 85% delas. No mesmo período, o país aumentou suas emissões por habitante de dióxido de carbono três toneladas anuais para 5,7 toneladas. Até 2030, se prevê que as emissões desse gás terão aumentado 243%, chegando a 233 milhões de toneladas, o que elevaria a contaminação por pessoa para 11,9 toneladas ao ano. O Chile tem “um desafio importante em termos de continuar se desenvolvendo economicamente, mas ao mesmo tempo, precisa ser mais eficiente no uso e consumo de energia”, disse Vicuña.
O documento divulgado na sexta-feira (20/11) pela ministra do Meio Ambiente do Chile, Ana Lya Uriarte; pelo ministro de Energia, Marcelo Tokman, e pela secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, faz parte de um estudo latino-americano que inclui Argentina, Bolívia, equador, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai, América Central e Caribe. É financiado por vários governos europeus, entre eles o britânico, e conta com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). No dia 16 de dezembro, a Cepal apresentará os resultados preliminares deste estudo regional na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Copenhague entre 7 e 18 de dezembro.
Na parte referente ao Chile, foi analisado o impacto econômico da mudança climática nos setores de fruta, pecuária e florestal, na geração hidrelétrica e no consumo de água potável, em dois cenários, denominados A2 e B2. Do primeiro consta um mundo sem maior controle de emissões e o segundo com mitigação das emissões. O Chile possui zonas costeiras baixas, além de áridas e semi-áridas, que o convertem em um país muito vulnerável à mudança climática.
Segundo o estudo, a temperatura média aumentaria dois graus centígrados no médio prazo e quatro graus entre 2070 e 2100, sobretudo na zona de cordilheira, o que afetaria a disponibilidade de água. Também haveria redução das precipitações próxima de 30% na região central do país, entre as áreas de Valparaíso e Los Lagos. Isto implica mudanças na disponibilidade de água para irrigação, geração hidrelétrica, produção mineira e consumo humano.
Quanto à mitigação, Vicuña elogiou as “ações já tomadas” pelo Chile para diminuir suas emissões, como a criação do Programa País Eficiência Energética e a Lei de Incentivo de Energias Renováveis Não Convencionais (ERNC). “Por sua matriz energética, o Chile terá problemas para conter o ritmo de crescimento de suas emissões, e precisa explorar todas as suas oportunidades. Além disso, uma parte do país é altamente vulnerável à mudança climática e isso vai ter custo para a economia chilena”, disse José Luis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos da Cepal.
Entretanto, Samaniego disse que o país tomou a decisão de traçar um “mapa do caminho”. O “estudo mostra que o custo estimado no pior dos cenários será aproximadamente de um ponto percentual ao ano (do PIB). É uma quantia importante se comparada com o impacto que teve a crise econômica global sobre a economia chilena em 2008 e 2009, ou com o gasto público em matéria ambiental ou pesquisa e desenvolvimento”, acrescentou.
A ministra Uriarte disse que “nos fóruns internacionais apresentamos com muita força nossa posição como país. Dizemos que os custos de adiar decisões, tanto para o meio ambiente como para as economias mundiais, superarão com juros o valor de adotar medidas agora”. Uriarte exortou os países a acordarem na capital da Dinamarca no próximo mês “uma ambiciosa” meta de redução das emissões globais de gases-estufa de, pelo menos, 50% até 2050.
Para isso – disse a ministra – é preciso um duplo compromisso dos países desenvolvidos: redução em suas emissões e apoio financeiro “público” a nações em vias de desenvolvimento para transferência tecnológica, porque “o mercado não será suficiente para esta tarefa”. Os países em desenvolvimento, como o Chile, também podem avançar na redução de emissões “com políticas fortes e ordenadas”, mas sempre de acordo com as realidades nacionais, enfatizou. Uriarte rejeitou eventuais imposições dos países desenvolvidos, como um imposto ao transporte internacional, que afetaria as exportações chilenas.
A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, afirmou que “Copenhague é o lugar onde se deverá traçar um caminho claro de ação. Todos gostaríamos de já chegar com as metas quantitativas. Não chegaremos. Mas na capital dinamarquesa sim”, pode-se desenhar um mapa com vistas à conferência ambiental que acontecerá no México em dezembro de 2010.
Fonte: Envolverde