Dilma anuncia meta brasileira de redução de gases: 38%
O Brasil levará à cúpula da ONU em Copenhague a meta voluntária de reduzir suas emissões de gases em 36,1% a 38,9% até 2020 – anunciou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em São Paulo nesta sexta-feira (13). O anúncio, feito na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, reforça as condições brasileiras para pressionar em Copenhague os países ricos, que emitem dois terços dos gases causadores do efeito estufa.
Publicado 13/11/2009 20:52
"Nosso objetivo com isso é assumir uma posição política nesse caso, mostrando que o Brasil tem compromissos com o desenvolvimento sustentável", afirmou Dilma. A ministra frisou que se trata de um objetivo voluntário, para que ele não seja usado para exigir compromissos dos países em desenvolvimento.
Emissão de gases voltaria ao nível de 1994
O número anunciado equivale a uma redução de 975 milhões a 1,05 bilhão de toneladas de CO2 na atmosfera. Caso o país atinja 38,9% de redução, as emissões em 2020 serão de 1,7 bilhão de toneladas de gases. Este número está 20% abaixo das emissões de 2005 (2,1 bilhões de toneladas) e em um nível semelhante ao de 1994.
A meta leva em conta um crescimento de 4% a 6% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2020. Do total a ser reduzido, 20,9% vem da redução do desmatamento na Amazônia. Outros 3,9% virão da redução 3,9% virão do cerrado e 0,3% a 0,4% da introdução do "aço verde" – o uso de carvão vegetal oriundo apenas de reflorestamento.
Ministro norueguês vê "injeção de ânimo"
O anúncio deixa o Brasil em posição favorável para jogar um papel-chave nas difíceis negociações da cúpula de Copenhague, em dezembro. A reunião na capital dinamarquesa pretende esboçar um novo tratado internacional sobre mudanças climáticas, mas tem esbarrado justamente na relutância dos países em assumir metas específicas de redução das emissões.
"O ministro da Noruega me disse: 'Vocês não imaginam como isso é a melhor notícia que eu já ouvi, como isso vai dar uma injeção de ânimo, porque estava um certo baixo astral, você não faz eu também não faço'", disse Carlos Minc a jornalistas, citando almoço na véspera do anúncio com o ministro de Meio Ambiente da Noruega, Erik Solheim.
"Ele falou que o Brasil com isso pode reverter essa situação em termos de ânimo. Um país em desenvolvimento, que não tem a obrigação de assumir compromissos tão fortes como esse. Eu concordo com essa análise", completou Minc.
Fatores pró-Brasil em Copenhague
Além do objetivo anunciado por Dilma, qualificado de "muito positivo" por João Talocchi, coordenador da campanha para o clima do Greenpeace, outros fatores fatores agirão a favor do Brasil em Copenhague:
1) A queda de 45% no desmatamento da Amazônia brasileira este ano, segundo a informação divulgada pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) na quinta-feira (12). O total desmatado, nos últimos 12 meses, 7 mil km2, é menos de um terço do aferido em 2002.
2) A posição de vanguarda em biocombustíveis, renováveis e menos poluentes que os combustíveis fósseis. A liderança brasileira ocorre tanto na área do etanol como no de biodiesel: em 1º de janeiro do próximo ano o país uintroduzirá o diesel B5, uma mistura de 5% de biodiesel no óleo diesel, contra 2% atualmente.
3) A matriz energética excepcionalmente "limpa" – não poluente: 85% da energia elétrica do país provém de fontes não poluentes, principalmente hidrelétricas. Nenhum outro país atinge esse índice; a maioria depende principalmente de termoelétricas movidas a carvão ou diesel.
"Acho que o Brasil fez um gol"
Isto, mais a condição de ser um grande país em desenvolvimento, pode ajudar o papel da diplomacia brasileira na cúpula de Copenhaque. Para Calos Nobre, pesquisador em mudanças climáticas do Inpe, "pode ajudar a quebrar o gelo nas negociações. Isso vai dar ao Brasil um protagonismo. Acho que o Brasil fez um gol, mas para que a partida seja ganha, é precisa a ajuda dos outros países", lembrou o pesquisador.
Os países desenvolvidos, que têm um quinto da população mundial e emitiram dois terços dos gases responsáveis pelo efeito estufa, principalmente carbono. No entanto, as negociações na capital dinamarquesa se anunciam difíceis. A ambição da cúpula é encontrar um substituto eficiente para o Protocolo de Quioto, de 1997, inviabilizado diante da recusa dos Estados Unidos em assiná-lo.
Da redação, com agências