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Zelaya fala em lição: Não se dialoga com terrorista que dá golpe

O presidente legítimo de Honduras, Manuel Zelaya, reafirmou que desistiu de negociar com o ditador Roberto Micheletti, porque este não esteve disposto a cumprir os acordos para superar a crise que afeta esse país, iniciada após um golpe de Estado em 28 de junho. No dia em que a Suprema Corte adiou mais uma vez a decisão sobre a restituição de Zelaya, o enviado dos Estados Unidos a Honduras, Craig Kelly, deixou Tegucigalpa ontem (11) sem conseguir fazer que o acordo do dia 30 seja cumprido.

Em diálogo com o telejornal colombiano NTN 24, Zelaya disse que, apesar dos avanços conseguidos pela secretária de Estados dos EUA, Hillary Clinton, para aproximar às partes depois do golpe, Micheletti não cumpriu nada. "O governo golpista nunca esteve disposto a cumprir nem o diálogo, nem o acordo, nem as iniciativas da OEA, nem da Organização das Nações Unidas", disse Zelaya da embaixada do Brasil em Honduras.

O líder deposto explicou que não está disposto a dialogar com pessoas que transgrediram a lei e lembrou que após os acordos o regime golpista começou a pedir primeiro "a metade do governo e depois o contracheque". Explicou que não seria possível que, no final, o encarregado de dirigir a "reconciliação nacional" fosse o próprio Micheletti, que chegou ao poder por um golpe de estado.

Zelaya indicou que o que ocorreu em Honduras serve para que a América Latina e Estados Unidos aprendam a lição que "não se dialoga com terroristas que dão golpes de Estado".

Em nome dos hondurenhos, Zelaya agradeceu o apoio da comunidade internacional após sua saída abrupta do poder. Segundo ele, atualmente cerca de 20 pessoas o acompanham na embaixada do Brasil, entre os quais advogados e um sacerdote salvadorenho. "São pessoas de inteira confiança (as que me acompanham e) que estão prestando um serviço à pátria e à democracia", indicou Zelaya.

Ele acrescentou que sua amizade com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, é a mesma que tem com outros líderes da região e do mundo, ao mesmo tempo em que lembrou que por convicção buscou aproximação com Cuba. Reiterou que ao longo de sua vida sempre atuou dentro da lei e que não cometeu nenhum delito nem como cidadão comum nem como presidente de Honduras.

Adiamento

A Suprema Corte de Justiça de Honduras adiou nesta quarta-feira (11) uma esperada opinião sobre a restituição de Zelaya, um passo importante para superar a crise política de mais de quatro meses. O Congresso pediu uma opinião à Suprema Corte e à Procuradoria Geral para decidir se Zelaya pode ou não voltar ao poder com base em um acordo firmado no fim de outubro.

Tanto Zelaya como Micheletti fizeram um chamado ao Congresso para que tomasse uma decisão. Mas a Suprema Corte, que se reuniu por seis horas, decidiu nomear uma comissão de cinco magistrados que elaborará uma decisão a ser votada pelo tribunal possivelmente na próxima quarta-feira.

"Não se pode dar uma opinião rápida, se deve analisar devidamente pela importância do assunto", disse o porta-voz da Suprema Corte, Danilo Izaguirre.

Enviado estadunidense

O subsecretário adjunto para o Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Craig Kelly, ao deixar Tegucigalpa, afirmou que é importante continuar com as conversas para solucionar a crise. "Estamos avançando no diálogo, nós pensamos que é muito importante seguir adiante com as conversas", afirmou o diplomata, seguindo a mesma linha "otimista" adotada pelos EUA desde o início do golpe  que até agora não mostrou relação com a realidade do país.

O enviando americano disse que a saída da crise para o povo hondurenho parte da solução para as eleições de 29 de novembro, que Zelaya e maior parte dos países da OEA (Organização dos Estados Americanos) já anunciaram que não irão reconhecer se o presidente deposto não tiver voltado ao cargo.

"Então é importante que os dois lados sigam avançando, estamos aqui para apoiar esse processo e isso se alcança através do Acordo Tegucigalpa-San José. Acho que estamos evoluindo e que é importante que os lados sigam conversando", destacou, assumindo o discurso dos golpistas, que pretendiam ganhar tempo no poder até a realização das eleições.

Com agências

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