Antonio Capistrano: Longe do Fim da História
Li, em um jornal de Mossoró, um artigo intitulado “Longe do Fim da História”, publicado, não por acaso, na imprensa nacional, da jornalista Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais, entidade que é controlada pela grande mídia.
Publicado 12/11/2009 18:45 | Editado 04/03/2020 17:08
Nesse artigo, como era de se esperar, ela faz criticas aos governos da América Latina, eleitos democraticamente, principalmente ao governo da Venezuela, por tentar controlar os meios de comunicação, regulamentando o seu uso ou simplesmente aplicando a lei existente.
O argumento das criticas é a questão da liberdade de imprensa, segundo ela, o que esses governos desejam é cecear o trabalho dos jornalistas. As pessoas que tem um mínimo de informação sabem que liberdade de imprensa é um tema muito relativo em qualquer parte do mundo, mesmo na famosa “democracia” cristão-ocidental, os Estados Unidos, ela não existe, está sob o controle das grandes corporações econômicas.
Recentemente, o presidente Obama entrou em choque com a FOX, exatamente cobrando uma posição ética, sem jogo de interesses dessa empresa televisiva norte-americana. A FOX faz uma oposição racista ao atual presidente norte-americano, ela é assumidamente ligada aos interesses do Partido Republicano e tem feito um jornalismo faccioso, principalmente agora na luta pela aprovação do novo modelo de saúde pública para o país. Obama defende um maior controle dos meios de informação dos Estados Unidos. Correto.
Quando a imprensa brasileira fala da Venezuela, do governo democrático do presidente Hugo Cháves, não menciona a verve golpista da RCTV, foi ela quem patrocinou a tentativa de golpe naquele país, o famoso golpe midiatico, abordado pelo povo venezuelano. A nossa mídia não diz que lá como aqui, rádio e televisão são concessões públicas, portanto estão proibidas de fazer proselitismo político e religioso, tem que cumprir a lei vigente. Não mostra que as multas ao canal Globovisión estão dentro do que determina a legislação do país. Eles não dizem que as 34 emissoras de rádio, fechadas, estavam funcionando irregularmente. Aqui no Brasil, no governo Fernando Henrique Cardoso, ocorreram o fechamento de centenas de rádios comunitárias, o motivo, estavam funcionando irregularmente, errado? Não, correto.
O Brasil vive um bom momento, o atual governo tem todo o interesse de regulamentar os meios de comunicação, isso é de suma importância para a democracia brasileira. Não podemos continuar sob o domínio do monopólio da informação. Não podemos admitir que um restrito grupo fique moldando o pensamento do povo brasileiro de acordo com os seus interesses, vale ressaltar que não são os mesmos interesses da nação brasileira.
Por isso o governo do presidente Lula, em boa hora, convocou uma Conferência Nacional de Comunicação, é um grande avanço na luta pela construção de um sistema de comunicação realmente democrático e anti-monopolista. Queremos uma imprensa verdadeiramente livre, sem as amarras dos interesses oligárquicos e internacionais, sem manipulação da informação, sem a uniformização da cultura, mas permitindo o livre pensar e a preservação das manifestações culturais do nosso povo, sem imposição de padrões culturais.
Recomendo aos interessados no tema mídia e democracia, o excelente trabalho do jornalista Altamiro Borges, “A ditadura da mídia”, publicado pela Editora Anita Garibaldi em julho de 2009. Reproduzo duas notas sobre esse livro, uma do jornalista Venício A. de Lima, que diz: “O precioso e oportuno A ditadura da mídia oferece ao leitor, em linguagem simples e direta, não só o quadro atualizado sobre os grupos que disputam o controle da grande mídia no mundo e em nosso país, como também um roteiro justificado de metas que devem orientar as reivindicações populares na 1ª Conferência Nacional de Comunicação”. A outra nota é do também jornalista Laurindo Lalo Leal Filho que diz “O livro A ditadura da mídia tem a justa pretensão de se tornar um instrumento de apoio para todos os que lutam pela construção de uma comunicação justa e equilibrada em nosso país”.
A jornalista Judith Brito só acertou no titulo do seu artigo: “Longe do Fim da História”. Até por que isso só ocorrerá com o fim da humanidade, portanto enquanto existir a sociedade humana haverá história e luta de classe, uma prova é esse artigo de Judith, que como presidente da ANJ representa os interesses dos donos dos meios de comunicação aqui no nosso país e na América Latina, interesses que não são os interesses da maioria do povo brasileiro.