No Congresso do PCdoB, Dilma reforça importância das esquerdas
Em uma longa intervenção feita durante ato político do 12o. Congresso Nacional do PCdoB, na noite desta sexta-feira (6), no Anhembi, em São Paulo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez uma contundente análise política da disputa travada hoje entre as forças de oposição e a base política e social que apoia o governo Lula. Dilma destacou que, neste embate, as forças de esquerda que integram a base do governo têm papel fundamental.
Publicado 07/11/2009 03:14
PCdoB, partido de luta
Provável candidata à sucessão do presidente Lula em 2010, a ministra foi recebida com entusiasmo pelos participantes do congresso comunista. Dilma agradeceu o empenho do PCdoB nas ações do governo e frisou que o Brasil vive um momento único em sua história e um desafio para as forças progressistas e democráticas. "Um partido com a qualidade do PCdoB é perfeito para refletirmos sobre este momento. São interlocutores fundamentais para isso. Falar do PCdoB é falar de luta, de superação, de desafios, de resistência e também de heroísmo. Falar de João Amazonas, Diógenes Arruda e dos companheiros mortos no Araguaia –e me refiro em especial a duas pessoas: Osvaldão e Helenira — é falar da luta para fazer da grandeza desse país a grandeza de nosso povo. O desafio que nós militantes enfrentamos passa por aí…", disse a ministra, sendo bastante aplaudida.
Dilma afirmou que este desafio consiste não apenas em garantir e assegurar as conquistas alcançadas, mas o desafio de avançar ainda mais. "E aqui sei que minha voz não cai no vazio. Temos aqui pessoas para lutar por um país mais igual, ambientalmente sustentável, independente, soberano e respeitado. E agora que essas transformações começam a se aprofundar, não iremos deixar que elas escapem de nossoas mãos, das mãos calejadas do povo brasileiro", disse.
Para Dilma, o PCdoB tem capacidade e energia para a luta. "O PCdoB é uma das chamas que vai iluminar esse projeto junto com os partidos que integram nosso governo. Tenho certeza que essa chama vai brilhar para todo o Brasil".
Durante toda sua fala, Dilma reforçou o papel das mulheres na política. Usando uma linguagem sintonizada com o movimento feminista, referiu-se várias vezes às companheiras e trabalhadoras.
Espaço efetivo para as esquerdas e os movimentos sociais
A ministra destacou o papel das forças progressistas e democráticas na construção do novo projeto de desenvolvimento econômico e social do país e citou nominalmente as legendas de esquerda como protagonistas destacadas deste processo. "Os partidos da base junto com o PT, o PDT, o PCdoB e o PSB estão desafiados a dar continuidade e fazer avançar este projeto generoso do Brasil", afirmou Dilma.
"Só pode aceitar e vencer este desafio quem já mostrou que é capaz de encontrar e de apontar novos caminhos, quem é capaz de lutar, de fazer todas as transformações que são necessárias ao nosso país; e as forças progressistas e democráticas que apoiam o governo lula já mostraram que estão à altura desta tarefa histórica, porque podem dizer 'sim, nós fizemos', 'sim, nós estamos fazendo'", completou Dilma.
A ministra lembrou que o atual governo foi o que mais deu espaço legitimo à esquerda e aos movimentos sociais. "A manutenção e ampliação desses princípios serão nosssas bases", disse.
Apesar de não ter dado destaque nominal, a ministra não esqueceu o PMDB. Ao cumprimentar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que estava presente ao evento, Dilma ressaltou que o Rio é um dos estados onde a parceria com o governo federal tem sido muito bem sucedida.
Antes do discurso de Dilma, o governador Sérgio Cabral disse que o seu partido apoiará a candidatura da ministra. "Dilma será a futura presidente do Brasil e o PMDB estará com ela em 2010", prometeu Cabral.
Governo que mais governou para todos
Durante sua fala, a ministra citou vários avanços conquistados pelo atual governo: "Garantimos o mais vigoroso fluxo de inclusão social. Nos livramos do FMI e hoje conseguimos acumular 233 bilhões de dólares em reservas. Na era Lula, asseguramos, sem susto, nem sobressalto o estado de direito e as liberdades democráticas. Sim, nós somos o governo que mais governou para todos, que soube fazer alianças políticas, mas sobretudo alianças sociais. Que soube defender o pluralismo econonômico, social, cultural".
"São varios os motivos para considerar estratégico o que fizemos, mas se fosse para citar apenas um motivo, eu diria que foi o fato de termos sido, em nossa história, o governo que mais acreditou na capacidade e no talento do povo brasileiro", afirmou Dilma, sob aplausos.
"Estas são as principais razões do sucesso até agora, e a ampliação e manutenção destes princípios serão a base do nosso sucesso no futuro", disse.
Oposição patética e desconexa
Com um discurso contundente pouco comum nas falas da ministra, Dilma fez duros ataques à oposição. "As forças do passado, que mais uma vez tentam se organizar e que usam as mesmas velhas e surradas táticas, pensam ser astutos ao tentar fragmentar a base aliada do governo Lula por meio de crises, muitas, muitas, artificiais".
A ministra qualificou este tipo de oposição de patética e desconexa. "São patéticos, ao tentar confundir as pessoas e dizer que nossos modelos são parecidos, que nossa política econômica é a mesma. (…) São patéticos quando afirmam que o Bolsa Família é a continuidade do Vale Gás ou do Bolsa Escola, como se o Bolsa Família não fizesse parte de um projeto de inclusão que tem em todas as nossas políticas seu centro principal. São desconexos quando tentam explicar os nossos resultados como sendo fruto de supostas benesses da conjuntura internacional, ou do fato de que nós temos muita sorte. E agora mais recentemente, argumentam com uma espécie de miopia inata do povo brasileiro que sempre se deixa manipular. O que revela um descrédito secular e um desprezo pelo povo mais pobre deste país", criticou.
Segundo a ministra, a direita" tem medo de comparar nossos governos com os deles e os nossos projetos com os deles. São países completamentes diferentes. O povo brasileiro vai saber julgar no ano que vem", disse, sendo ovacionada pelos militantes comunistas.
Dilma fez referência indiretas ao conteúdo do artigo de Fernando Henrique Cardoso publicado no último domingo (01) no jornal "O Estado de S.Paulo". Sem citar o texto, ela respondeu aos ataques."Eles, que reiteradamente esqueceram o povo, que dilapidaram o patrimônio nacional e privatizaram empresas estratégicas para o Brasil. Eles não tem moral para falar de nós".
'Essas forças tropeçam nos mesmo erros e no vazio de suas propostas. Como são incapazes de formular um projeto de nação, o que fazem hoje é fabricar um mundo de mistificação, um mundo arrogante, em que seus queixumes e murmúrios e resmungos não conseguem ocultar o excesso de vaidade, a falta de rumo. Por isso, quando tentam analisar o momento brasileiro só conseguem produzir um triste espetáculo da falta de propostas", criticou Dilma.
A luta vai ser dura
Contrapondo-se aos que argumentam que o sucesso do atual governo é apenas sorte, Dilma ironizou: "Temos sem sombra de dúvida muita sorte, não somos pé frio. Mas a grande crise que sacudiu o mundo veio colocar por terra o argumento da sorte. Nós sobretudo desmonstramos diante desta crise que temos competência de gestão. Somos o país que mais rápido saiu da crise pois temos o governo que mais rápido tomou as medidas para combatê-la. Um governo que não privatizou seu sistema financeiro e por isso pode se apoiar em instituições como o BNDES, a Caixa, o Banco do Brasil…", explicou a ministra.
Ao final de um discurso de mais de trinta minutos, chamou os integrantes do PCdoB que lotavam o auditório para construírem, junto ao PT, propostas para o próximo governo. "O Brasil nunca esteve tão bem, mas é preciso expandir essas conquistas e, para isso, é preciso unir as nossas forças para construir proposta de futuro. Nas eleições, teremos que mostrar que esta grande mudança nacional veio para ficar", disse.
E concluiu: "Não se iludam. A luta vai ser muito dura. Nosso projeto de nação cria muitas animosidades. Esse governo jamais cruzou os braços. O país que nós recebemos e o que nós deixaremos são muito diferentes. O povo vai saber comparar".
De São Paulo,
Cláudio Gonzalez