Reformas no Banco Mundial e FMI são um passo pequeno
O Fundo Monetário Internacional talvez atue melhor agora do que na crise do final da década de 90, mas ainda tem “um longo caminho a percorrer”, disse Mark Weisbrot, codiretor do Centro para a Pesquisa Econômica e Política (CEPR)
Marina Penderis, para a agência IPS
Publicado 03/11/2009 00:07
Esta instituição de estudos independentes com sede em Washington alertou este mês que boa parte das nações que receberam dinheiro do FMI para amenizar a crise foi obrigada a implementar políticas fiscais e monetárias pró-cíclicas que resultaram ser prejudiciais.
“O FMI está, definitivamente, agindo melhor do que durante a crise” desatada no sudeste da Ásia em 1997, “mas creio que a base de comparação é muito estreita”, disse Weisbrot. A pergunta, para este economista é: “Estão fazendo o que devem fazer?”. E ensaia uma resposta: “Ainda lhes resta um longo caminho pela frente”. Weisbrot também se pergunta se as “decisões de Istambul”, como se denomina o plano de reformas estabelecido pelo Fundo e pelo Banco Mundial em sua reunião deste ano nessa cidade turca, beneficiarão os países em desenvolvimento.
O plano inclui a criação de instrumentos como uma linha de credito flexível – isto é, sem condicionamentos – em beneficio de países que reúnem certos critérios, de modo a servirem como uma espécie de alavanca para os Estados que têm necessidade de acumular reservas para se resguardarem de ataques especulativos. O FMI também propôs uma revisão de seu mandato, e de suas políticas macroeconômicas e para o setor financeiro. Depois, anunciou sua intenção de elevar o poder de decisão das nações emergentes e em desenvolvimento mal representadas no Fundo e no Banco Mundial para janeiro de 2011.
“Mesmo tendo outorgado esses 5% adicionais, os países ricos continuarão tendo maioria”, disse Weisbrot. “A Europa quase nunca votou contra os Estados Unidos no FMI. Entre Estados Unidos, Japão e Europa, e talvez um ou dois países que os acompanhem, controlarão tudo na instituição”, acrescentou. A linha de crédito sensível será, possivelmente, benéfica, mas Weisbrot se mostrou céptico sobre o modo de implementação. “É uma boa idéia. Permite aos países se salvarem de corridas bancárias e de divisas, mas até agora foram concedidas a três nações com forte dependência em relação aos Estados Unidos, como Colômbia, México e Polônia”, afirmou.
“Não podem ser os únicos Estados do mundo a se qualificarem para essa linha de crédito. De fato, a economia mexicana caiu 7% este ano, um dos piores rendimentos da América Latina. E seu crescimento nos últimos 36 anos foi tétrico. De acordo com quais critérios se pode chamar isso de governabilidade?”. Weisbrot acredita que a participação do FMI na supervisão de políticas econômicas dificilmente influa nas decisões do Grupo dos 20, que reúne os paises mais ricos e as economias emergentes. “O Fundo só pode influir sobre as nações em desenvolvimento. Não pode dizer aos países ricos o que fazer”, explicou.
Em um informe de antes da reunião de Istambul o CEPR avaliou que 31 das 41 nações analisadas foram prejudicadas pelos acordos que fizeram com o FMI, os quais recomendavam políticas monetárias e fiscais pró-cíclicas. Essas recomendações, alertou o CEPR, exacerbaram as consequências da crise nesses países. “Mais de uma década depois de a crise econômica asiática deixar em evidência grandes erros políticos do FMI, a instituição está cometendo outros semelhantes em muitos países”, segundo Weisbrot. “O Fundo apóia os estímulos fiscais e as políticas expansivas dos países ricos, mas tem uma atitude muito diferente com os países de baixa e média renda”, disse o especialista.
O economista Stephen Gelb, diretor-executivo do The Edge Institute, uma organização de estudos econômicos com sede em Johannesburgo, disse que “os Burkina Faso do mundo não têm a capacidade de negociação política necessária para assumir uma posição independente do FMI”. Desde o começo da crise econômica em 2008 o Fundo facilitou financiamento a nações de alta e média renda, com Islândia e Letônia, que “estão em diferentes posições”, segundo Gelb. “Por acaso o Fundo promove políticas diferentes nesses países?”, perguntou.
Mas Weisbrot descreve as políticas pró-cíclicas vinculadas com o acordo entre FMI e Letônia como prejudiciais. “O primeiro acordo foi no final do ano passado. Desde então, a economia letoniana caiu 18%. Isto é realmente incomum no mundo moderno”, disse. O empréstimo “impediu o colapso do sistema bancário nacional, mas expremeu a economia ao provocar uma queda na produção. Teria sido melhor deixar cair a moeda letoniana e deixar que os bancos assumissem as perdas”, acrescentou. Gelb pôs em dúvida que os especialistas do FMI tenham a experiência necessária para promover as mudanças imprescindíveis para enfrentar a crise.
“Durante quase 30 anos, desde o começo da década de 80, quando um país ficava sem reservas em divisas estrangeiras e ia ao FMI em busca de ajuda, o que a instituição propunha era reduzir o gasto fiscal. A situação é diferente agora”, disse. “As nações ainda carecem de reservas estrangeiras, mas porque caíram as exportações, pois não há crescimento nos mercados de consumo. O dinheiro que o Grupo dos 20 deu em abril ao FMI era para estimular o crescimento. Havia alguém do FMI ouvindo o que diziam? Ninguém: todos tinham ido embora”, acrescentou Weisbrot.
Fonte: Envolverde