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Ação quer difundir fogão a álcool no Brasil

Produto, que substitui combustíveis fósseis ou lenha de árvores desmatadas, foi bem aceito em 87 famílias de comunidades de Minas.

Por Fábio Brandt, do Pnud

Moradores de uma comunidade em Salinas (no Vale do Jequitinhonha), de um assentamento rural em Betim e de Urucânia (região metropolitana de Belo Horizonte), utilizaram fogões a etanol durante nove meses e os aprovaram, afirma relatório do Projeto Gaia, grupo responsável pela iniciativa. A intenção foi substituir os fogões que usam lenha e gás por uma alternativa de combustível mais sustentável.

“É de fácil manuseio”, sintetiza a diretora do projeto no Brasil, Regina Couto. Ela diz que, após os testes, as famílias ganharam os fogões, mas muitas encerraram o uso por causa do preço do etanol no interior de Minas Gerais. “A lenha é de graça”, acrescenta a diretora, indicando que viabilizar o uso do etanol é uma dificuldade que o projeto tenta superar no Brasil. No entanto, comunidades como a de Betim, onde 71% das famílias do assentamento usam fogões a lenha, já sentem dificuldade no acesso ao combustível, já que na região, de pequenas propriedades há áreas se preservação, onde é proibido coletar lenha.

Além da proibição de corte das árvores, outros fatores podem estimular a mudança de fogão, como mudanças climáticas, oscilações no preço do gás de cozinha e necessidade de diminuir o uso de produtos do petróleo o. O etanol, diz Regina, entra como boa alternativa, já que pode obtido a partir de fontes, como cana de açúcar, mandioca e batata doce, abundantes no Brasil. “Mais da metade da população mundial precisa da lenha para cozinhar ou se aquecer. Nos países africanos, a falta da lenha já é um problema sério. Na Etiópia há lugares desertificados”, argumenta Regina.

Aplicações

Antes de ser testado em Minas Gerais, entre abril e dezembro de 2006, o “Clean Cook”, como é chamado o fogão de duas bocas do Projeto Gaia , foi introduzido, em 2003, na Etiópia e na Nigéria. Até hoje, o projeto é mantido nesses países com apoio financeiro do PNUD e do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Na Etiópia, o produto foi testado em campos de refugiados por ser um utensílio prático. Regina recorda que, antes de ganhar versão rústica e barateada para projetos sociais, ele era visto em lojas para camping e embarcações. Na Nigéria, o fogão foi apresentado a comunidades que cozinhavam com lenha ou querosene – combustível considerado inseguro porque provoca, frequentemente, queimaduras.

No Brasil as 87 famílias que testaram o Clean Cook eram de três comunidades “bem diferentes” mas que, segundo Regina, têm algo em comum: “costumam ter os dois: fogão a gás e a lenha, para quando falta gás”. Quase dois anos após os testes, a diretora percebe que as famílias até aceitam deixar de lado o gás pelo etanol porque os dois combustíveis têm custo. “Mas quem usa lenha, que é de graça, não troca”, admite.

Soluções

No início dos testes, as famílias receberam os galões de etanol e o fogão de graça. Depois, o preço do combustível subiu progressivamente até atingir o valor de mercado. No assentamento Dom Orione, em Betim (35 quilômetros de Belo Horizonte), o valor pago era menor que o de Salinas, no norte do estado, por causa da disponibilidade local do combustível, diz Regina. Urucânia (a 200 quilômetros de BH) não teve problemas porque ali o projeto foi conduzido em parceria com o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais. Mas a diretora ressalva que após o teste, a parceria também acabou e os moradores ficaram sem o etanol.

Diferentemente da África, o Brasil não precisa importar etanol e já possui o conhecimento necessário para produzi-lo em pequena escala, o que, segundo Regina, é a solução viável para o Gaia. “O equipamento de uma biorefinaria é compacto, cabe em um espaço de três por cinco metros. Tem uma torre de destilação que não passa dos cinco metros de altura, uma mini caldeira e dornas de fermentação, de onde já sai o etanol”.

O equipamento, acrescenta a diretora do Projeto Gaia, pode ser operado pela própria comunidade. A próxima meta do Projeto Gaia é estender suas ações a comunidades afastadas de centros urbanos, como as da Amazônia. Para isso, a iniciativa pretende firmar parcerias de financiamento, como a que possui na África, e de fornecimento de etanol e tecnologia com usinas. “Toda a tecnologia de uma biorefinaria, todo o equipamento movido a etanol, pode prover energia pra residências, para computadores e chuveiro, por exemplo. É a produção social do etanol”, conclui Regina.

Fonte: Envolverde