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Ex-chefe de polícia de Londres elogia assassinos de Jean Charles

A família de Jean Charles de Menezes acusou o ex-chefe de polícia de Londres, Ian Blair, de tentar "reescrever a história" com sua autobiografia, na qual elogia as ações de dois agentes policiais que assassinaram o eletricista brasileiro.

Por Mark Hughes, para o The Independent

Trechos do livro de Blair, "Policing Controversy", foram publicados no domingo (18) pelo jornal "The Mail on Sunday". Nas passagens do livro referentes ao dia do assassinato, Blair alega que a morte ocorreu por "uma combinação terrível de circunstâncias". Foi além, dizendo que se Jean Charles fosse um terrorista, os agentes mereceriam medalhas.

"Tendo em vista o que eles achavam que estavam enfrentando, Charlie 2 e Charlie 12 [nomes em código dos policiais que assassinaram o brasileiro] deveriam ter recebido cada um a Medalha George [medalha secundária, com a efígie do monarca atual e no outro lado a figura de São Jorge]. Ao invés disso, eles viverão para o resto de suas vidas sabendo que foram parte de uma ação que matou um homem inocente".

Yasmin Khan, uma advogada que chefia a campanha Para Justice4Jean, os trechos que aparecem na imprensa enfatizam "o relacionamento evasivo que Ian Blair sempre teve com a verdade e esses resumos enfatizam isso. Ele parece que tentar reescrever a história porque muitas coisas que diz vão contra o que o jurado do caso afirmou", afirmou.

Blair escreve que "os agentes estavam atentos quando ele (Jean Charles) continuou caminhando na direção deles, com as mãos diante de si". Mas em um questionário revelado durante o caso de Jean Charles, em dezembro, mostra que o jurado concordou em reconhecer que Jean Charles não se moveu na direção dos policiais antes de ser morto. Este é um ponto crucial na história , já que os agentes disseram que isso tinha sido o fator principal para que disparassem.

Yasmin afirmou que os pais de Jean Charles no Brasil ainda não sabiam do livro, mas que resumos dele foram lidos por alguns parentes que ainda vivem no Reino Unido. "Estamos chocado com o modo como Blair, de alguma maneira, tenta recuperar algum tipo de respeito. Todo mundo só quer que ele fique em paz, é muito incômodo revolver todas essas coisas de novo".

Desde que renunciou am dezembro do ano passado, após o prefeito ter feito pressão para sua demissão, Blair recusou-se a falar publicamente sobre sua polêmica gestão no cargo de chefe da maior força policial de Londres. Seu livro e largamente visto como uma oportunidade de ajustar as contas em relação a seu mandato.

Nos resumos, ele também discute os atentados de 7 de julho de 2005, de 11 de setembro nos EUA e as razões que o levaram a entrar para a polícia. Ele revela que, em 11 de setembro de 2001, ele foi convocado para uma reunião, em que estava de "boca aberta", convocada por receio de que semelhante ataque ocorresse no Reino Unido. O então premiê britânico, Tony Blair, mostrou a ele os planos que deveria seguir no caso, que contavam inclusive com a interceptação da aviões civis pela Força Aérea Real.

Ele recorda também como, em 7 de julho, o secretário de assuntos internos Charles Clarke veio até ele, na Scotland Yard e gritou:"Ian, ache os filhos da puta."

Os resumos puiblicados foram uma surpresa para os antigos colegas de Blair na Scotland Yard. Até domingo à noite alguns deles ainda não tinham lido o jornal. Porém, diferente de Andy Hayman, o ex-comissário assistente para antiterrorismo que atacou a instituição, Blair ainda não fez ataques a nenhum de seus ex-colegas. Em seu livro. Hayman descrevia Blair como "distante e desinteressado" e criticava a forma como a mídia tratou o caso de Jean Charles.

Por outro lado, Blair elogia seu ex-vice e agora comissário, Paul Stephenson, dizendo que ele era "muito bem apoiado por Paul no que se seguiu ao dia 7 de julho. Também afirma que Hayman estava particularmente envolvido nos acontecimentos de então.

Fonte: The Independent