George Câmara: Professor e cidadão, todos os dias

Neste 15 de outubro, “Dia do Professor”, algumas reflexões nos chegam: considerando esse novo período que se inaugura no Brasil a partir de ano de 2002, com a eleição de um governo que interrompe a agenda neoliberal de desmonte do Estado e abre caminho para um novo ciclo histórico de desenvolvimento nacional, qual o papel destinado àquelas pessoas a quem a sociedade delega a nobre missão de formar cidadãos?

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Por acaso alguma nação avançou em seu processo histórico sem elevar o nível da educação oferecida ao seu povo?

Nesse quesito nosso país ainda ostenta vergonhosos indicadores sociais. Quase vinte por cento de índice de analfabetismo, numa população que se aproxima dos duzentos milhões de habitantes, num território de dimensões continentais, contando com as potencialidades do Brasil, não é uma constatação fácil de aceitarmos.

Olhemos para nossos vizinhos da América Latina: Cuba erradicou o analfabetismo em 1962. Venezuela, em 2005. Bolívia e Nicarágua, em 2009.

A universidade brasileira, produto da inteligência de nosso povo, tem negado, de forma injustificável, o acesso desse mesmo povo aos corredores do saber. Para usar as palavras de um amigo professor, “sob a orientação dessa elite, o Brasil perdeu a capacidade de formar capacidades”. É inaceitável que tenhamos menos doutores do que o Chile, país da América do Sul que, respeitado o seu valoroso potencial, não alcança as dimensões do Brasil.

O conhecimento que liberta e que, ao lado do trabalho digno, eleva o grau de cidadania de um povo, tem se revelado como um sonho distante aos filhos deste solo. A nossa pátria mãe gentil tem sido levada, pela elite subserviente, a percorrer outro caminho: negar aos brasileiros o direito à educação de qualidade.

Essa herança, patrocinada por inúmeros governos formados pela elite letrada branca, parece não ser obra do acaso. Está mais para algo deliberado, a sugerir as verdadeiras intenções: para impor a aceitação de tamanhas desigualdades na sociedade brasileira, somente com o embrutecimento do povo. É a velha máxima da combinação entre as duas misérias: a fome e a ignorância. Esse é o produto de mais de quinhentos anos de dominação. A dívida social no Brasil, em matéria de educação, é o legado da vergonha.

E agora, o que fazer? Qual a agenda que a sociedade brasileira deve pautar na atual quadra histórica? Romper com as desigualdades e construir um novo rumo para o Brasil são tarefas que demandam múltiplos esforços. Inalcançáveis, se não formos capazes de envolver os principais interessados, os verdadeiros credores dessa dívida social: a parcela excluída, o povo trabalhador.

Qual o principal instrumento capaz de tornar possível esse sonho? O professor, como sujeito da história. Nessa gigantesca tarefa, nossos professores não estão sozinhos. Contam com a parceria consciente de milhões de brasileiros, que não suportam mais a espera por promessas vazias de uma elite ultrapassada.

Para cobrar essa dívida, é preciso combinar a capacidade de estudar com a disposição de lutar pela transformação social. Sem valorizar o professor, como profissional e como cidadão, não será possível construir um novo país, com dignidade para o povo e edificando as bases para um futuro de justiça e de cidadania.

Mais do que nunca cada um de nós está chamado a ser, todos os dias, professor. E cidadão!

por George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB – georgemetropole@yahoo.com.br