Representante dos EUA na OEA encobriu torturadores
Lewis Amselem, o chefe da delegação norte-americana perante a OEA que qualificou de "irresponsável" e "idiota" o regresso do Presidente Manuel Zelaya ao seu país, foi denunciado, há anos, por ter encoberto os indivíduos, um deles de nacionalidade estadunidense, que torturaram e violaram uma freira norte-americana na Guatemala.
Por Jean Guy Allard, para o Informação Alternativa
Publicado 05/10/2009 20:48
No dia 2 de novembro de 1989, Dianna Ortiz foi sequestrada, ultrajada e torturada por elementos das forças de segurança da Guatemala vigiados por um cidadão norte-americano.
Desde então, Ortiz tem tentado, incansavelmente, obter do governo dos EUA reabrir os processos de todos aqueles que foram vítimas de actos brutais na Guatemala no período das ditaduras pró-EUA.
"O retorno do presidente Zelaya às Honduras é irresponsável e idiota e não serve nem os interesses do seu povo nem àqueles que procuram o restabelecimento pacífico da ordem democrática nas Honduras", declarou Lewis Amselem, com uma arrogância correspondente ao seu papel de representante alterno dos Estados Unidos perante a Organização dos Estados Americanos.
Amselem esteve na Guatemala como "Oficial dos Direitos Humanos" da Embaixada dos EUA na época do governo de Vinicio Cerezo, um governo civil sob o qual o exército continuava a combater de forma selvagem a guerrilha. Cerezo foi criticado pela sua inércia perante os casos de violações de direitos humanos.
Por coincidência, 1989 é o ano em que o agente da CIA e terrorista de origem cubana Luis Posada Cariles passa à Guatemala, onde lhe é fabricada uma cobertura de chefe de segurança da companhia telefônica estatal Guatel. O presidente Vinicio Cerezo outorgar-lhe-á poderes especiais que o transformarão praticamente num gangster. São-lhe atribuídos durante esse período toda uma série de execuções, sequestros, fraudes e ajustes de contas.
Uma fossa cheia de cadáveres
Dianna Ortiz era freira das Irmãs Ursulinas quando decidiu consagrar-se aos mais humildes, ao ir para a América Central com outras irmãs, consagrando-se a trabalhar como enfermeira em pequenas aldeias indígenas. Cedo recebeu ameaças anónimas acusando-a de cumplicidade com a guerrilha e ordenando-lhe que se fosse do país.
Segundo o seu relato dos acontecimentos daquele dia de novembro de 1989, dois homens capturaram-na num jardim de um centro comunitário e levaram-na num carro de polícia não identificado para a Antiga Escola Politécnica, uma academia militar da Cidade de Guatemala.
Iniciou-se um horrível interrogatório no decurso do qual Dianna Ortiz foi queimada mais de 100 vezes com cigarros e violada repetidamente pelos seus torturadores, que lhe ordenavam identificar "subversivos". Tantos foram os maus tratos que a mulher desmaiou.
Segundo o relatório publicado em 1996 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Dianna Ortiz "num dado momento recuperou o conhecimento e comprovou que a tinham atado pelos pulsos a um arrimo por cima da sua cabeça. Pareceu-lhe que estava num pátio. Então ela sentiu que várias pessoas moviam uma lousa pesada no solo. Baixaram-na a um fosso cheio de corpos. Voltou a desmaiar. Quando acordou estava no solo e os homens tinham começado outra vez a abusar dela sexualmente".
A interminável sessão de tortura foi interrompida quando chego uma personagem, que disse chamar-se Alejandro, que explicou que a tinha confundido com uma líder da guerrilha chamada Verónica Ortiz Hernández.
Enquanto "Alejandro" a levava no seu Jeep para a "casa de um amigo da embaixada", Dianna escapou-se aproveitando uma paragem num semáforo.
Um resíduo dos Bush
O que se ia seguir, nos anos seguintes, foi um verdadeiro calvário para a mulher já destruída por esta infernal experiência.
O ministro guatemalteco da Defesa Hector Gramajo disse publicamente que Dianna Ortiz tinha inventado a sua história, acrescentando insultos e insinuações infamantes de carácter sexual.
Investigando o assunto, repórteres da cadeia de televisão ABC identificaram a fonte destes rumores degradantes. Provinham do Oficial de Direitos Humanos Lewis Amselem que, ao ser interrogado, negou veementemente qualquer envolvimento.
O Reverendo Joseph Nangle, da Comunidade de São Francisco, revelou mais tarde que Amselem falou perante ele do assunto, com uma grosseria que o escandalizou.
Outras confidencias de pessoas que conversaram então com o diplomata estadunidense confirmaram os comentários de Nangle e acrescentaram que Amselem multiplicava as referências injuriosas para com a presença de voluntários religiosos em comunidades indígenas da Guatemala.
No dia 16 de Outubro de 1996, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, baseando-se na informação apresentada e na sua investigação e análise do caso, reconheceu a veracidade das declarações de Dianna Ortiz e condenou o Governo da Guatemala.
No entanto, os Estados Unidos, o seu embaixador Thomas F. Stroock e o funcionário Amselem, que constantemente obstaculizaram a investigação, não são mencionados pelo documento.
Em 1995, um tribunal norte-americano condenou Hector Gramajo a pagar 47 milhões de dólares a Dianna Ortiz e outras das suas vítimas.
Amselem foi um diplomata que desfrutou as administrações Bush e que ficou como resíduo, como muitos outros elementos de ultra-direita, na atual administração Obama.