George Câmara: Da janela da Metrópole
Uma janela pode nos convidar a duas coisas: a contemplação passiva ou a curiosidade ativa. Uma metrópole também nos coloca diante de outra encruzilhada: sombrias ameaças ou alvissareiras oportunidades. Esperar pelo cenário tendencial e contemplar o caos, ou apostar num novo cenário, o desejado. E construí-lo, consciente e coletivamente.
Publicado 25/09/2009 10:15 | Editado 04/03/2020 17:08
A geração que vivenciou a dupla condição, ao mesmo tempo, de testemunha e herdeira do desmonte neoliberal, ao constatar hoje suas consequências no contexto das cidades brasileiras, não tem o direito de ser apenas expectadora. Não mais. O ambiente conquistado nos últimos sete anos, com a rica experiência de luta do povo brasileiro, nos permite avançar e ousar. A cidade mais humana não será obra do acaso, mas o resultado de nossa própria capacidade criadora.
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA – somos uma aglomeração urbana de caráter não metropolitano, polarizada por centro regional. Com oitocentos mil habitantes, Natal lidera um território com população de um milhão e trezentos mil, distribuída em dez municípios. Se compararmos com outros centros urbanos pelo Brasil afora, veremos que a caracterização do IPEA, fundamentada nestes e em outros números, expressa fielmente nossa realidade.
Isso quer dizer que, em matéria de infraestrutura urbana, ainda é possível evitar o pior. Ainda podemos fazer algo para redirecionar uma tendência que, no caso de outras experiências no Brasil e em diversos países, tem transformado o espaço urbano em verdadeiro caos. O tempo não pára. As gerações futuras haverão de nos cobrar pelo fracasso ou de nos reconhecer pelo êxito nessa tarefa.
De dentro dessa metrópole em formação e a partir dessa janela, o olhar não consegue resistir à tentação: no horizonte, um grande e belo país. Paisagem sem igual. Oportunidades de causar inveja. Extraordinária combinação que, num paradoxo, abriga em seu ventre um gigante pela própria natureza, porém adormecido em berço esplêndido. Não o do hino, mas o outro, o da letargia que só beneficia os inimigos da pátria.
Na ordem econômica a defesa da soberania, duramente vilipendiada nas duas últimas décadas do século passado: a perdida e a maldita, 1980 e 1990 respectivamente. A nova direita brasileira, dirigida pelo capital financeiro, provocou grandes estragos. Pretendia governar por vinte anos, mas o povo disse não.
Em nosso livro “Da janela da metrópole”, com lançamento neste 30 de setembro, expressamos olhares e opiniões que palpitam da cidade à região, que não se curvam à passividade quando o assunto é a gestão pública de Natal. Olhar crítico, opinião sincera. Ponto de vista que pode contrariar interesses, mas é de boa vontade e de boa fé, na medida em que procura o caminho do interesse público.
Além de um ensaio sobre a experiência do Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, apresentamos artigos de ontem e de hoje que precisam ser relativizados pelos condicionamentos do lugar e do tempo. Subordinados, portanto, a duas ciências mães: a Geografia e a História.
Nas páginas dessa viagem muitas lembranças e alguns registros. Grandes exemplos, muitas lições. Nosso desejo é compartilhar tais experiências com pessoas que desconhecem a indiferença. Delas, é feito o futuro.