"Por que mentir sobre acordo militar?"
As novas bases militares colombianas expandiram a esfera de influência estadunidense para uma ampla região da Amazônia brasileira. Elas completam as posições da IV Frota Naval dos EUA, no Oceano Atlântico. Não há coincidência na simultaneidade dessa mobilização armada com a divulgação dos imensos potenciais das reservas do pré-sal.
Por Guilherme Scalzilli*, em seu blog
Publicado 14/09/2009 12:44
Há anos o Brasil pleiteia uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. A absurda ausência do país tem o histórico patrocínio dos EUA, que não querem dividir esferas de influência na América Latina. A pretensa necessidade da tutela de Washington nasce da insuficiência material de nossas Forças Armadas.
Elas são realmente obsoletas e virtualmente inúteis. Os oficiais vomitam elogios à ditadura, enquanto o ministério da Defesa responde com afagos modernizadores. É necessário rever a impunidade dos torturadores e assassinos do regime militar, mas também fornecer condições materiais para que as Armas cumpram seu papel na manutenção do Estado de Direito.
Por menos democrático que pareça, nenhum governo do planeta divulga as minúcias de negociações militares. A transferência de tecnologia é imprescindível para compras da proporção que o país necessita. Ela sempre foi recusada pelas empresas norte-americanas, que só agora acenam com um recuo, ainda assim parcial e condicionado.
O poder de persuasão dos lobbies da indústria bélica é inimaginável, e vai muito além das simples (e já por si irrecusáveis) ofertas financeiras. Deve-se acompanhar com muito zelo a participação de jornalistas, “especialistas” e políticos nesse debate.
Por que de repente surgiram tantos defensores da Boeing e da Lockheed na imprensa nacional? Por que as análises insistem em evitar discutir os tais “méritos” da opção pela concorrente francesa? Por que, afinal, uma discussão de tamanha complexidade tem sido tão flagrantemente manipulada pelo noticiário?
*Guilherme Scalzilli é Historiador e escritor. Colabora regularmente com a revista Caros Amigos, o Le Monde Diplomatique, o Observatório da Imprensa e outros veículos.