Kirchner x Clarín: o que está por trás da disputa na Argentina
O grupo de comunicação Clarín — que se insurgiu contra uma operação da Receita Federal argentina, realizada nesta quinta-feira (10) na sede da empresa — é diretamente afetado pelo projeto que regula as comunicações, enviado ao Congresso daquele país pela presidente Cristina Kirchner.
Publicado 11/09/2009 17:28
Desde o envio do projeto, nos últimos dias, aumentou a temperatura do confronto entre os principais conglomerados da mídia, como o Clarín, e o governo Cristina Kirchner. “Esse confronto já era previsível”, afirma o jornalista Denis Moares, professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em entrevista por telefone a Paulo Henrique Amorim, Denis Moraes, autor do livro A Batalha da Mídia — Governos Progressistas e Políticas de Comunicação na América Latina, ressaltou que o projeto do governo muda radicalmente a concentração da mídia na Argentina. A proposta, de 21 pontos, foi elaborada a partir da discussão com empresários, trabalhadores da comunicação, mães da Praça de Maio e empresários do setor, entre outros grupos sociais envolvidos. As audiências populares, em várias ocasiões, foram presididas pela própria Cristina Kirchner.
Entre as medidas propostas, há a proibição de um mesmo grupo empresarial concentrar atividades nos diferentes meios de comunicação — jornal, rádio, TV, revistas e internet, além da limitação ao número de emissoras de TV e rádio que cada grupo poderá manter. Para Denis de Moraes, essa legislação põe em confronto o grupo Clarín, mais poderoso conglomerado de mídia da Argentina, e o governo federal. “O objetivo do Clarín é desestabilizar os Kirchner e fazer com que volte ao poder um grupo de centro-direita.”
O objetivo do Clarín, como da grande mídia argentina é desestabilizar os Kirchner, fazer que volte ao poder um grupo de centro-direita, diz Moraes. Segundo ele, a legislação enviada ao Congresso é parecida com a que vários governos da região fizeram para enfrentar a grande mídia, como nos casos do Equador, Bolívia, Venezuela, e, de forma mais suave, os governos de esquerda moderada do Uruguai e do Chile.
O Brasil destoa dessa tendência latino-americana. Segundo Denis Moraes, o governo Lula parece “temer a artilharia midiática” e não teve visão estratégica. O Brasil, diz ele, está na retaguarda da América Latina. “Nossa legislação sobre TV comunitária do Brasil é a mais atrasada do continente.”
Da Redação, com informações do Conversa Afiada