Revista The Economist quer dar lições a Lula
A “bíblia” do capitalismo, a revista semanal The Economist, editada em Londres desde setembro de 1843, resolveu semana passada dar orientações e prescrever uma linha política e econômica ao governo Lula. A capa da edição com data de 15 a 21 de agosto, pergunta: “De que lado está o Brasil?” e estampa uma foto de corpo inteiro de Lula – feliz da vida — vestindo uma camisa vermelha, tentando dominar uma bola de futebol num campo verde, sob um fundo amarelo ouro.
Por Pedro de Oliveira
Publicado 25/08/2009 17:13
No editorial, a revista passa a idéia de que os brasileiros e Lula em particular — vivem um grande momento em sua história – onde o “gigante adormecido” passou a ser citado como um dos cinco ou seis países do mundo que têm protagonismo para o século 21. Diz a Economist que nenhuma reunião de cúpula que se realize hoje no mundo poderia prescindir da presença do Brasil e do seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal de contas, cita a revista, “Ele é o cara” já disse Barack Obama numa reunião do G-20, enquanto Fidel Castro se referiu ao presidente brasileiro como “meu irmão Lula”.
Esta situação privilegiada é debitada pela revista ao período de “estabilização” econômica colocada em prática por Lula e – pasmem – por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Os editores esquecem que FHC deixou o país em 2002 à beira do abismo econômico. “O Brasil foi entre as dez principais economias do Planeta a última a entrar em recessão, e aparece agora como uma das primeiras a sair dela”… Afirma o editorial, para depois lembrar que foi a Goldman Sachs que caracterizou o grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China como o BRIC – que segundo eles dominarão o mundo por volta de 2050. Nesta ocasião, lembra a revista, houve quem desconfiasse que o Brasil tivesse musculatura para pertencer a tal grupo.
A coragem de Lua, segundo a Economist
Lula ao tomar posse em 2003, continua a revista inglesa, “mostrou coragem política assumindo políticas responsáveis, ignorando posições à esquerda de seu próprio partido para suspender o pagamento da dívida externa, por exemplo. Seu instinto de racionalidade econômica o teria transformado de “protecionista” em “campeão do livre-mercado”. Por outro lado a revista reconhece que sua política social foi ousada e que com isso retirou cerca de 13 milhões de pessoas da pobreza, diminuindo as desigualdades de renda. Aqui o editorial passa a atacar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dizendo que apesar de Lula ostentar altíssimos índices de aprovação da opinião pública – não tentou mudar a Constituição da república para concorrer a um terceiro mandato.
O sucesso em casa, garante a Economist, deu oxigênio a Lula de estruturar uma ambiciosa política externa – que pretende projetar o Brasil como grande potência, liderando a América latina e se articulando com outras potências médias como a África do Sul e os BRICs, assim chamados. Neste ponto a revista tenta dar um cheque-mate nas pretensões de Lula, perguntando com quem o país quer efetivamente se aliar, afirmando que o Brasil tem posição ambígua por exemplo em sua atuação no âmbito da Organização Mundial do Comércio, quando perdeu o apoio importante da Índia na tentativa de retomar a Rodada de Doha. Mesmo assim, a revista acaba elogiando Lula quando propõe uma reestruturação das instituições internacionais, para que se adapte às novas condições de poder mundial. Mas em seguida critica a posição brasileira sobre direitos humanos e democracia – acusando o país de se alinhar sistematicamente com Cuba e China, países que segundo a revista se desrespeita os direitos humanos. E mais ainda, continua o ataque, lembrando que Lula foi um dos primeiros dirigentes mundiais a parabenizar o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, pela sua vitória eleitoral.
“Contradições” de uma grande potência
Por fim, a revista londrina se mostra admirada que uma potência como o Brasil tenha renunciado à utilização de armas nucleares, apesar segundo ela de os brasileiros não terem assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear, impedindo que inspetores de um organismo internacional de controle visitassem as instalações onde se constrói o submarino nuclear brasileiro. A revista alerta Lula que se o país passar a compor o Conselho de Segurança da ONU rotativamente em janeiro próximo, terá que decidir entre apoiar ou condenar as pretensões nucleares do Irã.
A Economist afirma que em todos estes aspectos contraditórios existe subliminarmente um “anti-americanismo” na posição do Brasil, numa região do mundo onde os “Ianques” estão em declínio em matéria de influência política. Novamente passam a acusar Hugo Chávez de ser o mentor da instauração de uma “Nova Guerra Fria” no subcontinente, ao acusar a Colômbia de permitir a instalação de bases militares em seu território. Seria o caso de perguntar aos editores ingleses se não são exatamente os Estados Unidos — que com a reativação da Quarta Frota, com as bases na Colômbia e com a derrubada do presidente eleito de Honduras (onde se poderiam instalar outras bases) – os maiores interessados em desestabilizar governos democráticos e populares em quantidade e qualidade como nunca se viu na história da América Latina?