Correa inicia 2º mandato para radicalizar revolução
O presidente equatoriano, Rafael Correa, inaugura hoje um novo mandato de quatro anos com a promessa de ''radicalizar a revolução bolivariana''. Em seu primeiro mandato, ele multiplicou os investimentos em programas sociais, renegociou mais de um terço da dívida externa e foprçou petroleiras estrangeiras a modificar seus contratos para ampliar os ganhos do Estado.
Publicado 10/08/2009 17:49
Antecedido por três presidentes que não conseguiram concluir seus mandatos, Correa pôs fim a dez anos de deposições, instabilidade, revoltas indígenas e desencanto com a democracia no Equador.
Em 2005, um ano antes de Correa assumir a presidência, apenas 43% dos equatorianos apoiavam a democracia, segundo o instituto Latinobarometro. Com sua ascensão, o índice subiu para 54% e, no fim do primeiro ano de mandato, atingiu 65%.
''Foi um fenômeno único na região'', disse ao Estado a diretora do Latinobarometro, Marta Lagos. ''O primeiro mandato de Correa marcou as pazes entre os equatorianos e a democracia, depois de uma década absolutamente turbulenta no país.''
Quando assumiu, Correa prometeu acabar com o que chamou de partidocracia, redefinir as relações internacionais de seu país e combater a corrupção no congresso. Dois anos e meio depois, sua força política, a Aliança País, desbancou os partidos tradicionais, o Equador rompeu com seu alinhamento histórico com Washington – o país não renovou a permissão para que os Estados Unidos continuasse utilizando uam base militar em seu território – e a chamada Assembleia Legislativa substituiu o antigo poder legislativo.
Neste novo mandato, ele assegura que as prioridades já estão definidas há tempos: ''os pobres, os jovens e nossos povos ancestrais''.
No decorre do mandato, Correa perdeu o apoio de alguns setores indígenas e sindicais por ter autorizado a extração de minérios em grande escala. Mas ele mantém o índice de popularidade acima dos 50%.
A data escolhida para sua posse não foi casual. Hoje se festeja no país andino o bicentenário da independência. Além disso, a cidade de Quito abrigará, nesta segunda, uma nova cúpula da Unasul (União de Nações Sulamericanas), da qual Correa receberá a presidência pro tempore.
A grande maioria dos presidentes da região, portanto, estará em Quito, incluindo Manuel Zelaya, o presidente deposto de Honduras. O governante da Colômbia, Alvaro Uribe será uma das poucas exceções. Em março do ano passado, o Equador rompeu relações com Bogotá, após a Colômbia violar a soberania territorial ao atacar um acampamento das Farc.
Cerimônia indígena
Na véspera da sua posse, Correa viajou a La Chimba, 70 km ao norte de Quito, para uma cerimônia de purificação indígena, na qual aceitou um cajado de comando, feito de madeira.
Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, e Rigoberta Menchu, guatemalteca indígena vencedora do Prêmio Nobel da Paz, estavam ao lado do presidente do Equador.
Vestindo um poncho vermelho, Correa pediu ao povo indígena apoio pacífico para ajudar a ''radicalizar'' seu governo, ignorando ''balas e botas''.
Na cerimônia, Menchu disse que é necessário que ''existam de verdade na América Latina os Estados plurais, que reconheçam a diversidade e a promovam, pois só assim entenderemos também a diversidade natural de nossa mãe terra'', disse.
Já Morales lembrou que, ao longo da história, ''existiram impérios que tentaram o extermínio dos povos indígenas'' e que ainda hoje se trava ''uma batalha permanente contra novos impérios, que querem impor políticas alheias a nossas vivências''.
''Mas os povos indígenas nunca morreram apesar dessas políticas de extermínio. Estamos trabalhando unidos e organizados'', assegurou o presidente boliviano entre o aplauso dos presentes ao assinalar que ''há impérios, grupos e famílias que não querem deixar seu poder político e econômico''.
Por fim, Correa, que fez a primeira parte de seu discurso na língua indígena quíchua, convocou o povo equatoriano a levantar uma nova bandeira ''de esperança'' e um novo hino ''à alegria, à solidariedade, ao amor repartido por igual entre todos em nome de uma nova democracia''.
Com agência