Obama mantém medidas de Bush contra imigrantes
Depois das promessas iniciais do presidente Barack Obama de moderar a postura dura do governo Bush no que tange à repressão de imigrantes ilegais, a sua administração adoptou uma estratégia agressiva de combate à imigração ilegal, que em larga medida aproveita programas iniciados sob o seu predecessor.
Por Julia Preston, para o The New York Times
Publicado 06/08/2009 16:52
Uma recente campanha de medidas repressivas despertou hostilidade entre as organizações de defesa dos imigrantes e muitos partidários hispânicos de Obama, e começou uma campanha nacional contra elas através de pequenos protestos de rua em Los Angeles e Nova York, na semana passada.
O governo recentemente empreendeu auditorias dos registros de emprego em centenas de empresas, expandiu um programa para verificar o estatuto de imigração de trabalhadores que recebera críticas pelas suas falhas no passado, reforçou os esforços de cooperação entre agências policiais federais e locais, e rejeitou propostas para implementar regras definidas para os centros de detenção de imigrantes ilegais.
"Estamos expandindo as medidas de repressão, mas creio que da maneira certa", disse Janet Napolitano, secretária da Segurança Interna, em entrevista.
Napolitano e outros funcionários do governo afirmam que são necessárias medidas diretas de repressão à imigração ilegal, a fim de persuadir os trabalhadores americanos a aceitar leis que legalizariam a situação de residência de milhões de imigrantes sem documentos, uma medida que, afirmam, Obama ainda espera propor no final deste ano ou começo de 2010.
A abordagem adotada conduz Obama a uma posição semelhante à defendida pelo seu adversário republicano, o senador John McCain, do Arizona, na campanha presidencial do ano passado, que Obama rejeitou, na época, como rígida demais para com as comunidades latina e de imigrantes. (McCain não atendeu a pedidos de comentar a questão.)
Agora, a estratégia de repressão causou uma cisão política com alguns grupos de defesa dos imigrantes e hispânicos, cujos votos foram essenciais para a vitória de Obama.
"Os nossos sentimentos são, na melhor das hipóteses, contraditórios", disse Clarissa Martinez de Castro, diretora de imigração no Consejo Nacional de la Raza, que aderiu às críticas, dirigidas primordialmente a Napolitano. "Compreendemos a necessidade de medidas sensatas de fiscalização, mas isso não deveria incluir a expansão de programas que muitas vezes resultaram em violações de direitos civis".
Sob o comando de Napolitano, as autoridades deixaram de lado as frequentes buscas em massa que o governo Bush promovia em fábricas, com o objetivo de deter imigrantes sem documentos. Mas os processos criminais federais contra delitos de imigração na verdade aumentaram este ano, de acordo com um estudo do Transactional Records Access Clearinghouse, um grupo apartidário que estuda dados do governo. Em abril, houve 9.037 processos relacionados à imigração nos tribunais federais, ou 32% a mais do que em abril de 2008, constatou a organização.
Napolitano declarou na entrevista que não abandonaria de vez as fiscalizações da imigração, como sugeriram alguns legisladores hispânicos. "Continuaremos a aplicar a lei e a procurar maneiras efetivas de fazê-lo", disse. "É esse o meu trabalho".
Napolitano, que quando governadora do Arizona entrou em conflito com congressistas republicanos que propunham medidas mais severas contra a imigração ilegal, afirmou que procurava maneiras de tornar menos rígidos alguns dos programas herdados do presidente Bush. Ela deseja também concentrar as ações contra imigrantes sem documentos nos membros de gangues e criminosos, e nos patrões que rotineiramente contratam imigrantes sem documentos com o objetivo de explorá-los.
As autoridades de imigração deram início a auditorias dos documentos de contratação de trabalhadores em mais de 600 empresas em todo o país. Caso um empregador apresente um padrão de contratação frequente de imigrantes cujos documentos não possam ser confirmados, disse Napolitano, uma investigação criminal poderia vir a seguir.
O governo Obama recebeu apoio de um importante democrata, o senador Charles Schumer, de Nova York, à sua política de imigração. Schumer preside o subcomitê de imigração no Comitê Judiciário do Senado, e será o relator de um projeto de reforma das leis de imigração que vai ser debatido este ano.
Schumer declarou em entrevista que os democratas precisam "convencer o povo americano de que não haverá novas ondas de imigrantes ilegais" depois de a reforma na imigração ser aprovada.
Os republicanos que se opõem a qualquer legalização na situação dos imigrantes sem documentos declaram-se nada impressionados com as novas medidas.
"Depois de 20 anos de promessas não cumpridas, serão precisos mais que gestos simbólicos", disse o deputado Brian Bilbray, republicano da Califórnia que preside um grupo de representantes do seu partido que combatem a imigração ilegal.
Michael Olivas, professor de leis de imigração na Universidade de Houston, afirma que os defensores da causa hispânica estão irritados pelas medidas de fiscalização mais severas adoptadas pelo governo porque viram parcos sinais de que o governo esteja a avançar de maneira calculada na direcção de um projecto de reforma da imigração.
"O que temos agora é literalmente o pior dos mundos possíveis", declarou Olivas.
Fonte: Portal Terra