Filha de Glênio Sá homenageia pai aos 19 anos de sua morte
No dia 26 de julho de 1990, o comunista e dirigente Glênio Sá perdia a vida num acidente de carro no Rio Grande do Norte, juntamente com seu companheiro de partido, Alirio Guerra. Glênio fora guerrilheiro no Araguaia, preso pelos militares em 72 e libertado apenas em 75. Em 90, percorria seu estado para fazer sua campanha para senador. A filha, a jornalista Jana Sá, escreveu um breve relato para lembrar da dedicação comunista de Glênio, um dos mais destacados dirigentes da história do PCdoB.
Publicado 06/08/2009 14:22
Glênio Sá: O tempo passa, mas a memória permanecerá viva em nossos corações!
Por Jana Sá*
Escrevo hoje com a mesma dor de quem escreveu em seu diário há 19 anos: Painho, agora que sei que sua casa é no céu, queria pedir para jogar uma estrela como presente. E porque não dizer com a mesma saudade. Como define Pablo Neruda, a saudade é amar um passado que ainda não passou e recusar um presente que nos machuca.
A única diferença que o tempo me coloca é o verso. Quem não se lembra do poema de Bertold Brecht sobre os que lutam um dia, um ano ou até anos a fio? São bons, muito bons, alguns melhores. Mas imprescindíveis são os que lutam a vida toda. Do exemplo da vida à militância, são homens imprescindíveis como o meu Pai, Glênio Sá, que conferem consistência histórica aos partidos portadores de um programa revolucionário, como o Partido Comunista do Brasil.
Não rara vezes, pedem-me para falar de Glênio Sá. Dizem conhecê-lo como líder político, mas têm a curiosidade de saber um pouco mais dele como homem, da sua vida. Como filha, tenho as melhores recordações. Era um pai carinhoso, brincalhão, amável. Tenho do meu pai a lembrança de uma pessoa muito doce, calma, calada e presente. Sempre que falo ou penso nele me vem a sua imagem sorrindo. Seu aspecto era o de uma pessoa que sabia seu papel na vida e vivia como se tivesse ainda todo o tempo do mundo pela frente.
Possuía a coragem e a paciência de quem fez uma descoberta de vida na vivência do sofrimento e a internalizou definitivamente como sabedoria. Aqueles que o conheceram mais de perto sabem que era de um temperamento afável no trato com as pessoas, um homem de muita compreensão com o lado humano.
Homem de Partido era arguto e ágil no pensar e no agir. Incansável, infundido confiança, jamais se dobrou às dificuldades, nunca temeu sacrifícios e riscos nem pensou em si mesmo ou em comodidades. Nem podia, como verdadeiro comunista não escolhia tarefas. Estava disposto a realizar qualquer missão designada pelo PCdoB.
No combate à Ditadura Militar, empenhou-se para que o Partido estivesse à altura de cumprir seu papel, e para que nós pudéssemos viver em democracia e desfrutássemos das liberdades individuais e sociais conquistadas.
Impossível terminar sem a saudação tão entranhadamente latino-americana: Camarada Glênio Sá, presente! Agora, e sempre!
* Jornalista, filha do guerrilheiro Glênio Sá