Folha lança campanha pelo fechamento da TV Brasil
Como sempre, a Folha de S.Paulo e a mídia hegemônica não dão ponto sem nó. A reportagem da Folha sobre a crise na EBC, publicada nesta quinta-feira (30) sob o título “Tela Fria”, não era desinteressada e muito menos procurava informar os acontecimentos envolvendo as renúncias de membros do conselho curador da EBC e as dificuldades de implantação da rede pública de televisão no país, como ficou explicito no editorial desta sexta, "TV que não pega".
Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a Palavra
Publicado 31/07/2009 15:37
O jornal dos Frias lança descaradamente a campanha pelo fechamento da TV Brasil. “Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada — antes que se desperdice mais dinheiro do contribuinte”.
Para chegar a tal veredicto, o jornal enumera os problemas da EBC: perdeu seis dos 15 conselheiros originais de um conselho nomeado pelo presidente Lula, exíguo alcance do canal, saída de três diretores vinculados ao Ministério da Cultura, cabide de empregos, o anúncio de Belluzo dizendo que entregará o cargo na presidência do conselho, irrelevância técnica, alcance restrito na rede aberta, criada por medida provisória e não por projeto de lei.
A quem interessa o fracasso da TV Brasil
Desde que setores do governo e da sociedade começaram a se movimentar pela criação de uma rede pública de televisão, os empresários do setor da radiodifusão e de toda a mídia hegemônica torceram o nariz. Afinal, criar um veículo de comunicação que não esteja ancorado nos valores e interesses do mercado e que poderia se constituir num contraponto ao que é veiculado nas emissoras comerciais seria abrir uma brecha no monopólio midiático que impera no país.
Desde 2007, quando foi lançada, a mídia tenta desqualificar a iniciativa, seja a partir de factóides, seja a partir de problemas reais que a iniciativa enfrenta.
Recuperar o projeto original
Os movimentos sociais e de luta pela democratização da comunicação participaram ativamente do 1º Fórum de TV’s Públicas, realizado em agosto de 2007 e, desde muito antes, já encampavam a campanha pela criação de uma rede pública de televisão no Brasil.
Dos debates à implantação efetiva da Empresa Brasil de Comunicação, ficaram pelo caminho muitos aspectos fundamentais para garantir o caráter público da TV, para tornar efetiva a participação da sociedade nas discussões das diretrizes de gestão, programação e fiscalização através do conselho curador, para superar as dificuldades na diversificação das receitas orçamentárias, para agregar outras emissoras na composição da rede, entre outras.
Esses problemas precisam ser enfrentados para garantir que o projeto original de construção de uma TV pública seja efetivado. Ou seja, uma TV que contribua para a universalização dos direitos à informação, comunicação, cultura, educação e outros direitos humanos e sociais, que expresse a diversidade de gênero, étnico-racial, cultural, regional e social do Brasil e que esteja ao alcance de todos.
Em vários momentos, os movimentos sociais têm apontado suas críticas à forma como o projeto vem sendo implantado. Um dos graves erros cometidos pelo governo foi a nomeação de um “conselho de notáveis” com pessoas que pouca ou nenhuma relação têm com os movimentos sociais organizados ou com as discussões sobre a comunicação no Brasil. Ter personalidades no conselho não é um problema em si, mas conferir um caráter emblemático a um conselho que tem papel nevrálgico na constituição de uma rede pública — num país que nunca experimentou tal modelo — foi um erro crasso.
Erro que foi potencializado pela exclusão das entidades do movimento social brasileiro desse organismo que deveria ser o dínamo da construção de uma rede de fato pública.
Não vamos jogar a água suja do balde com a criança dentro!
Com todos esses e tantos outros problemas que de fato precisam ser enfrentados, alguns de solução mais rápida, outros nem tanto, a luta pela democratização da comunicação do Brasil não pode prescindir de uma rede pública de televisão.
É preciso pressionar e mobilizar a sociedade para apontar os erros cometidos, mas volto a repetir — apenas aos empresários da mídia hegemônica que não querem ver o seu monopólio ameaçado interessa o fracasso da TV Brasil.
Neste momento, é preciso compreender que a bandeira é a da defesa da EBC e da TV Brasil, defesa esta que se faz de forma crítica e propositiva. Diante dos ataques, precisamos fazer uma defesa determinada.