Caberá à China salvar o capitalismo em 2009?
Há um dito que tem circulado na internet: Em 1949, só socialismo poderia salvar a China; em 1989, só a China poderia salvar socialismo; e em 2009, só a China pode salvar capitalismo. Assim começa um artigo publicado no Diário do Povo Online, vers
Publicado 29/06/2009 00:57
Nos Estados Unidos, que fica na margem oposta do Pacífico, circulam comentários surpreendentemente similares . A revista Newsweek afirmou em sua capa que ''agora somos todos socialistas.''
Os Estados Unidos são um país socialista? Absolutamente não. Mas haverá algo de socialista nas reformas do presidente Barack Obama? Tampouco.
Na campanha eleitoral, Obama foi descrito como ''socialista'' por seus adversários e chamado de ''camarada'' pelo líder cubano Fidel Castro. Recentemente, gracejando, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, pediu para os dois trabalharem juntos pelo socialismo.
Reformas de Obama como o socorro à falida General Motors e as de instituições financeiras têm uma tintura socialista. Como elas, os principais acionistas da General Motors passaram a ser o governo e os sindicatos; a marca-símbolo do espírito capitalista no país tornou-se ''uma empresa de propriedade estatal e coletiva''.
O mesmo se aplica à reforma financeira nos EUA, quando o Federal Reserve [ou Fed, banco central americano] tenta se transformar em ''supervisor máximo'' para reforçar o controle sobre as grandes empresas financeiras. Washington também planeja a criação de um departamento de proteção financeira para os consumidores e um maior poder às das instituições de controle.
Estas medidas estão em consonância com a doutrina de Karl Marx. No seu Manifesto do Partido Comunista, Marx previu a crise financeira do capitalismo. Segundo a revista Foreign Affairs, a ''receita'' de Marx ee socializar o mercado financeiro para concentrar os créditos e colocá-los à disposição do Estado, através do banco estatal, com capital estatal e monopólio exclusivo.
A reforma do sistema de saúde que Obama promove possui peculiaridades que vão além da estatização e do fortalecimento da regulação pública. Pretende estender os serviços de saúde a todos os americanos, por meio de um plano de saúde do governo, que concorrerá com os empresários do setor privado.
Diante da concorrência com o sistema de saúde pública, os planos de saúde privados se tornarão mais honestos e cobrarão menos, disse Obama. Os EUA recorrem a esforços governamentais para construir uma sociedade em que todos gozem de serviços de saúde, o que corresponde a um conceito socialista, de que todos têm o direito à subsistência.
É certo que a reforma sanitária de Obama tropeçou com uma extraordinária resistência. criou-se um bloco de forças incluindo a área médica federal e os planos de saúde privados, motivando uma vertiginosa carestia dos custos de saúde, e é quase impossível que se forme uma maioria no Congresso capaz de apresentar e aprovar um projeto que derrube esta força, um lobby formado pelo setor médico, os planos de saúde e alguns políticos. A resistência à reforma provém desse grupo e seus interesses
No entanto, a partir do último dia 10 Obama começou a buscar apoio para seu plano, dando palestras em sedes de prefeituras, trocando opiniões com as massas populares e mobilizando cerca de 2 milhões de americanos de baixa renda para um debate em nível nacional.
Obama tratou de aproximar-se das massas populares e usar a sabedoria destas – um tipo de atitude que seria ''exclusividade'' dos países socialistas. Ao que parece, os países, tanto socialistas como capitalistas, terão êxito na medida em que valorizem o que as massas pensam, confiem nelas e trabalhem em seu benefício.
The Nation, uma revista considerada de esquerda, tem publicado vários artigos escritos por socialistas, chamando a fazer uma revolução cabal nos EUA. Chega a afirmar que ''o capitalismo está morto''.
Por sua vez, Obama considera-se um partidário do liberalismo. Sempre houve no sistema político dos EUA uma luta entre liberalismo e conservadorismo. Os conservadores são a favor do conceito de ''governo pequeno e sociedade grande'', e os liberais querem o oposto. Considera-se os conservadores como a direita e os liberais como a esquerda, incluindo-se aí os ultraesquerdistas que preferem socialismo. Na era da Guerra Fria e do macartismo, esquerdistas foram perseguidos e até hoje é uma vergonha de ser chamado de socialista nos EUA.
Passada a época de McCarthy, o termo ''socialismo'' já não é um tabu na maioria dos casos, e a obra de Marx O Capital foi adotada como disciplina obrigatória no ensino colegial. Ao se modificar os manuais tendo em vista a era pós-Guerra Fria, uma das medidas importantes no setor educacional americano visa apagar seu conteúdo ideológico.
Como realistas, os americanos já não se apegam a regras estereotipadas. O conteúdo da reforma do presidente Obama fez lembrar as declarações de Deng Xiaoping, na década de 1990, no sentido de que o mercado não significa capitalismo, o capitalismo tem plano, e o socialismo tem também mercado. Hoje, a prática dos EUA confirmou igualmente que a propriedade estatal não significa socialismo, também pode se aplicar ao regime capitalista.
Aquilo que os EUA tomavam como características socialistas tem mostrado não ser exclusividade do socialismo ou do capitalismo. Alguns conceitos pertencem a toda a humanidade e há valores partilhados pela humanidade. Tal como disse o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, a democracia, a legalidade, a liberdade, os direitos humanos, a igualdade e a fraternidade não são exclusividades do capitalismo, mas frutos da civilização formados no prolongado processo histórico de todo o mundo e também o conceitos de valores que a humanidade persegue conjuntamente.
Fonte: Povo Online (http://spanish.people.com.cn/)