Evaldo Lima – Saldanha, um certo João sem medo
O tema Copa do Mundo inspira o resgate histórico de personagens importantes para o futebol brasileiro, a exemplo de João Saldanha.
Publicado 05/06/2009 12:55 | Editado 04/03/2020 16:34
Saldanha , o “João sem medo”, foi uma das personagens mais marcantes do futebol brasileiro. Comentarista, jornalista, treinador que montou a seleção de 1970 ( as “feras do João”) mas não levou as glórias do tri . Demitido pela CBD foi substituído pelo velho lobo Zagalo, este mais nacionalista e pragmático, bem ao gosto dos generais que não engoliam Saldanha.
João Saldanha foi muito mais do um personagem histórico do futebol brasileiro. Ousou ser comunista, participou de greves e guerrilhas, viveu na clandestinidade com pseudônimos e nunca se dobrou aos poderosos de plantão. Foi preso várias vezes, perseguido, espancado e baleado. Mas João não foi santo. Também deu seus sopapos e tiros, fumava e bebia todas e viveu intensamente.
Dito isto uma grande questão se coloca: Por que João Saldanha foi demitido poucos meses antes da Copa de 1970 após brilhante campanha nas eliminatórias com suas “feras”? Não há uma única resposta pois existem várias hipóteses possíveis. O comunista Saldanha era popular e aproveitava a visibilidade do cargo para denunciar à imprensa estrangeira as prisões, torturas e desaparecimentos políticos durante a ditadura militar de Médice. João Saldanha, vigiado e pressionado, sentia-se desconfortável ao servir a um governo que torturava, matava e exilava muitos de seus camaradas. As teses da demissão são várias: sua relação com a bebida e o cigarro; um desentendimento com Pelé; recusa em atender a exigência do presidente Médice em convocar o folclórico centroavante Dario, ou ainda a invasão da concentração do Flamengo por um Saldanha armado de revólver para ameaçar o treinador fascista e direitista Yustrich. Talvez a resposta seja a soma de todas essas razões.
João Saldanha foi generoso, teimoso, autoritário, apaixonado, bruto, elegante, provinciano e cosmopolita. Em suma um ser humano, demasiado humano com inúmeras qualidades, mas não despido de defeitos. Dele se poderia dizer, como no verso de Mário Faustino: “Tanta violência, mas tanta ternura”.
Fonte: Blog do Evaldo Lima