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Ta Minh Chau: a particular experiência socialista do Vietnã

Das agremiações participantes do 10º Encontro de Partidos Comunistas e Operários — que ocorreu em São Paulo, entre os dias 21 e 23 de novembro —, poucas têm uma trajetória tão singular como o Partido Comunista do Vietnã (PCV). O vice-presidente de Relações Internacionais desse histórico PC, Ta Minh Chau, foi um dos quatro vietnamitas presentes ao encontro e falou com exclusividade ao Partido Vivo.

Chau frisou dois aspectos da “particular experiência socialista do Vietnã”: a forte componente nacionalista e a ousadia para promover mudanças. “O povo vietnamita é nutrido por um forte patriotismo”, diz o dirigente. “Além disso, o PCV sempre estimulou a formação nacionalista dos quadros — o que facilita sempre mais o processo de adaptação às mudanças.”

Nos quase dez minutos de entrevista, Chau citou sete vezes o nome do revolucionário Ho Chi Minh (1890-1969), ex-presidente do Vietnã e um dos maiores líderes antiimperialistas do século 20. “O presidente Ho Chi Minh foi o primeiro cidadão vietnamita a conhecer a fundo as idéias de Marx e Lênin. Foi ele quem garantiu que a ideologia marxista-leninista era o caminho certo a ser seguido pelo povo do Vietnã.”

Ho Chi Minh, lembra Chau, dizia que “nada é mais importante para um país do que a independência e a liberdade. Mas, antes de conseguir a libertação nacional, o povo tem de desenvolver o socialismo. É o socialismo que assegura ao povo uma vida plena e mais feliz”. Na opinião de Chau, esse caminho — “manter permanentemente a perspectiva socialista” — “é a maior lição que o povo e o Partido Comunista do Vietnã podem tirar de sua história”.

Uma segunda lição é o que Chau chama de “equilíbrio entre as forças interna e externa”. A experiência socialista do Vietnã levou o povo a aprender que “sempre podia contar com sua própria força — mas também com a força do comunismo pelo mundo”. Nesse sentido, o dirigente explica que o PCV é grato ao apoio que colheu de outros partidos comunistas — como o PCdoB. “Reconhecemos francamente a importância que as forças comunistas do Brasil tiveram em apoio às nossas lutas.”

Economia
Uma das maiores preocupações do Vietnã, na atualidade, é minimizar os impactos da crise financeira dos Estados Unidos — que “se converteu num fenômeno global e levará o mundo à recessão”. Mas Chau avalia que a economia vietnamita está sólida, graças especialmente aos frutos da Doi Moi (Renovação Política), implantada há 22 anos, por deliberação do 6º Congresso do PCV.

“Iniciamos nossas reformas em 1986 e, desde então, já obtivemos grandes conquistas ? feitos históricos e econômicos importantes. Nos últimos 30 anos, o Vietnã alcançou e manteve um nível alto de crescimento econômico de cerca de 7% ao ano”, explica Chau. “Além das conquistas econômicas, também encaminhamos muito bem nossas questões sociais. A qualidade de vida das pessoas tem aumentado constantemente. A pobreza foi reduzida em mais de 58%.”

O vice-presidente de Relações Internacionais do PCV aponta que o Vietnã buscou, na área econômica, uma “política de independência e auto-suficiência”. Ao lado disso, o país trabalhou para construir relações internacionais sólidas. “O Vietnã está na Organização Mundial do Comércio e já é membro pleno da Organização Internacional do Trabalho. Com essa expansão, atraímos importantes investimentos internacionais diretos.”

O PCV se prepara agora para responder à altura à crise financeira. “Pode-se dizer que a atual crise teve um pequeno impacto na nossa economia. Mas o Estado, no Vietnã, é agente ativo de todo o sistema e adotou políticas de soluções econômicas prévias que, esperamos, contornem as dificuldades maiores.”

De acordo com Chau, o PIB do Vietnã pode ter, neste ano, um crescimento de 6,8%. “Acreditamos que podemos superar as adversidades. Uma das medidas adotadas, diante da crise, foi aumentar os subsídios às famílias mais pobres.” O país que, 35 anos atrás, impôs uma humilhante e inédita derrota aos Estados Unidos na Guerra do Vietnã — ou “Guerra Americana”, como preferem os vietnamitas — ainda é exemplo e inspiração para os comunistas do mundo inteiro.

De São Paulo,
André Cintra