Luis Nassif: A visão otimista da crise
Há muitas visões sobre os desdobramentos da crise mundial. No médio e longo prazo, um quase consenso de que o país sairá fortalecido da crise – muito mais forte do que antes da crise. No curto prazo, as opiniões se dividem desde aqueles que apostam em
Publicado 22/10/2008 11:13
Dentre os otimistas, o mais consistente, até agora, tem sido o senador Aluizio Mercadante, com quem conversei anteontem, na cerimônia do prêmio “As Empresas Mais Admiradas do Ano” da Carta Capital.
O primeiro diferencial brasileiro, segundo Mercadante, são as reservas cambiais, que permitirão a travessia para uma situação de equilíbrio maior nas transações correntes.
A segunda, é a gordura dos depósitos compulsórios (o percentual que os bancos são obrigados a manter em reserva no Banco Central). Segundo Mercadante, na Europa o compulsório é de 2%; em muitos países, não tem. O Brasil tem o maior compulsório do mundo (50%), permitindo grande margem de manobra ao BC.
O terceiro item é dispor de um sistema bancário sólido. A atual crise vai afetar bancos pequenos e médios. Mas há um trinca imbatível dos nove maiores bancos: os públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES), os privados nacionais (Bradesco, Itaú e Unibanco) e os três estrangeiros (Santander, HSBC).
Além disso, segundo Mercadante, no próximo ano haverá duas pressões a menos sobre a dívida pública. A primeira, decorrente da própria desvalorização do real. Em outros tempos, essa desvalorização provocaria um aumento da dívida, já que parte dele era dolarizada. Agora, com a desdolarização da dívida e com as reservas cambiais, a desvalorização permitiu uma queda de cinco pontos percentuais na relação dívida/PIB. Somada aos juros menores da Selic – que serão reduzidos inapelavelmente em função da nova conjuntura -, haverá mais espaço para outros gastos públicos.
Finalmente, Mercadante aponta a ação pró-ativa do BC e da Fazenda. O BC não hesitou em abrandar o compulsório e fazer leilões de dólares.
Contrapontos importantes. A operacionalização das medidas está sendo muito lenta. Seria mais eficaz a montagem de uma espécie de Sala de Situação, a exemplo do que ocorreu na crise de energia. Além disso, há dúvidas de monta sobre a capacidade do governo manter o ritmo do PAC e do crédito.
Hoje em dia, todas as grandes empresas estão com o pé na embreagem, para averiguar se reduzem a marcha ou mantém o ritmo. A maior ou menor rapidez do BC em resolver os problemas de empoçamento do crédito é que definirão seu ritmo.
Fatos relevantes a serem acompanhados nos próximos dias:
1. A decisão de Ben Bernanke de começar a atuar sobre os mutuários inadimplentes. Deveria ter sido tomado desde o início da crise. perda de tempo vai custar caro mas, finalmente, entra-se no cerne da questão.
2. Os dados de desaquecimento mundial – China, Europa, montadoras reduzindo produção.
3. A decisão da China de criar uma espécie de subsídio para sua indústria têxtil. Se descambar para protecionismo, repetirá os EUA em 1929 e ampliará a crise global.