Kassab usa estratégia malufista em debate
Em debate realizado na noite deste domingo (12), na Rede Bandeirantes, os candidatos à prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), enredaram-se em acusações mútuas. A estratégia, refinada por Maluf e imitada por Kassab, pretend
Publicado 13/10/2008 03:46
No início do debate, Marta citou dois vetos do ex-vice de Serra a duas leis aprovadas pela Câmara. Os textos dos vetos eram risíveis e Kassab ficou sem resposta.
Quando Marta demonstrou o veto de Kassab à lei que ampliaria a licença-maternidade de quatro para seis meses, o candidato de Serra se atrapalhou, tentou evadir-se do vexame perguntando a Boris Casoy: “É a minha pergunta?”, “Não, é a sua tréplica”, respondeu o apresentador.
Para evitar uma derrota contundente, restou a Kassab recorrer a estratagemas malufistas. Rebateu Marta com piadinhas, ironias e críticas às taxas da gestão da prefeita, assim como o apoio do partido de Maluf ao governo Lula. Nada de propostas, nada de planos, nada de debate.
“Kassab é do PFL. Não adianta se travestir de PSDB. Nós dois subimos o tom em diversos momentos, mas marcamos o campo da diferença” afirmou Marta, ao final do debate para o jornal Folha de S.Paulo.
Após a Bandeirantes negar dois direitos de resposta à candidata Marta Suplicy (PT), assessores da candidata foram à mesa do mediador Boris Casoy, durante o intervalo, para cobrar uma resposta e para criticar a política de “dois pesos e duas medidas” da comissão de juristas da emissora.
A emissora concedeu um direito de resposta ao candidato Kassab mas negou um a Marta. “Não entendi porque deram direito de resposta para o Kassab e não deram para mim”, reclamou a candidata. “Deram (direito de resposta) quando o chamei de mentiroso e não deram quando me chamou de mentirosa”.
“Achei incompreensível. Houve dois pesos e duas medidas”, afirmou o vereador José Américo, presidente municipal do partido.
Os petistas também protestaram com o fato do jornalista Boris Casoy se referir à petista como “Dona Marta”. “É pejorativo, machista, de quem quer ofender as mulheres”, disse o deputado federal Carlos Zarattini, coordenador da campanha de Marta. “Ele usou a linguagem do nosso adversário”, apontou José Américo.
Novo Frankenstein
Quem chegasse de pára-quedas ao debate, após 20 anos de ausência da política paulistana, levaria um susto enorme. Na platéia kassabista, estava montado o mais novo Frankenstein da política paulistana: sentadinhos próximos uns aos outros, o vice-governador Alberto Goldman e vários secretários do governo José Serra.
Misturados a eles estava a cúpula do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia à frente. Também via-se a “elite” do DEM na cidade, que os marqueteiros kassabistas já anunciaram que vão esconder. Além deles, havia a pequena turma do PV (que também faz parte do Governo Lula), com Carlos Camacho, presidente do partido em São Paulo, puxando o coro de apoio a Kassab.
Em uma das cadeiras estava o ex-ministro Paulo Renato de Souza, representante de alta plumagem da paleozóica administração FHC . Outros menos cotados também se fizeram presentes, como Guilherme Afif Domingos, secretário do governo Serra e padrinho político de Kassab. Os petistas ironizavam, ao perguntar onde estava na platéia o antigo aliado Celso Pitta.
É bom recordar que o PSDB é um partido que nasceu de uma cisão no PMDB e que os dois, teoricamente, não são miscíveis entre si. Só se misturam momentaneamente e com bastante agitação, como é o caso em São Paulo. Aliás, o PMDB é base de apoio do Governo Lula. Algo que Marta não explorou.
Como relembra o escritor e jornalista Guilherme Scalzilli em seu blog, “Cabe lembrar que o partido (PSDB) surgiu como repúdio à ascensão do quercismo, e desde sempre combateu os disparates malufistas. Seria inimaginável, por exemplo, ver Mário Covas ou Franco Montoro enlameados com Paulo Maluf, Celso Pitta e Orestes Quércia por simples conveniência eleitoral”.