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Petróleo deve esfriar mais ainda a economia norte-americana

Para a economia americana, já atordoada pelo estouro da bolha do mercado imobiliário, o petróleo a quase US$ 90 vem como o segundo de um par de socos. A razão da alta, além da crescimento explosivo da demanda mundial e de mísera expansão da oferta, é o ri

Segundo economistas, o potencial de prejuízos ao crescimento norte-americano resultantes do encarecimento do petróleo não é tão grande quanto o decorrente da severa recessão no mercado de construção habitacional. Mas o efeito é no mesmo sentido, reforçando a probabilidade de que o crescimento econômico insatisfatório persistirá em 2008. “Não creio que [o petróleo caro] seja decisivo para empurrar a economia para a recessão. Não é tão ruim”, diz Nigel Gault, economista-chefe para os EUA da Global Insight, em Lexington, Massachussets. “Mas é um fator negativo a mais para o consumidor.”



É difícil ignorar o encarecimento do petróleo, quando ele está apenas alguns dólares abaixo de seu máximo histórico de 1981, em termos ajustados pela inflação. Em 2004, quando o petróleo estava um pouco acima de US$ 40 o barril, economistas na Standard & Poor´s estimaram que cada incremento de US$ 10 no custo de um barril de petróleo subtrai cerca de 0,25 ponto percentual da taxa de crescimento da economia.



O problema é que, quanto maior o patamar de seu preço, mais danoso é o efeito de cada incremento adicional de US$ 10, segundo Beth Ann Bovino, economista da S&P. Se os preços continuarem em torno dos US$ 85 por barril em 2008, estima Bovino, os efeitos combinados do petróleo e da queda no mercado habitacional poderão reduzir o crescimento dos EUA no ano da eleição presidencial para só 1,5%, contra 3,8% do segundo trimestre deste ano.



E ainda pior é o fato de que um petróleo muito caro não se limita a suprimir crescimento: também aumenta a inflação. O IPC de setembro está em 0,3% devido à alta de energia e alimentos. O caso de pior cenário seria um retorno à estagflação da década de 70.



Influência da crise



E, por estranho que pareça, o crash no mercado habitacional pode até estar dando pequena contribuição para o salto no preço do petróleo. Philip K. Verleger Jr., de Aspen, Colorado, economista especializado em energia, disse em relatório que o estouro da bolha no mercado de crédito imobiliário de segunda linha assustou os emprestadores e contribuiu para um aperto mundial de crédito, que atingiu o mercado de tomada de empréstimos garantidos por ativos. Isso torna mais caro, para os especuladores, comprar combustível e estocá-lo, e estaria, indiretamente, contribuindo para o aperto nos estoques de petróleo.



Estejam ou não interrelacionados, os mercados de petróleo e habitacional são uma combinação nefasta. A queda na atividade de construção habitacional é extrema e não exibe sinais de alívio. O número de início de novas construções caiu 10% de agosto para setembro, para uma taxa anualizada pouco inferior a 1,2 milhão de unidades, em comparação com 2 milhões em 2005. Apenas o esfriamento na construção de habitações subtrairá cerca de um ponto percentual do PIB em 2007, baixando-o de 3% para 2%, estimam a Global Insight e a S&P.



Até agora, felizmente para a economia, o grande declínio no mercado habitacional produziu um impacto surpreendentemente pequeno sobre os gastos do consumidor, que caminham para um razoável crescimento de 3% neste ano. Aqui, porém, é onde o encarecimento do petróleo é sentido como um soco cruzado de esquerda. O mais recente salto de US$ 10 no preço do petróleo provavelmente empurrará o preço nacional médio da gasolina no varejo nas próximas semanas, assumindo que as refinarias e varejistas repassem sua alta de custos para manter suas margens de lucro. Isso eliminará 0,3 ponto percentual da renda disponível dos consumidores num momento em que eles estão em dificuldades devido ao declínio nos valores das moradias e, em muitos casos, com o aumento nos financiamentos de taxas variáveis.



Impacto



Analistas convencidos de que o impacto do petróleo será mínimo argumentam que os preços cairão pois subiram devido a especulação, e não a fundamentos. Joel Fingerman, presidente da OilAnalytics.net, estima que o preço do petróleo está de US$ 30 a US$ 40 mais alto que o usual, tendo em vista o nível atual dos estoques americanos. Segundo a John S. Herold, empresa de pesquisas de Connecticut, no ano passado o custo médio para encontrar petróleo, explorar, bombear o produto e entregá-lo para armazenagem foi de aproximadamente US$ 25 por barril. Isso dá muita margem para que os preços caiam sem anular os lucros. “Os fundamentos no setor não sustentam preços acima de US$ 60, que dirá US$ 80”, diz Fadel Gheit, analista petrolífero da Oppenheimer.



Mas outros analistas temem que empresas e consumidores logo terão de enfrentar um petróleo ainda mais caro. Ainda que descobrir e produzir petróleo ainda não seja tão caro, é insuficiente o número de poços explorados atualmente. John Kingston, diretor mundial para o setor petrolífero na Platts, diz não ser surpreendente que os preços estejam altos quando a produção mundial de petróleo está aquém do consumo. Mais de 1 milhão de barris por dia estão sendo retirados de estoques neste trimestre. Isso é mais notícia ruim para uma economia já com problemas.



Fonte: Valor Econômico