O simbolo Lula: compromissos
Artigo do Sociólogo João Vieira analisa ameaças e perigos que rondam sobre o que ele denomina “simbolo” Lula.
Publicado 22/08/2007 12:04 | Editado 04/03/2020 16:49
João Vieira
O capítulo estratégico, por excelência da Sociologia é, inegavelmente, o símbolo. E quando alguém se transcende ou transmuda em símbolo, faz a festa do sociólogo, porque garante a exigência de seus serviços ou a atualidade da profissão. De sua vez o sociólogo político tem sua realização com uma boa quantidade de símbolos fortes na vida pública como, por exemplo, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek aqui entre nós e agora o próprio Lula que preenche os espaços de seu tempo e se projeta para a história. Você, leitor, já viu logo onde pretendemos chegar sobre a responsabilidade de Lula (o nosso presidente da República Luiz Ignácio Lula da Silva), enquanto símbolo e por haver se constituído numa real categoria simbólica.
Os símbolos de que falamos obviamente assim o são e têm importância excepcional, como tal, porque se fizeram entidades do bem; e como símbolos se tornaram uma referência positiva na ordem geral das coisas. Ao contrário, se fossem do mal à semelhança de um Hitler, Idi Amin Dada ou Bush, ou então um Fernandinho Beira-Mar, não interessaria tanto, nem à Sociologia e nem à sociedade. Daí que…
Lula começou a interessar desde quando se insinuou para a representatividade política majoritária, dada a sua biografia de retirante pobre (paupérrimo) e que não obstante furara a arco de pua, na habilidade ou na sorte, sua passagem para a notoriedade e o sucesso na área política. E o desejo do sociólogo e da sociedade obviamente, é que estejamos nos referindo à política com “P” maiúsculo e não politiquinha medíocre dos limitados e mal intencionados ou mesmo a anti-política. Nisso, aliás, o fulcro, a chave ou o cerne dessa nossa reflexão, minha e do leitor – porque o perigo ronda o Lula-símbolo dia noite; perigo, sim, de botar por água abaixo a sua condição de símbolo obtida até aqui no grito, na raça, na sorte ou, se quiser, a duras penas…
As ameaças?
Muitas e estão à vista – como se nota: todos os “aloprados”, os Delúbios, Silvinhos (para perplexidade e vergonha dos sociólogos militantes e crédulos em razão de sua habilitação em Sociologia), assim como os insólitos mensaleiros. Os “generais” errados ou duvidosos, no mínimo equívocos, como os Dirceus, Guchikens entre outros; os “compadres” e/ou amigos tortos e aliados que não recomendam, ou sujam e comprometem, como um Renan Calheiros, Jader Barbalho e equivalentes ou assemelhados! E também, e principalmente, os maus ou duvidosos conselheiros…
E o símbolo então é posto a perder ou quase!
De há muito queria comentar a assessoria geral ministro Thomaz Bastos. Em que pese sua pretensa correção e dignidade, austeridade e mesmo a inconteste capacidade, representou e talvez represente, em verdade, uma temeridade, simplesmente porque causídico criminalista pleno e absoluto. Criminalista vocacionado e como tal aético, porque tendente, sempre, a conseguir a “lei-a-favor”, assim: você me paga e eu arranjo pra você o benefício da impunidade. E com mais o agravante de ser o referido causídico um exemplar profissional do “direito de estado”, que se sabe em si, muito – muito mesmo – limitado para a tremenda complexidade do mundo humano-social de hoje. Com isto quero falar da disciplina (nobre) do Direito sem que se leve em conta variáveis tais como a sociológica, a psicológica, (e derivações), que conferem peso e valoração para questões como a evidência – por oposição ao fato frio e redutor da crença somente mediante prova. Material. Unicamente prova, visível, palpável… Quantificável! Afinal, quando um causídico esposa essa “ideologia” em seu perfil profissiográfico, se torna um perigo a qualquer “símbolo” que dele se valha como conselheiro.
E o Lula vai navegando, então, enquanto símbolo forte – quer queira, quer não – que é, no fio da navalha ou em tensão como na passagem de uma pinguela estreita, da qual pode despencar a qualquer momento. Daí essa nossa angústia, porque nada mais horripilante ou triste que a tragédia (sociológica) de um símbolo esvaziado, desfeito! Nisso, enfim, o grande compromisso, qual seja, o de não se permitir esvaziar – como que numa fraude social, frustrando esperanças.
P.S. – Sempre que vejo, por exemplo, uma mãe com um filho infante ou mesmo ainda na barriga – não importa se rica ou pobre – eu costumo perguntar: vai ser presidente da República? E digo isso por causa do emblemático exemplo da dona Lindu, paupérrima mãe do Lula, que não viveu para ver, mas lograra ter um filho seu feito presidente e como tal um “símbolo”, e que símbolo! E quase da mesma forma o também simbólico, já mitológico, Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – JK
João Vieira, sociólogo, escreve semanalmente neste espaço. E-mail: joaovieira01@pop.com.br