Lula defende etanol e critica “cartel dos poderosos”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (9), em seu programa de rádio Café com o Presidente, que o país precisa estar preparado contra os adversários dos biocombustíveis. Segundo ele, o Brasil não pode abrir mão da defesa
Publicado 09/07/2007 10:55
Jornais europeus afirmaram na semana passada que a União Européia não quer o “etanol sujo” vindo do Brasil e que a plantação de cana-de-açúcar poderia invadir o território da Amazônia. “Temos adversários que vão levantar todo e qualquer tipo de calúnia contra a qualidade do etanol, contra a qualidade do biodiesel”, disse Lula.
Segundo o presidente, a tecnologia brasileira de biocombustíveis também significa distribuição de renda para países mais pobres. “Esse é um debate que o Brasil não tem de ter medo. Nós não vamos aceitar outra vez o cartel dos poderosos do mundo tentando impedir que o Brasil se desenvolva, tentando impedir que o Brasil se transforme numa grande nação.”
Confira abaixo a íntegra do programa desta segunda:
Olá, você, em todo o Brasil. Começa agora o programa de rádio do presidente Lula. Tudo bem, presidente?
Tudo bem, Luiz.
Presidente, semana passada o senhor esteve em Portugal e na Bélgica, falou com a União Européia e deu o recado do Brasil na conferência internacional sobre biocombustíveis. Que resultado o senhor espera desse encontro?
Luiz, essa viagem foi muito importante para o Brasil, sobretudo porque o Brasil mudou de patamar na sua relação com a União Européia e o interesse é a questão dos biocombustíveis. Estamos apresentando ao mundo uma alternativa para combater a emissão de gases que causam o efeito estufa no planeta. Ou seja, nós estamos apresentando um produto que diminui a emissão de CO2.
Presidente, alguns jornais europeus dizem que o biodiesel é um combustível sujo, que a plantação pode invadir território da Amazônia, estragar a floresta. O que tem por trás dessa história?
Olha, primeiro nós precisamos tomar muito cuidado. O Brasil não pode abrir mão, em hipótese alguma, de defender a sua matriz energética revolucionária já comprovada há 30 anos, que é o etanol e agora o biodiesel. Lógico que temos de ter consciência que temos adversários. Temos adversários que vão levantar todo e qualquer tipo de calúnia contra a qualidade do etanol, contra a qualidade do biodiesel. Olha, até agora nenhum país apresentou isso, é o Brasil que está apresentando. O que nós estamos querendo mostrar para o mundo é o seguinte: a nossa tecnologia é importante por quê? Porque não é apenas a produção de um novo combustível, é a geração de empregos, é a distribuição de renda, sobretudo nos países mais pobres do planeta. Esse é o desafio que está colocado para a União Européia, para os Estados Unidos e para o Japão. E nesse assunto nós queremos discutir. É bem possível que os nossos adversários continuem levantando coisas contra o Brasil e nós temos de estar preparados.
O senhor cobrou uma posição mais clara desses países em relação às taxas altas de importação de biocombustível brasileiro também. O senhor falou sobre isso?
É engraçado porque eles cobram impostos do nosso álcool, cobram do nosso biodiesel, mas não cobram do petróleo. O que estamos querendo provar é o seguinte: primeiro, eu disse no encontro que era importante olhar a política dos biocombustíveis sem olhar o mapa da Europa. É preciso olhar o mapa do mundo, olhar África, olhar América Latina, para que eles percebam que tem países com potencial de produzir de forma extraordinária para atender aos interesses do mundo. Ou seja, hoje nós temos 20 países que produzem petróleo por 200 países. Com o biodiesel nós vamos poder ter mais de 100 países, ou seja, nós vamos democratizar a produção de combustível no mundo. Aí levantam o argumento de que vai ter problema no alimento. Ora, é preciso imaginar que o ser humano seria irracional. A primeira energia que o ser humano precisa é a sua própria. Ou seja, é se alimentar para poder ter força, para poder produzir a outra energia. Acho uma coisa totalmente descabida. A segunda coisa que eu acho que eles fazem de grave na discussão é dizer que nós vamos invadir a terra da Amazônia. Eu lembrei a eles que Portugal chegou aqui em 1500, há 470 anos introduziu a cana no Brasil e a cana não chegou na Amazônia por uma razão simples. Mesmo quando não se tinha uma visão de preservação que a humanidade tem agora, os portugueses descobriram há muito tempo que na Amazônia não é lugar de plantar cana porque a temperatura não é propícia para isso. Esse é um debate que o Brasil não tem de ter medo. Nós não vamos aceitar, não vamos aceitar outra vez o cartel dos poderosos do mundo tentando impedir que o Brasil se desenvolva, tentando impedir que o Brasil se transforme numa grande nação.
Presidente, por falar nisso, como estão as negociações em torno do comércio de produtos agrícolas na Organização Mundial do Comércio. Há chance de retomada da Rodada de Doha?
Há chances. Para isso é importante que o povo brasileiro entenda o seguinte: nós queremos que os americanos reduzam o subsídio que eles dão para os seus agricultores. Eles, nos últimos três anos, deram US$ 15 bilhões de subsídios. Estamos pedindo que eles dêem apenas 12. Eles estão propondo 17. Ou seja, estão querendo aumentar, inclusive, a média dos últimos três anos. Nós não podemos aceitar. A União Européia, além de não mexer nada nos coeficientes da agricultura, ela quer que nós baixemos o coeficiente dos produtos industriais. E o que eles querem? Que a gente abra nossa indústria para eles e eles não abrem a agricultura para os países do terceiro mundo. Também não dá! Não é uma questão de orgulho não, é uma questão de justiça. Nesse acordo de Doha, os países pobres precisam sair ganhando alguma coisa. Os ricos já ganharam demais no século 20.
Presidente, mudando um pouquinho de assunto, vamos falar da campanha do Cristo Redentor, que foi eleito uma das sete maravilhas do mundo. O senhor inclusive chegou a pedir votos. Essa eleição é um combustível para o turismo brasileiro?
Acho que mais do que um combustível para o turismo brasileiro. Acho que é justiça que se faz, porque quem tem a oportunidade de conhecer não apenas a imagem do Cristo Redentor, mas a gente vê toda a imagem do que cerca aquela beleza do Rio de Janeiro, eu acho que tem poucos lugares do mundo mais bonitos do que aquele.
Obrigado, presidente. Até semana que vem com mais um Café com Presidente.
Até semana que vem, Luiz.