Marco Antonio Raupp é novo presidente da SBPC
O matemático Marco Antonio Raupp é o novo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que reúne 15 mil cientistas. O resultado foi anunciado nesta quinta-feira (5/7). Com o apoio do atual presidente da entidade, Ennio Candott
Publicado 06/07/2007 13:30
Especialista em análise numérica, professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Núcleo do Parque Tecnológico de São José dos Campos em São Paulo, Raupp foi vice-presidente da entidade de 1999 a 2001.
O cientista foi eleito na segunda votação convocada pelo Conselho da SBPC. Na primeira disputa, o pleito terminou empatado pela primeira vez na história da entidade. Na ocasião, Raupp e o farmacólogo Renato Balão Cordeiro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), receberam 579 votos cada. Na nova votação, Raupp obteve 544 e Cordeiro 529 votos. Houve 18 votos em branco e 14 nulos.
Na primeira votação foram escolhidos os novos membros da diretoria para o biênio 2007- 2009 e parte do novo conselho, cujos membros atuarão no quadriênio 2007-2011. Todos tomarão posse dos cargos no dia 12 de julho, durante a 59ª Reunião Anual da SBPC, em Belém (PA).
Foram eleitos os vice-presidentes Helena Bonciani Nader e Otávio Cardoso Alves Velho. O novo secretário-geral será Aldo Malavasi e os novos secretários, Vera Val, Dante Barone e Rute Maria de Andrade. Os tesoureiros serão José Raimundo Coelho e Lisbeth Kaiselian Cordani.
Os novos nomes no conselho são Adalberto Val (AM), Jailson de Andrade (BA), Celso Pinto de Melo (PE), Isaac Roitman (DF), Paulo Sérgio Beirão (MG), Luiz Pinguelli Rosa (RJ), Ingrid Sarti (RJ), Amélia Império Hamburger (SP), Dora Fix Ventura (SP), Sérgio Bampi (RS) e Carlos Vogt (SP), presidente da FAPESP.
Nascido em Cachoeira do Sul (RS), Marco Antonio Raupp se formou em física, em 1961, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Concluiu o doutorado na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, em 1971, e obteve o título de livre-docente no Instituto de Matemática e Estatística da USP, em 1994.
De 1980 a 1985, Raupp foi pesquisador titular no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e, de 1985 a 1991, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde 1995 é pesquisador colaborador e desde 2000 é diretor do LNCC. Presidiu por três vezes a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional e, de 1985 a 1989, foi diretor-geral do Inpe.
Em 1986, foi condecorado Oficial da Ordem do Mérito das Forças Armadas. Em 1987, foi condecorado Oficial da Ordem do Mérito Cartográfico e, em 1988, Comendador da Ordem de Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores.
Em pesquisa, Raupp tem trabalhado com temas como métodos numéricos para simulação de escoamentos de fluidos ideais, inequações variacionais e aplicações em problemas de mecânica de sólidos e eletromagnetismo, análise limite de modelos físicos e modelagem da natação de microrganismos em fluidos de alta viscosidade.
Entre vários segmentos acadêmicos, o novo presidente da SBPC contou com o apoio de lideranças da pós-graduação e da comunidade científica filiadas ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e à UJS.
Investimentos na ciência
O novo presidente da SBPC diz que os cientistas brasileiros precisam se dedicar mais a encontrar aplicações para o conhecimento que produzem, e a utilidade faz, sim, parte da razão de ser da ciência. “Essa utilização é fundamental para a sociedade compreender que ciência é importante e até para justificar os investimentos na ciência”, disse Raupp em declaração ao jornal Folha De S. Paulo.
Além de insistir na atuação dos cientistas para que a inovação cresça o Brasil, Raupp venceu a eleição batendo na tecla da descentralização do sistema brasileiro de ciência e tecnologia. “Veja, por exemplo, os desafios que temos para o conhecimento da Amazônia, do semi-árido e do Pantanal, regiões importantíssimas para o país chegar a um modelo de desenvolvimento auto-sustentável”, diz. “Tem de descentralizar, mas agindo sempre cooperativamente com os centros que já têm tradição e qualidade. A SBPC tem batalhado por isso.”
Raupp afirma que não falta peso à SBPC para influenciar os rumos do país. “Não concordo que a SBPC esteja menos ativa que antigamente”, diz, rebatendo uma crítica freqüente. “O que acontece é que ela não tem tanto destaque quanto teve na época da luta pela democratização, quando tinha uma posição contra o regime e ganhou as páginas dos jornais.”
Em sua defesa da inovação e da ciência aplicada, Raupp afirma que os cientistas também têm responsabilidade. “A Lei de Inovação [que incentiva empresas a desenvolver tecnologia] vem no sentido de estimular a área, mas qualquer pessoa com experiência também sabe que não dá para resolver a coisa por decreto”, afirma. “É preciso praticar as idéias que estão dentro desses códigos legais e explorar isso.”
Reunião anual debaterá Amazônia
A próxima reunião anual da SBPC será realizada este ano de 8 a 13 de julho, em Belém, Centro de Convenções da Amazônia. A 59ª Reunião, organizada em conjunto com a Universidade Federal do Pará (UFPA), terá como tema “Amazônia: Desafio Nacional”, para discutir a necessidade de colocar a Amazônia no centro da questão política nacional.
''Nós temos a chance de encontrar na Amazônia uma fonte inesgotável de conhecimentos novos. A Amazônia tem que ser estudada diretamente nos seus laboratórios naturais'', diz o agora ex-presidente da entidade, Ennio Candotti.
Serão realizados oito Grupos de Trabalho sobre temas interdisciplinares, ou seja, que demandam profissionais de diversas áreas, como planejamento regional e províncias minerais na Amazônia, saúde, sensores biológicos e integração sul-americana. Outros temas também serão tratados durante toda a reunião, tais como: aquecimento global, neurociência no Brasil, universo eterno e big-bang, febre amarela e outras arboviroses, desenvolvimento na China, diversidade vegetal e agricultura sustentável na Amazônia, dermatologia tropical, terapias gênicas e as relações entre saberes tradicionais e científicos.
Fonte: Agência Fapesp