Kirchner rejeita racionamento de energia e reajustar tarifas

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, prometeu nesta quarta-feira (4) que não haverá corte de energia nem aumento de tarifa para as residências do país. Foi uma resposta a informações que circularam pela imprensa de que já estaria pronto um plano of

“Existe um lobby das empresas do setor para dizer que é necessário subir a tarifa”, disse o presidente em um breve discurso na Casa Rosada. E mandou um recado para o suposto “lobby”: “Devagar senhores, sem extorsões, sem nada. Produzam, invistam, cumpram com os seus compromissos”.



Depois de quase um ano sem sequer mencionar em público o problema do déficit energético, esta semana o presidente Kirchner já falou duas vezes publicamente sobre o problema. Ele inclusive agradeceu o governo brasileiro pela disposição de atender ao pedido por aumento da quantidade de eletricidade exportada para a Argentina. Mas a estratégia tem sido jogar a culpa nas empresas e no clima.



Também nesta quarta-feira, o Ministério do Planejamento fez um balanço dos investimentos públicos e privados dentro do Plano Energético lançado em maio de 2004. Segundo o Ministério, foram realizadas obras no valor de 2,750 bilhões de pesos (US$ 880 milhões) no período. Outros 47 bilhões estão encaminhados para projetos de infra-estrutura visando garantir a oferta e a distribuição de eletricidade e gás.



Opiniões divergentes e o papel da Venezuela



Mas é cada dia maior a preocupação com o risco de colapso do sistema energético. “Estamos nas mãos de Deus”, disse o economista Alieto Guadagni, diretor do Conselho do Instituto Torcuato di Tella e ex-diretor do Banco Mundial. Para ele, a Argentina passa por uma “crise de caráter estrutural” que afeta as quatro fontes de energia (hidrelétrica, diesel, petróleo e gás). E a causa do déficit neste momento é o clima. Com 40% de sua matriz energética em energia hidrelétrica, o país vive momento tenso pela falta de chuvas nas represas que alimentam as principais usinas da região centro-sul.



Mas o economista concorda com uma crítica freqüente do presidente Kirchner: as empresas não investem o necessário na geração de novas fontes de petróleo, nem na construção de refinarias.



Já Mario Rapoport, especialista em América Latina e diretor do Instituto de Pesquisa de História Econômica e Social da Universidade de Buenos Aires (UBA), diz que a restrição energética é uma questão regional e não só da Argentina. Ele defendeu que se reforcem os sistemas de integração energética entre os países sul-americanos para poder sustentar a fase de reindustrialização e retomada do crescimento econômico na região. “Deve-se pensar em integração de uma forma mais ampla, incluindo áreas hoje afastadas do processo.”



Neste contexto, ele lamentou a disputa entre o presidente Hugo Chávez e o Congresso brasileiro, que ameaça abortar a entrada da Venezuela no Mercosul. “A Venezuela é estrategicamente necessária para o Brasil e a Argentina, por suas reservas de petróleo” e seria “inevitável” que entrasse para o Mercosul, opinou Rapoport.


 


Fonte: Valor Econômico