Nassif explica por que mercado quer meta de inflação menor

O jornalista Luis Nassif escreveu nesta segunda-feira (25) em seu blog um artigo no qual explica quais motivos levam o chamado “mercado” – com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, à frente – a defender a queda na meta de inflação para o Bras

Confira abaixo o texto: 



O país das pequenas batalhas



Na falta de planejamento de longo prazo, visão estratégica, projeto claro de país, nos próximos dias haverá uma luta insana em torno de um tópico de política monetária: se o COPOM (Comitê de Política Monetária) deve manter ou reduzir a meta inflacionária para os dois próximos anos.
No final de semana passada, Lula anunciou a intenção de manter a meta em 4,5%. Na pratica, significará permitir ao Banco Central manter o ritmo atual de redução da taxa de juros. Caso decida reduzir a meta, significará reduzir o ritmo de queda dos juros.



Há um conjunto de argumentos consistentes em favor da manutenção da atual meta de juros, brandido principalmente pelos técnicos do Ministério da Fazenda:



1. O cenário internacional é instável. Em caso de algum problema de liquidez internacional, haverá impacto sobre o câmbio e sobre a inflação. A manutenção da meta dará mais margem de ação para o BC, evitando que tenha que provocar um novo salto nos juros para fazer frente a algum imprevisto.



2. O aquecimento da economia deverá provocar alguma fricção de preço em 2009 e 2010. Serão altas localizadas em algum setor, sem se propagar para o restante da economia. Mais uma razão para se ter uma margem de folga.



3. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado) mostra que o único setor com pressão é o de serviços, com alta de 7% nos últimos doze meses. Mas essa alta reflete uma melhoria da renda dos trabalhadores desse setor, muito em função da queda do desemprego, dos programas de renda mínima que aumentou o chamado salário de reserva: o trabalhador deixou de entrar no mercado por qualquer salário.



4. A inflação brasileira é câmbio-dependente. O dólar está despencando. Uma hora vai ter que parar. Quando isso acontecer, não poderá mais se contar com ele para manter a inflação quase zerada. Mais uma razão para se ter margem de manobra.



5. Na maioria dos países que venceram a inflação, a convergência foi lenta. O Chile levou dez anos para derrubar a sua inflação, evitando sacrifícios demasiados para o crescimento. No caso do Brasil, a inflação despencou de 14% para 3% em apenas 4 anos. Bateu no piso. Com isso há um risco de inflexão na curva da inflação.



Os defensores da redução da meta alegam que, como a inflação já está em 3,5%, não haveria nenhum sacrifício adicional reduzir a meta para esse nível. É uma falácia. Não se está falando da inflação de agora, mas da meta de inflação para os próximos dois anos. Inflação de 2009 é expectativa, não um dado da realidade.



Nos primeiros anos da política de metas inflacionárias, o BC tentou estabelecer metas muito rígidas, acabou não cumprindo o estabelecido, lançando dúvidas sobre a eficácia do método. Em 2000 fixou-se para 2002 a meta de 3,75%: o resultado foi 12,53%. Para 2003, meta de 3,25%, resultado de 9,3%



De segunda a quarta haverá um tiroteio só na imprensa, com os chamados analistas de mercado insistindo na redução da meta. A intenção é uma só: manter por mais tempo os juros escandalosos praticados pelo BC.



Lula já anunciou sua intenção de manter a meta. Vamos ver se resistirá até a próxima reunião do COPOM.



Fonte: Blog do Nassif