Rodrigo Granda nega ser intermediário entre FARC e Uribe

No último dia 4 de Junho, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, a pedido do seu homólogo francês, Nicolas Sarkozy, libertou Rodrigo Granda, um dos principais responsáveis das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), detido em dezembro de 2004,

A intenção de Sarkozy, ao solicitar a soltura de Granda, é conseguir que as FARC libertem Ingrid Betancourt, ex-candidata à Presidência da Colômbia. No entanto, a guerrilha responder oficialmente que só a ela compete designar um intermediário nessa negociação.



Temendo pela vida, Granda está temporariamente vivendo nas instalações da Conferência Episcopal Colombiana em Bogotá. Nesta entrevista concedida ao Diário.info ele desmascara o jogo de Uribe e informa que provavelmente viajará para Cuba, pois lhe negaram a possibilidade de seguir para a Venezuela, o Brasil ou o Equador.



Por que é que Sarkozy pediu a sua libertação?
É uma questão que coloco a mim próprio. E que é feita pela minha organização. A única resposta que encontro é que chegou à conclusão de que nem Granda nem as FARC são terroristas ou narcotraficantes. Somos um movimento de libertação nacional com o qual se tem de contar para encontrar uma solução para o conflito. Sarkozy é um homem avisado que compreendeu que existem duas partes bem definidas: o Estado e as FARC. Hoje, toda a gente na Colômbia e uma grande parte da comunidade internacional vêem que existe a possibilidade de uma troca humanitária.



Teve contatos, antes da libertação, com funcionários franceses?
Estava numa prisão de alta segurança, não tive nenhum contacto com o governo nem com o povo francês.



Depois disso, encontrou-se com representantes franceses?
Vi um diplomata. Expliquei-lhe em pormenor como é que o governo colombiano interpretou mal o pedido de Nicolas Sarkozy. Em vez de me libertar sem condições, o governo exerceu pressão sobre mim para que renunciasse aos meus princípios. Fui vítima de uma chantagem e o meu dever era informar a França.



Disse-lhe o que é que a França espera de você?
Não fez qualquer proposta nem insinuação. Limitou-se a ouvir-me.



Nicolas Sarkozy desejava acelerar a resolução do caso dos reféns. É um malogro?
Teve um gesto de grandeza humana. Certamente pensou que eu poderia interceder. Mas o governo colombiano exigiu que renunciasse às FARC, o que jamais farei. Recusei inicialmente ser libertado. Ameaçaram utilizar a força para me tirar da prisão. O governo queria dividir o nosso movimento, fazendo-me passar por traidor e desertor. O que não ajuda em nada uma resolução do caso dos reféns.



Que espera agora de você o governo colombiano?
Deseja fazer de mim um “intermediário de paz”. Não aceito. Mesmo que sempre tenha lutado pela paz e a reconciliação, sem ser negociador ou porta-voz. Precisamente porque é uma obrigação revolucionária e a minha íntima convicção.



Num futuro próximo, as FARC poderão designá-lo intermediário?
São as FARC e o seu secretariado nacional que me dão as ordens e eu obedeço.



Entrou em contato com eles?
Só tenho um celular emprestado pela Conferência Episcopal. Não tive nenhum contato com o secretariado nem com nenhum outro membro das FARC. Seria uma loucura tentá-lo a partir de um sítio bastante vigiado pela polícia e pelos serviços secretos militares.



Por que é que não pode sair da sede da Conferência Episcopal?
Não fui anistiado nem indultado. Não considero ter sido “libertado”. Em qualquer momento, o governo pode enviar-me de novo para a cadeia. Fui condenado a 21 anos de prisão em primeira instância e tenho ainda uma dezena de processos em curso. Baseados em montagens grosseiras dos serviços secretos militares. Teoricamente, posso deslocar-me livremente em todo o território nacional. Mas, na prática, se sair é certo que serei assassinado.



Por quem?
Na Colômbia existe um terrorismo de Estado. O processo de desmobilização dos grupos de paramilitares não é uma realidade. Existem com outras designações, perseguem as FARC e não hesitam em exterminar os seus membros.



Qual é o seu estatuto nas FARC?
Sou um combatente de base e não tenho a honra de ter um posto militar na organização. Sempre fiz trabalho político. Nestes últimos anos, tinha funções político-diplomáticas na comissão internacional das FARC. Estava em contacto com governos, personalidades, jornalistas, intelectuais e partidos políticos estrangeiros.



Na França com que partidos?
Abstenho-me de dar pormenores para não ser mal interpretado. Não fazia discriminação quanto às siglas políticas. A democracia burguesa francesa é avançada e dá provas de tolerância quanto à nossa dissidência.



Fonte: Diário.info