Guerra na TV: mídia amplia rivalidade entre Fatá e Hamas
O conflito entre as duas facções políticas que dirigiam a Autoridade Palestina parece ter chegado a seu pior patamar. Após a ação do Hamas para derrubar o Fatá, na semana passada – e do caos ter se instalado de vez nos territórios palestinos -, a troca de
Publicado 21/06/2007 01:18
Canais ligados aos dois grupos não poupam ofensas aos rivais. A estatal Palestinian TV, leal ao presidente Mahmoud Abbas, do Fatá, e a emissora al-Aqsa, do Hamas, têm um verdadeiro arsenal verbal para tentar conquistar a opinião pública para o seu lado. Acusações de “mercenários”, “assassinos” e “traidores” são comuns vindas das duas partes.
A questão que dividiu os palestinos em dois grupos, com o Hamas dominando Gaza e o Fatá sobre a Cisjordânia, criou uma rivalidade comparável à entre palestinos e israelenses. Os dois lados palestinos hoje se acusam de atuar como “agentes estrangeiros” – o Hamas diz que o Fatá trabalha para Israel, enquanto o Fatá defende que o Hamas atua para o Irã.
Ofensas e mais ofensas
“Os conselheiros de Abbas são os inimigos do povo palestino”, bradou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, em programa na al-Aqsa. Um dos alvos preferidos de ofensas da emissora do Hamas é Mohammed Dahlan, que foi chefe de segurança do Fatá na década de 1990 e, na ocasião, liderou uma onda de sanções severas a radicais islâmicos.
Imagens de Dahlan e Abbas se encontrando com o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert são exibidas constantemente para reforçar as acusações de “traidor sionista” e “assassino-chefe”. Em uma matéria jornalística sobre a tomada de controle pelo Hamas, um jornalista chegou a dizer que “sob Abbas e sua panelinha, a lei da selva transformou Gaza em um novo Iraque”.
Na emissora estatal, o clima de ódio é o mesmo. “Mercenários xiitas!”, gritava um telespectador em participação por telefone, referindo-se aos membros do Hamas. “Voltem para o Irã, que mandou vocês aqui para destruir a causa palestina”. “Vocês nos fizeram odiar a religião”, diz outra telespectadora, que não segura as lágrimas ao descrever “as execuções” que “membros do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas)” realizaram em Gaza depois da tomada de poder.
Ela ainda chama o primeiro-ministro deposto Ismail Haniyeh, do Hamas, de “cachorro”, um dos mais humilhantes insultos em árabe. Antes de atender a próxima ligação de telespectador, o apresentador, em frente à bandeira palestina, garante ao público que todas as ligações são espontâneas.
Dois governos
Na quinta-feira passada (14/6), o Hamas ocupou o principal complexo de segurança do Fatá, na Cidade de Gaza, e declarou vitória sobre o grupo rival. Até então, a Autoridade Palestina era dirigida em conjunto entre os dois grupos.
Em resposta à ocupação, o presidente Abbas dissolveu o governo de coalizão. O premiê Haniyeh, por sua vez, não acatou a decisão. Com a ruptura, hoje existem duas lideranças nos territórios palestinos – uma na Faixa de Gaza e outra na Cisjordânia. No domingo (17/6), Abbas deu posse a um governo de emergência, que teve como primeira decisão tornar ilegais as milícias do Hamas.
Da Redação, com informações do Observatório da Imprensa