“Dia do nunca mais” divide sociedade civil uruguaia
O presidente Tabaré Vázquez colocou nesta terça-feira (19) uma bandeira uruguaia feita de flores diante do monumento ao herói oriental, José Artigas, na primeira comemoração do “Dia do Nunca Mais”, uma cerimônia para a reconciliação de militares e civis d
Publicado 19/06/2007 15:47
Vázquez caminhou até o pé do monumento acompanhado por Lili Lerena, viúva do líder histórico da Frente Ampla, Líber Seregni, que levava flores em suas mãos. O ato aconteceu em pouco mais de dez minutos e, em seu decorrer, uma banda interpretou a introdução do hino nacional e o presidente saudou os ministros, chefes militares e dirigentes da oposição política, depositou as flores e se retirou sem fazer declarações.
Participaram da celebração os integrantes do Conselho de Ministros, os comandantes das chefias das forças armadas e líderes da oposição política conservadora, como o líder do Partido Blanco, Jorge Larrañaga, e membros do Partido Colorado, entre eles Pedro Bordaberry, filho do ex-ditador Juan María Bordaberry, e o ex-ministro da Economia, Alejandro Atchugarry.
Também estiveram presentes, em grande número, oficiais uniformizados do Exército, da Marinha e da Força Aérea. Atrás de cercas, o público que chegou até a Praça da Independência trazia bandeiras uruguaias com a frase “Nunca Mais”, todas com o mesmo desenho e em vários momentos gritou “vivas” ao nome de Vázquez.
Raízes do país
A ministra da Defesa, Azucena Berrutti, disse ao encerrar o ato que “esta é uma homenagem que fazemos todos os anos a Artigas, ainda que esta ocasião tenha um significado especial que cada um guardará dentro de si”.
Vázquez decidiu no final do ano passado que o “Nunca Mais” seria uma comemoração em 19 de junho, data do nascimento em 1764 do herói oriental Artigas.
“É um dia de encontro da maioria dos uruguaios com suas raízes e deve ser também o dia do compromisso para que nunca mais ocorram atos de intolerância e violência entre os cidadãos uruguaios”, explicou Vázquez. Posteriormente acrescentou que seria um dia de “nunca mais uruguaios contra uruguaios” e “nunca mais terrorismo de Estado”.
Sociedade civil dividida
Organizações humanitárias e de esquerda não aceitaram a convocação ao ato e afirmaram que “o governo, ao encorajar uma reconciliação, quer igualar os responsáveis pelo terrorismo de Estado com suas vítimas”.
Não participaram da cerimônia a Associação de Mães e Familiares de Uruguaios Detidos e Desaparecidos, a central operária PIT-CNT, organizações estudantis, integrantes da Frente Ampla, como o Partido Comunista, enquanto o Centro Militar divulgou suas críticas ao ato.
O Centro Militar, com uma comissão integrada por oficiais em retiro, por sua vez se perguntou:”Que significado pode ter para nós participar desse ato, no qual aparentemente os únicos responsáveis identificados dos males do passado são as forças armadas?”.
Fonte: Ansa Latina