Bisavó de Lênin foi queimada como bruxa pela Inquisição
Uma das bisavós do líder bolchevique Vladimir Lênin foi queimada na fogueira da Inquisição ao ser acusada de bruxaria. O fato foi revelado neste sábado (9) pelo pesquisador alemão Gunter Kruse, que também tem laços familiares com o revolucionário fundador
Publicado 09/06/2007 19:50
“Meus estudos me levaram até a Idade Média, já que até mesmo encontrei um parente de Lênin que viveu no século 13”, disse Kruse, cientista que desde 1970 elabora a árvore genealógica do artífice da revolução de 1917 na Rússia.
O pesquisador participou de entrevista coletiva em Ulianovsk, antiga Simbirsk e cidade natal de Lênin. Kruse afirmou que iniciou seu estudo após descobrir que ele mesmo estava ligado ao líder revolucionário e identificar outros antepassados e familiares.
Segundo ele, na linha alemã de ascendência de Lênin há nobres, mercadores, líderes da Hansa – a histórica liga comercial de cidades germânicas formada em torno de Lubeck nos séculos 14 e 16 – e, até mesmo, um pastor protestante.
“No entanto, a representante mais curiosa da família é, talvez, uma bruxa, que foi queimada em uma fogueira por ordem do Santo Ofício. Infelizmente, quase não há informações sobre ela”, acrescentou o pesquisador segundo a agência russa RIA Novosti.
Leitura reveladora
O interesse de Kruse pela personagem surgiu em 1970, quando leu uma tradução para o alemão de um romance sobre a família de Lênin da escritora soviética Marietta Shaguinián, que se baseava em novos dados de arquivos.
De acordo com o livro, a avó materna de Lênin, Anna Grosschopf, era filha de Johann Gottlieb Grosschopf – um mercador de Lubech que havia emigrado em 1790 para a antiga capital dos czares, São Petersburgo. Kruse descobriu que sua própria mãe, Irma Kruse, cujo sobrenome paterno era Grosschopf, era prima de segundo grau de Lênin, e decidiu investigar a árvore genealógica do líder bolchevique.
O pesquisador também viu que os familiares alemães nobres de Lênin praticamente não mantinham contatos com seus parentes na distante província russa. Eles cortaram totalmente os laços após o irmão mais velho de Lênin, Alexandr, membro da facção terrorista do partido Vontade do Povo, ter sido detido e enforcado por preparar um atentado contra a vida do czar Alexandre III em 1887, acrescentou o estudioso.
Segundo historiadores soviéticos, foi após essa execução que o jovem Vladimir Ulianov disse a sua mãe a famosa frase: “Nós iremos por outro caminho” – o da luta clandestina e da revolução para derrubar o “regime czarista”, em vez de somente matar o monarca.
“Os Groscchoph eram muito práticos e preferiram romper toda relação com esta escandalosa família. Caso soubessem quem chegaria a ser Vladimir Ulianov, talvez não o tivessem feito”, brincou Kruse na entrevista coletiva, segundo o jornal digital Primeinfo.net.ru.
Sobrinha viva
O pesquisador, oriundo da cidade alemã de Bayreuth, visitou pela primeira vez Ulianovsk em 2002 para realizar pesquisas nos arquivos e museus do estado ou região de origem de Lênin, e atualmente trabalha com historiadores locais em uma monografia para juntar todos os dados coletados.
Ele também disse que tentou fazer amizade com a sobrinha de Lênin, Olga Ulianova, que ainda vive na cidade, mas que ela se negou a conhecê-lo e lhe devolveu sem ler os documentos que lhe havia enviado para comprovar a relação de parentesco.
“Por telefone falou comigo muito secamente e no final me disse que Lênin não tinha parentes alemães e que eu era um charlatão. Ela me devolveu o envelope com a documentação sem abri-lo e com a mensagem 'Não quero conhecê-lo para nada'”, afirmou Kruse.
Olga Shaleva, pesquisadora da Casa-Museu de Lênin em Ulianovsk, elogiou o trabalho de seu colega alemão e destacou que “o grande feito de Gunter Kruse é acompanhar todos os fatos com a devida documentação”, acrescenta a edição digital do jornal Newsru.com.
“Suas pesquisas trouxeram informação considerável sobre a árvore genealógica de Vladimir Ulianov Lênin, cuja personalidade ainda cria grande interesse no mundo todo”, frisou Shaleva.
Lênin hoje
A agência RIA Novosti destacou que a figura de Lênin (1870-1924) suscita grandes “controvérsias” na Rússia de hoje. Seus detratores afirmam que a utopia comunista desapareceu do país em meio à guerra civil e afundou o país em décadas de repressões políticas, até a queda da União Soviética, em 1991.
Essa linha de raciocínio, porém, não tem respaldo na maior parte da população local. No mês de março, o Centro Nacional de Estudo da Opinão Pública da Rússia (VTsIOM), realizou, em toda o país, uma pesquisa sobre o que os russos acham da idéia de reedificar o socialismo na nova Rússia. A pesquisa apontou que 46% apóiam a idéia, enquanto 17% acham razoável e 37% não consideraram uma boa saída.
Outro indicador da ligação dos russos com o comunismo é a alta visitação ao mausoléu de Lênin, na Praça Vermelha. Construído em mármore negro e pedra, o mausoléu foi um dos monumentos mais importantes durante os tempos soviéticos – e continua sendo uma das principais atrações turísticas de Moscou. Aberto ao público durante quatro dias da semana, o local é administrado pelo Kremlin.
O corpo de Lênin é conservado por especialistas do Centro de Tecnologias Biológicas e de Medicina da Rússia. Após sua morte, em 21 de janeiro de 1924, Lênin foi embalsamado e colocado no mausoléu, onde permanece até hoje. Apenas durante a 2ª Guerra Mundial ele foi levado para a cidade de Tiumen, na Sibéria.