Metalúrgicos da CSN iniciam primeira greve em 17 anos

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, Vanderli Jordão, informou à edição eletrônica do jornal Diário do Vale neste sábado (2) que a adesão ao movimento grevista na CSN chega a 75% dos 8 mil operários da grande siderúrgica

A votação secreta, realizada na Praça Juarez Antunes,  teve comparecimento maciço: 6.205 votantes. A proposta de greve, defendida pela diretoria do Sindicato, teve 3.370 votos. Outros 2.816 votaram pelo acordo. Dezessete trabalhadores anularam o voto e dois votaram em branco.



Para Renato, ''momento é histórico''



A decisão da votação secreta, de acordo com o presidente, foi para evitar a coação dos trabalhadores. “Durante as assembléias realizadas a chefia sempre esteve presente. Não queríamos uma votação secreta, mas é a única maneira que vemos para o trabalhador exercer sua vontade”, relatou  o presidente do Sindicato, Renato Soares Ramos.



Apurados os votos, os metalúrgicos sairam em passeata pela cidade siderúrgica. ''Este momento é histórico, porque a população de Volta Redonda e os trabalhadores da CSN vinham sofrendo com a política de arrocho salarial da companhia'', afirmou o líder sindical. De acordo com ele, há dez anos a siderúrgica concede reajustes salariais abaixo da inflação.



Os trabalhadores cantaram músicas relativas à greve e gritaram palavras de ordem, enquanto, do alto do caminhão de som, Renato pedia o apoio da população e do comércio local para a greve.



''A luta dos trabalhadores não é só do sindicato. É de todos os moradores de Volta Redonda, e principalmente do comércio local, que só tem a ganhar se os metalúrgicos tiverem um salário melhor'', disse. A cidade, com 260 mil habitantes, vive basicamente da usina siderúrgica.



Piquetes nas cinco entradas



A greve da CSN começou à zero hora. A maioria dos trabalhadores que chegavam para iniciar o turno da meia-noite às oito horas da manhã não entrou na empresa, por vontade própria ou convencidos pelos piquetes, formados nas cinco entradas da usina. Alguns fura-greves entraram para trabalhar pulando o muro da empresa.



O Sindicato definiu as áreas essenciais que serão mantidas em funcionamento apesar da greve. Também aí não houve acordo com a empresa, que enviou uma extensa lista com as áreas que considera esseciais. ''Se aceitássemos a lista não teria greve. A CSN relacionou a Usina inteira como essencial'', queixou-se Renato.



Os trabalhadores decidiram manter em funcionamento os alto-fornos 2 e 3, que podem demorar até quinze dias para serem ''abafados''. Também concordaram em manter funcionando, em ritmo reduzido, a coqueria e a sinterização, mas resolveram parar a aciaria e a laminação.



Negociação difícil chega a impasse



A direção do sindicato foi renovada em julho do ano passado, com a vitória da opoisição. Esta é a primeira campanha salarial da nova diretoria na CSN.



A greve estourou ao fim de negociações difíceis, entrando pela madrugada. Na  noite de quarta-feira  a Companhia Siderúrgica Nacional apresentou o que disse ser sua última proposta: reposição do INPC mais 1,5% de aumento real e um abono de R$ 2 mil.



O Sindicato dos Metalúrgicos, depois de fazer concessões sobre a reivindicação inicial, que repunha as perdas destes dez anos, luta pelo  INPC mais 10% de ganho real e R$ 3 mil de abono.  “O que foi proposto demonstrou o descaso da empresa com seus trabalhadores”, destacou Soares.



O movimento dos funcionários da CSN soma-se à greve dos trabalhadores das contratadas (terceirizados), deflagrada terça-feira. A proposta apresentada no dia seguinte pelo Metalsul, um aumento de 5,5% mais R$ 300 de abono, também foi recusada pelos contratados. O sindicato pede o INPC mais 20 % de aumento real.



MST e dom Waldir solidários



Homens do 28º Batalhão da Polícia Militar (Volta Redonda) e agentes do serviço reservado do batalhão (P-2) estão guarnecendo as entradas da usina da CSN. O comandante do 2º CPI (Comando de Policiamento do Interior), coronel Celso Araújo, disse que, ''se for preciso'', tem condição de deslocar tropas dos batalhões de Barra do Pira, Três Rios,  Resende e Angra dos Reis.



Por sua vez, os trabalhadores em greve contam com movimentos de solidariedade. Um grupo do MST,do acampamento Irmã Doroty, da Fazenda Rio da Pedra, ocupada em Quatis, deslocou-se desde a madrugada para diante da siderúrgica, em apoio ao movimento.



Outro apoio de grande significado para Volta Redonda é o do  bispo emérito da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, dom Waldir Calheiros, antigo aliado dos metalúrgicos. Dom Waldir disse que apóia o movimento.



O presidente do Sindicato dos Engenheiros (Senge), João Thomaz, informou que a categoria também  apóia o movimento dos metalúrgicos e pode entrar em greve. “Estamos ao lado do Sindicato dos Metalúrgicos e apoiamos a greve, porque os engenheiros da CSN também tiveram as perdas salariais que atingiram os metalúrgicos”, disse. “Já enviamos um ofício à CSN para retomarmos as negociações dos engenheiros e estamos preparados para deflagrar a greve, se não houver negociações”, concluiu.



Última greve foi em 1990



Há 17 anos, a CSN não sofria uma greve. A última foi em 1990 e a mais longa feita pelos empregados da empresa, quando o Sindicato dos Metalúrgicos era comandado por Vagner Barcelos. Ela durou 31 dias, e acabou sem qualquer vantagem para os trabalhadores.



Ao todo foram 12 greves a partir de 1984. A principal delas foi a de 1988, que durou duas semanas, teve repercussão internacional e registrou o confronto do dia 9 de novembro entre metalúrgicos e tropas federais. Três operários morreram e 50 outras pessoas, entre elas militares que tentavam evacuar a fábrica ocupada pelos empregados, ficaram feridos.



Da redação, com agências