Sem categoria

Luciano Siqueira é cotado pelo PCdoB para a sucessão no Recife

Em entrevista ao Jornal do Commercio, que você acompanha a seguir, o vice-prefeito da capital pernambucana fala sobre o cenário político local e admite que seu nome já está sendo trabalhado dentro do PCdoB para a sucessão de 2008.

O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), é conhecido por ser um defensor entusiasmado da unidade das oposições nas disputas eleitorais. É também voz corrente em defesa do PCdoB priorizar a aliança com o PT. Mas, observando o cenário ainda em formação para as eleições municipais de 2008, Luciano fala de um caminho diferente. Além de incisivo quando considera que o seu partido tem a “obrigação” de levar em conta a opção de uma candidatura própria, o vice-prefeito concorda com a tese de examinar o cenário de mais de um candidato das esquerdas à sucessão do prefeito João Paulo (PT).


 


 


A proposta foi defendida pelo deputado federal e presidente do PMN, Sílvio Costa, em entrevista ao JC no domingo passado. Visivelmente preocupado com a disputa interna que se instalou no PT, Luciano Siqueira admite que uma unidade construída “pode não ser suficientemente consistente para manter todos abrigados sob uma mesma candidatura”. E pergunta, aos demais partidos de esquerda, se é sensato esperar, “indefinidamente”, que o PT chegue a uma conclusão.


 


 


Como o PCdoB avalia, nesse momento, o quadro para a sucessão do Recife em 2008?
A executiva nacional defende que o partido apresente candidato próprio nas cidades onde houver as condições políticas para isso. Que condições são essas? Primeiro, ter um nome potencialmente viável. Segundo, o partido estar bem situado na cena política local. Terceiro, ter a possibilidade de alianças, porque é quase uma norma no PCdoB nunca sair sozinho para nada. E, por último, que a candidatura não signifique um fator de ameaça a uma vitória da direita. E quando se olha o conjunto do País, é natural que incluamos o Recife. Porém, essa orientação não é rígida, para lugar nenhum. No Recife, inclusive, há algumas variáveis. Como estamos falando sobre 2008, com bastante antecedência, eu digo que há um cenário em formação. Há certas variáveis que estão presentes e outras não. O que se tem de concreto, agora, é que existe um consenso das forças que apóiam o presidente Lula, o governador Eduardo Campos e o prefeito João Paulo, de que nós devemos trabalhar para ganhar as eleições e dar continuidade a um projeto que está sendo bem sucedido. Até porque há uma compreensão comum de que as eleições municipais são a ante-sala das eleições para 2010. Há uma outra preliminar que não está bem explicitada, por enquanto é um sentimento, mas há uma impressão de que o partido que tem a hegemonia, que lidera a nossa coligação de forças, possa ter a precedência de indicar um nome, que será submetido aos demais, como a hipótese de ser o candidato que unifique. Esse partido é o PT. Como em Olinda é o PCdoB, em Igarassu é o PSB… Entretanto, começam a atuar algumas variáveis sobre essa situação, na nossa compreensão. Há uma evidente dificuldade do PT de se costurar internamente e apresentar, em tempo hábil, uma proposta de uma candidatura unitária. A situação interna do PT é muito difícil.


 


 


É uma dificuldade fruto de uma tradição de disputa interna do PT ou houve algo que agravou o entendimento na legenda?
Nós sempre tivemos todo o cuidado de não nos envolvermos nos assuntos internos dos outros partidos. Já falamos a Humberto Costa e a João Paulo do nosso desconforto com essa situação do PT. Do nosso desejo de o PT estar unido. Mas não entramos no mérito da situação. Se há divergências no plano das idéias, ninguém sabe quais são as idéias. O que fica, para quem está de fora, é que se trata de uma disputa de grupos. Mas não podemos afirmar isso. Não somos do PT, não podemos afirmar categoricamente. Mas sentimos falta de uma explicitação de quais são as diferenças de idéias.


 


 


Se a disputa interna do PT se estender por muito tempo pode levar as oposições a marcharem para o cenário de múltiplas candidaturas? Ou esse é um debate que o senhor defende que ocorra agora?
Uma pergunta natural, que qualquer pessoa de bom senso faria é: os outros partidos estão dispostos a ficar, todo mundo do lado de fora, esperando a briga do PT e, de bom grado, esperar que o PT chegue a uma conclusão? Há uma predisposição de todos os partidos de se somarem em torno de um nome que o PT possa indicar. Mas não quer dizer que seja qualquer nome, a qualquer tempo, e sob quaisquer circunstâncias. Isso não! Não pode ser assim. É legítimo que os partidos devam se sentir obrigados a ter solidariedade para com o PT e alertá-lo para o fato de que é desgastante, para os demais aliados, se submeterem à uma lógica própria do PT, que não é a mesma dos outros partidos. Aliás, cada partido tem sua lógica própria. A ciência da coisa é criar um ambiente em que todos se sintam confortáveis. Nós do PCdoB estamos ponderando, em nome do bom senso, que não é sensato que todos os partidos aguardem indefinidamente a resolução dos problemas internos do PT. E que estejam predispostos a aceitar qualquer nome, a qualquer tempo, e sob quaisquer circunstâncias. Ao dizer isso, nós somos sinceros para com o PT.


 


 


Então o senhor considera o cenário de mais de uma candidatura no campo das esquerdas?
Sílvio Costa (deputado federal em entrevista ao Jornal do Commercio na edição do último domingo) defende uma tese correta que é a de examinar a possibilidade de mais de uma candidatura no nosso campo. Ele não está errado nisso. Nós estamos de acordo também. Apesar da predisposição para a unidade, nada impede que, no processo, possa haver algum tipo de dificuldade que justifique mais de uma candidatura. Vamos supor que a unidade construída não seja suficientemente consistente para manter todos abrigados sob uma mesma candidatura. Essa é uma hipótese. É uma atitude madura reconhecer que essa possibilidade possa existir. Até por uma razão tática. Porque mesmo todos nós basicamente unidos em torno de propostas comuns para a cidade do Recife, a eleição será em dois turnos. Os adversários insinuam que vêm com pelo menos três candidaturas. Potencialmente fortes, cada uma no seu ambiente. Numa tática de forçar um segundo turno para que possam somar tudo que tenham conquistado. Uma tática que é semelhante à que utilizamos para derrotar Mendonça Filho (na sucessão estadual de 2006). Eduardo e Humberto cresceram em seus espaços próprios e, no segundo turno, se somaram e ganharam as eleições. Então, por uma questão de ordem tática, essa hipótese deve ser melhor considerada mais adiante. Nomes à disposição, nas várias legendas, existem.


 



Nesse debate interno do PCdoB sobre a sucessão do Recife, o único nome em discussão é o do senhor?

Não tem outro. Não temos nenhuma pretensão de candidatar Luciana Santos (prefeita de Olinda) em lugar nenhum nas eleições municipais do próximo ano. Especulou-se que ela poderia ir para Paulista. Não há isso. Nosso projeto é que ela termine o mandato e, em 2010, dispute a eleição e provavelmente majoritária. Luciana é um dos nomes que a gente tem para a disputa majoritária. Mas, em que circunstâncias eu poderia ser candidato? Na circunstância de um entendimento, na de termos mais de uma candidatura, e também na constatação de que meu nome possa ser desejo de outros partidos, além do PCdoB. Nós temos o dever de considerar uma candidatura própria. O partido se prepara para ela. O que não quer dizer colocar o bloco na rua agora. Mas deixar claro para os demais aliados que essa possibilidade existe. Se for necessária (a candidatura), nós queremos estar preparados para cumpri-la. É nesse pé que as coisas estão. Agora, em que condições não seremos candidato de jeito nenhum? Se ficar claro que somos um fator de divisão das nossas forças. Se formos prejudicial para as possibilidades de eleger o sucessor de João Paulo. Se formos uma candidatura na contramão. Na contramão, o PCdoB não apresenta candidato em canto nenhum do mundo.


 


Essa determinação da executiva nacional do PCdoB, de ter candidato próprio onde for possível, ganhou força com a forma como ocorreu a derrota do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Câmara Federal? Uma conseqüência foi o desgaste na relação PCdoB e PT?
Não. Tem a ver com o acúmulo de forças do partido. Se você chega ao Rio de Janeiro, o partido tem Jandira Feghalli, que perdeu a eleição por pouco, na última semana das eleições. É hoje um nome fortíssimo para prefeita. Mas há alguns casos (de candidaturas própria do PCdoB) que têm a ver com o desgaste da relação com o PT. Há um caso específico que, de certa forma, tem muito a ver com isso que é São Paulo. Diferentemente das outras capitais, o que existia na capital paulistana era PT e PCdoB juntos e as outras legendas com o PSB, com o PMDB, um pouco para lá. Com o rolo compressor montado pelo PT com os neolulistas do PMDB para eleger Arlindo Chinaglia (para presidência da Câmara Federal), e com as declarações públicas da cúpula do PT, de que a aliança fundamental na coalizão com os outros partidos não era mais com o PSB e o PCdoB, mas com o PMDB, houve uma conseqüência imediata na Câmara: a formação de um bloco à esquerda para se contrapor a essa tendência centrista do PT e ao seu hegemonismo. O PT resolveu priorizar a aliança com o PMDB neo-lulista. Talvez até com receio de que a outra banda possa produzir um candidato viável. Então, ele (o PT) talvez esteja se calçando por aí e se distanciando do PCdoB e do PSB porque não têm garantia de que vamos apoiar um nome do petista (à sucessão de Lula). E dentro do PSB há um nome muito forte que é o de Ciro Gomes. Então, na hora em que veio o rolo compressor sobre a gente, nós tínhamos que abrir os braços. E esse bloco (PCdoB/PSB) está dando passos para se consolidar. Já temos uma plataforma conjunta para pressionar o governo Lula no sentido de avançar e consideramos também as eleições municipais. Não como regra rígida. Mas onde for possível estarem juntos. Vamos trabalhar para isso.


 



Esse bloco do PCdoB pode caminhar junto – à margem do PT – na sucessão municipal do Recife?
Eu diria que não é impossível. Mas a realidade daqui é outra. Todos estão juntos. E tem também o PTB, que não está no bloco (formado pelo PCdoB e PSB).
 


 



Como o senhor analisa esse processo de cooptação desenfreada que o presidente Lula desencadeou contra a oposição?
 
Mas não há oposição porque eles foram cooptados. Há porque a derrota (de 2006) foi muito feia. Eles (as oposições) estão se recompondo ainda. Estão sem discurso. A derrota foi até ideológica. Eles estão desarticulados. Aí chega Jarbas Vasconcelos (senador), com o prestígio de ter sido do MDB autêntico, e gera-se uma expectativa de que ele poderia ser um referência na oposição. Mas o que foi que aconteceu até agora? Nada. Aliás, Jarbas nunca quis jogar papel na cena nacional. Quando éramos aliados dele nós insistimos muito para isso. Jarbas, uma liderança da oposição? Que oposição? A oposição está sem eira nem beira, sem líder, desencontrada. E como é que Jarbas vai ser líder da oposição se o partido dele está no governo? O PFL (hoje Democratas) e o PSDB vão aceitar ser liderados por Jarbas do PMDB?
 


 


Mas não é necessária oposição numa democracia?
Sim, claro. Mas não é ele (Jarbas). É o PSDB e o PFL (Democratas) que ainda estão procurando um discurso. Agora, no plano local, eles (PMDB/Democratas/PSDB) vão tentar se reaglutinar para tentar ganhar a eleição (de 2008). E o mais provável é que saia um do Democratas, um do PMDB e Raul Jungmann (PPS) correndo por fora. O quadro ainda é muito complicado. É por isso que do nosso lado a discussão está errada. Não poderia ter nomes agora. Como é que um partido já tem oito nomes? Fora os outros que circulam por aí. Talvez até eles (da aliança) estejam sendo mais competentes. Porque o PFL (Democratas) não vai dizer que Mendonça Filho é candidato agora. Vai decidir isso no momento apropriado. Está corretíssimo. Preserva um quadro e vai decidir dependendo do cenário como um todo: se arrisca ele (Mendonça) perder outra eleição ou se lança outro nome e o preserva para se eleger deputado federal (em 2010). Porque eles também não devem se enganar nessa eleição. Os percentuais que Mendonça obteve no Recife foram no segundo turno, quando só tinha dois candidatos, dois lados. E apesar da, ainda, prevalência da macro-política econômica conservadora (do governo Lula), há sinais claros de que o País começa a crescer. Em Pernambuco, nunca se teve um volume de investimentos previstos que podem até duplicar o PIB do Estado. Isso significa um novo ciclo de oportunidades e também novos desafios. Era isso que deveríamos estar discutindo. O PCdoB vai fazer uma série de palestras sobre questões substantivas e convidar todos a participar. É uma contribuição que queremos dar para colocar em pauta os novos desafios. Vamos começar com Tânia Bacelar (economista e ex-secretária do governo João Paulo), provavelmente sobre os reflexos e desafios da atual conjuntura econômica para as cidades. Convidaremos também políticos de outros partidos como Armando Monteiro Neto para falar sobre a agenda da indústria para as cidades que ele apresentou ao presidente Lula e à Câmara.
 
“A tese de várias candidaturas deve ser avaliada”
Publicado em 06.05.2007 por Ana Lúcia Andrade e Paulo Sérgio Scarpa, do Jornal do Commercio