Lula cria pasta de Mangabeira Unger de olho em 2014

Por Paulo de Tarso Lyra, no Valor Econômico*
Tão logo foi reeleito presidente da República, em outubro do ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva comunicou aos aliados de campanha, em conversa sobre o futuro, que sua nova obsessão seria a própr

Depois da primeira reunião com o novo ministério, Lula pediu aos seus ministros que apresentassem ações de longo prazo, com o horizonte de 2022 – data em que se comemora o bicentenário da Proclamação da Independência. Coincidentemente, oito anos depois das eleições presidenciais de 2014. 



Um olho no Bloco de Esquerda



Na semana passada, durante jantar com o PMDB, avisou que os aliados precisam se unir para garantir a continuidade do projeto político iniciado em sua gestão. “Raramente Lula é taxativo em suas intervenções conosco. Se ele foi tão incisivo nesta questão, é porque de fato está empenhado nisso”, resumiu ao Valor um aliado que ouviu a frase do próprio presidente. 



Lula não quer perder o controle do debate. Por isso vem acompanhando com muita atenção os projetos políticos que surgem no PT, estabelecendo limites para uma ou outra liderança. Também não gostou dos movimentos do PSB, PCdoB e PDT de formar um núcleo de esquerda dentro da coalizão. Aliados históricos viram como um recado a fala do presidente durante o jantar com o PMDB. “Ao afirmar que o PMDB tem o direito, sim, de pleitear sucedê-lo em 2010, o presidente Lula quer deixar claro que os partidos de esquerda não podem prescindir de consultá-lo sobre essa questão”, afirmou um presidente de partido. 



PT não tem nome forte para 2010



Lula também assume, nos encontros políticos com aliados, que, na atual conjuntura, o PT não tem um nome forte para 2010. O único nome que ele concordaria em apoiar seria o governador da Bahia, Jaques Wagner. Mas o presidente sabe que a tarefa do governador da Bahia é complexa. Wagner é um nome em formação e precisa ser um bom administrador estadual para evitar que o carlismo retorne com força em 2010, causando um retrocesso no poder político do PT. 



A ministra do Turismo, Marta Suplicy, sonha com a indicação, mas o presidente não se empolga com a idéia. Entre os aliados, Marta passa a imagem da “aristocracia paulistana, alguém que não tira o chapéu, nem pede licença para entrar: simplesmente entra”. Torna-se, dessa maneira, um nome de difícil composição. Tem qualidades indiscutíveis, na visão de aliados, como a agressividade e a ousadia política que a tornaram principal articuladora da campanha política de Lula em São Paulo. Mas isso não seria suficiente para angariar a simpatia dos que o presidente quer reunir em torno do seu projeto. 



Um “Estado-Maior” consultivo



Para reforçar seu papel de protagonista, Lula empenhou-se em criar o Conselho Político, formado por presidentes e líderes de partidos aliados. Pretende com isso azeitar as votações no Congresso e unificar o discurso da coalizão, formando uma espécie de “Estado-Maior” consultivo para ações e diretrizes políticas. Sempre que pode, o presidente participa dos encontros. Já discutiu o PAC, a crise aérea e a prorrogação da DRU e da CPMF com os partidos que o apóiam. 



O grupo consultivo ainda não funciona com a força que pretende o presidente, mas há quem atribua esse descompasso aos próprios partidos. “Nós ainda continuamos pensando apenas em nossos próprios interesses”, justificou um político com assento no Conselho. 



O condutor político e os gestores



Para não passar a imagem de que busca cuidar apenas da parte política, relegando a segundo plano a tarefa de governar, Lula delegou a coordenação da administração para a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Em diversas solenidades públicas, o presidente repete que os ministros precisam prestar contas à chefe da Casa Civil de suas ações. Durante a última cerimônia de posse, há três semanas, o presidente chegou a brincar: “Torçam para que ela esteja de bom humor”.



Para aliados de Lula, essa estratégia não significa descaso presidencial com o ato de governar. “Governar é isso: você tem um condutor político, que é o presidente, com peso para mostrar os caminhos. E outros integrantes do governo tornam-se gestores e passam a cuidar da administração pública”. Mas com um coordenador forte, o presidente pode dedicar-se mais à política. 



O presidente também foi cuidadoso ao escolher como prioridades para o segundo mandato as áreas de educação e saúde, além de manter as políticas de combate à pobreza. Durante a reforma ministerial, o presidente avisou que “com saúde e educação não se brinca, porque o primeiro gera morte e o segundo, analfabetos”. Esse tripé rende frutos de longo prazo e, conseqüentemente, colheitas posteriores para os governantes bem sucedidos. 



“Cuidando da área social, da educação, da saúde e arrumando a infra-estrutura nacional, com o PAC, você assegura governos para 20 anos, mesmo que o restante de seu governo seja medíocre”, avalia um aliado de Lula. “Essa é uma maneira de manter-se no poder de forma democrática”, completou um presidente de partido.



* Intertítulos do Vermelho