Brasil quer integração formal a plano do Banco do Sul

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse no sábado (14) que o Brasil quer integrar-se formalmente ao projeto do Banco do Sul, que foi anunciado anteriormente por Venezuela e Argentina.

Na sexta-feira, representantes da Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador se reuniram com Mantega na sede da delegação argentina do Banco Mundial para discutir o processo de formação do banco.


 


O ministro sugeriu que o banco seja vinculado a projetos de desenvolvimento mais que de financiamento e esteja ligado ao Mercosul.


 


“Apesar do Brasil não estar necessitando financiamento e nem equilíbrios orçamentários e financeiros, o Brasil está interessado na integração da América do Sul e trabalharia para a criação do Banco do Sul”, disse Mantega a jornalistas.


 


O ministro comentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está esperando convite formal da Argentina e Venezuela para unir-se ao projeto, o que provavelmente deve ocorrer durante um fórum de energia no próximo dia 17, na Isla Margarita, na Venezuela.


 


Mantega afirmou que até a reunião de sexta-feira não havia ficado claro se o Brasil foi convidado a participar totalmente do banco ou se seu papel seria de mero observador.


 


“Como houve uma manifestação unilateral da Venezuela e Argentina sobre a criação do banco, e nós fomos convidados depois, é necessário que o presidente Lula firme um termo de adesão”, disse o ministro.


 


Os representantes dos países estão em Washington para reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que terminam no domingo. Além de Mantega, participam dos encontros a ministra argentina Felisa Miceli e o equatoriano Ricardo Patiño. Ainda integram as conversas representantes dos bancos centrais da Venezuela e da Bolívia.


 


Os países ainda não definiram as cotas no novo organismo, mas Mantega acredita que elas têm de ser semelhantes para evitar disparidades como ocorre no FMI. Ele acrescentou ainda que criar um banco multilateral é “multilateralmente complicado” e exigirá paciência.


 


Até o momento, a Venezuela ofereceu entrar com 1,4 bilhão de dólares e a Argentina com cerca de 350 milhões ou 10 por cento de suas reservas.


 


O ministro afirmou que o governo não se incomodaria se a sede do Banco do Sul fosse instalada em outro país que não o Brasil e defendeu que o organismo seja baseado em um Estado pequeno para estimular outras economias da América do Sul.


 


Uma reunião técnica de avaliação da proposta de criação do banco também está marcada para 19 e 20 de abril, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, disse Mantega.


 


A Venezuela, por seu lado, tem urgência para a criação do banco, idealizado para ser uma alternativa a organismos como o Banco Mundial e o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID), influenciados pelos Estados Unidos.


 


O presidente venezuelano, Hugo Chávez, um inimigo das políticas norte-americanas, disse que quer ver o projeto do banco pronto até o final de junho e espera que ele entre em operação ainda este ano.


 


Mais cauteloso, Mantega disse que um banco de desenvolvimento pode levar pelo menos 12 meses para ficar pronto. E destacou que o banco terá que exigir garantias, como qualquer outra instituição financeira.


 


“Tem que ser um banco de desenvolvimento dentro das normas do mercado, que exija garantias e tenha princípios muito claros para a entrega dos recursos, afinal, seremos todos responsáveis por sua aplicação”, disse o ministro da Fazenda.


 


“Os recursos são dos países (…) e serão fiscalizados como qualquer recurso dos tesouros públicos”, acrescentou.


 



Pacto regional contra crise


 


Paralelamente ao debate sobre o Banco do Sul, as duas maiores economias da América do Sul articulam com os membros do Fundo de Reservas da América Latina um acordo regional de reservas semelhante ao existente na Ásia, disse uma autoridade de política monetária da região neste domingo. No próximo dia 25 de maio uma reunição entre as partes deve ser realizada para concretizar a proposta.


 


Brasil e Argentina, assim como o Uruguai, planejam reunir-se com os membros do Fundo –Colômbia, Venezuela, Peru, Equador, Costa Rica e Bolívia– em Assunção, no Paraguai, acrescentou a autoridade, que preferiu não ser identificada.


 


O Fundo, com sede em Bogotá, possui recursos de 2,1 bilhões de dólares e os três países do Cone Sul estão “explorando a possibilidade” de contribuir com recursos para criar a versão latino-americana da Iniciativa Chiang Mai, acrescentou a fonte.


 


O pacto é uma troca bilateral de moedas estrangeiras para dar aos países do sudeste asiático um poder extra no caso de uma nova crise como as de 1997 e 1998.


 


Fonte: Reuters