“YouTube” dissemina ideologias racistas pela internet
As demonstrações de racismo contra os imigrantes latinos nos Estados Unidos alcançaram as principais
Publicado 07/04/2007 19:13
A proliferação desses vídeos coincide com um ressurgimento de grupos racistas como o Ku Klux Klan. Segundo um relatório da Liga Antidifamação, a organização racista retomou suas atividades com força, centrando seus ataques na comunidade latina, que já soma mais de 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos.
A internet potencializou essa tendência. O anonimato oferecido pela rede e, especialmente, a facilidade com que se pode postar um vídeo em sites muito visitados transformaram-se em uma arma de propaganda nas mãos dos grupos contrários à imigração.
Centenas de vídeos que denunciam ''a reconquista de antigos territórios iniciada pelos mexicanos em solo americano'' podem ser encontrados facilmente em sites tão populares como o YouTube.
''Guerra de fronteira''
Os latinos concentram a ira de alguns americanos, que vêem na imigração ilegal a causa de todos os males de que o país sofre — e que, como tenta mostrar a maioria dos vídeos, exigem uma ação governamental mais efetiva na fronteira com o México, para evitar que os imigrantes ilegais realizem ''uma invasão''.
Grande parte do material mostra autênticos monólogos de indivíduos anônimos que afirmam que, ''se os imigrantes não fossem contratados, os salários dos americanos subiriam''. É o caso do vídeo de Jezuzfree, cuja obra foi visitada quase 1.800 vezes.
Jezuzfree, que se classifica como ''um patriota e um verdadeiro americano'', também acusa os países dos quais procedem os imigrantes de ''não acabar com a corrupção e não alimentar nem dar um lar aos refugiados que enviam (aos Estados Unidos)''.
Outros vídeos mostram as ações das forças policiais na fronteira sul do país — onde asseguram que existe uma ''guerra de fronteira'' —, além de imagens das manifestações de trabalhadores latinos, que proliferaram em 2006 na maioria das cidades americanas, e outras imagens de protestos de grupos contra a imigração.
México x EUA
Há gravações, como a postada por um internauta sob o pseudônimo de Mikehuntusa2, que mostra o problema da imigração como uma guerra entre o México e os Estados Unidos.
No vídeo de Mikehuntusa2 — que diz que não é racista, mas que não suporta que os imigrantes ''se aproveitem dos Estados Unidos'' —, aparecem mapas do território americano, nos quais se lê ''não é seu''. E outros do território mexicano com a frase ''isso, sim, é seu''.
''Lembram-se do Tratado de Guadalupe Hidalgo?'', continua o vídeo, que fala das ânsias do México por recuperar seus antigos territórios, agora dentro das fronteiras americanas. O vídeo acusa, ainda, ''os liberais e as anistias dos anos 80'' de serem os responsáveis pela atual situação.
Invasão ''comunista''
Há vários vídeos que chegam até a falar de uma ''invasão comunista dos Estados Unidos a partir do México'' e de uma “guerra dos imigrantes contra o país”. As peças exortam os cidadãos a agir, como no caso dos vídeos de Sov777, de Tucson, no estado do Arizona.
''Estão aqui e acham que essa terra é sua. Se não nos levantarmos pelo que nos pertence, pelo que nossos antepassados pagaram com sangue, isso nos será tirado'', assegura Sov777, que fala dos que se mostram contra os imigrantes como ''heróis nacionais''.
Al Qaeda
Um vídeo ainda mais surpreendente é o que vincula grupos de defesa dos direitos dos imigrantes à organização terrorista Al Qaeda.
Na gravação denominada The Aztec Al Qaeda (a Al Qaeda asteca), da organização The Watchdog, vista mais de 13 mil vezes, a Al Qaeda é relacionada com o Movimiento Estudiantil Chicano de Aztlán (Mecha), com base em Denver, no Colorado.
A The Watchdog denuncia que o Mecha, criado em 1969 para lutar pelas reivindicações das organizações estudantis chicanas (pessoas que vivem nos Estados Unidos e fazem parte da minoria mexicana no país), ''odeia os Estados Unidos e todo americano'', e que o atual prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, um mexicano, pertenceu à ''organização antiamericana e de caráter separatista''.