Reino Unido admite que ocupação do Iraque matou 650 mil
Documentos obtidos com base na lei de liberdade de imprensa, em Londres, revelam que autoridades do governo do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, aprovaram a metodologia usada por um grupo de acadêmicos para calcular em cerca de 650 mil o nú
Publicado 27/03/2007 10:47
A emissora britânica BBC informou que assessores do governo concluíram que os métodos usados para chegar a tais cifras são consistentes. O gabinete de Blair e a Casa Branca, no entanto, rejeitaram as conclusões do estudo, feito por professores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, e da Universidade al-Mustansiriya, de Bagdá.
Segundo a pesquisa, cerca de 655 mil iraquianos morreram em condições que não seriam esperadas caso não houvesse a invasão de março de 2003 e posterior ocupação. O estudo estima que, dessas mortes, 601.027 foram fruto da violência. Os pesquisadores, cientes das dificuldades em se fazer tais tipo de pesquisa, disseram que estavam 95% seguros de que o número verdadeiro estaria entre 392.979 e 942.636 mortes.
Propaganda contra pesquisa
Em Washington, o presidente George W. Bush disse que não considerava o documento “um relatório verossímil”. E em Londres, o porta-voz oficial de Tony Blair afirmou, na ocasião, que o estudo extrapolava uma amostra não representativa da população. Entretanto, num e-mail obtido pela BBC World Service, uma autoridade do governo – cujo nome foi borrado – diz que “a metodologia usada pela pesquisa não pode ser jogada no lixo, ela é uma forma testada e provada de medir a mortalidade em zonas de guerra”.
Em outro ponto, o consultor científico do Ministério da Defesa britânico, Roy Anderson, descreveu os métodos empregados no estudo como “robustos” e “próximos das melhores práticas”. De acordo com um memorando da BBC, ele recomenda aos funcionários do governo que tenham “cautela ao criticar publicamente o documento.”
A censura imposta pelos militares das forças de ocupação impede a pesquisa e a divulgação de mortes de iraquianos. Exemplo disso foi o combate ocorrido pelas cidades de Najaf e Faluja, em 2004. As duas cidades, que estavam controladas pela resistência, foram invadidas em uma tentativa de submetê-las ao controle pelas tropas de ocupação. Na época, o comando militar proibira a presença de jornalistas nas áreas de combate.
Os dados discrepantes sobre o número de iraquianos mortos durante a ocupação são frutos de diversos tipos de pesquisa, que trabalham com dados que não podem ser verificados in loco. A Missão de Assistência da ONU para o Iraque estimou que 34.452 civis iraquianos foram mortos durante a ocupação somente em 2006, enquanto que para o governo de Bagdá foram 12.357. O grupo Iraqi Body Count estima que entre 59 mil e 65 mil civis morreram desde 2003, em uma contagem baseada somente em relatos publicados pela imprensa.