Manutenção do bloco de esquerda exige paciência e dedicação
''Esta é uma obra de engenharia política que irá repercutir e já está repercutindo na Casa e sobretudo para a sociedade brasileira''. As palavras do líder do PCdoB, Renildo Calheiros, define a formação do bloco de esquerda formado pelo PSB, PDT, PCdoB,
Publicado 08/02/2007 13:50
As palavras compreensão, paciência e dedicação estiveram presentes nas falas de todos os oradores. Ao líder do bloco, deputado Márcio França (PSB-SP) coube o papel de regulamentar as atividades do bloco, o que foi manifestado com ênfase em suas falas – marcação de reuniões, montagem de agenda e elaboração de documentos foram propostas por ele, destacando a condução das discussões sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O presidente do PSB, Roberto Amaral, o único dos dirigentes partidários presente ao evento, falou sobre a decisão dos presidentes dos Partidos que estiveram reunidos na quarta-feira, conversando sobre o bloco. A proposta é expandir o bloco político para o Senado e os estados, para além da atuação na Câmara, para além das eleições, até a discussão das grandes causas do País.
Os trabalhos foram dirigidos por França e a mesa composto pelos líderes e dirigentes partidários – Miro Teixeira (PDT-RJ), Renildo Calheiros (PCdoB-PE), Paulinho da Força (PDT-SP, Takayama (PAN-PR) e Chico Tenório (PMN-AL).
O ex-presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que chegou após o início da reunião, foi aplaudido, convidado a compor a mesa e a discursar no evento, apresentado como um dos articuladores do bloco.
Regras de convivência
O presidente do PDT, Miro Teixeira, aconselhou os colegas a abandonarem a discussão sobre a reafirmação do bloco. Para ele, o assunto não está em discussão. Miro Teixeira, apontado como um dos políticos mais experientes do bloco, destacou ''o espírito da fraternidade, generosidade e complacência'' como regras de convivência necessárias para o êxito do bloco.
E arrancou risadas do público ao dizer que essas regras eram possível ''já que somos humanos, desprovidos de vaidade''. E citou o ensinamento apreendido com Aldo Rebelo: quem não se prontifica a ajudar, se coisifica, o importante não é ''quem é'', é ''o que é''.
Com Renildo Calheiros, que enfatizou as negociações, os entendimentos como regras para o sucesso da atuação do bloco, Miro Teixeira disse que não crê em regras pré-fabricadas. ''Vamos botar (o bloco) para funcionar e ir corrigindo as falhas – a gente caminha, caminhando – e vamos dar certo, não para nós, mas para o País''.
O líder do PDT cumprimentou Aldo Rebelo, ''que fez uma presidência digna e se habilitou a essa candidatura que era dele, era de companheiros'', afirmou.
Aldo agradeceu a Miro as palavras elogiosas e disse que ''o bloco não é invenção de personagens e partidos, é criação da história, fruto do longo desenrolar e amadurecimento de forças políticas que lutaram para que nosso país se tornasse mais democrático e equilibrado''.
Para Aldo Rebelo, o bloco dá um passo nesse sentido. E, como os demais oradores, demonstrou confiança na solidariedade do grupo para que ''avalize o nosso futuro''. E encerrou as breves palavras, agradecendo ''a solidariedade e companheirismo que recebi na jornada recente''.
Tradição de Luta
O discurso de Renildo Calheiros também focou na construção política do bloco. Ele destacou a união como ''fato político relevante, que reúne as melhores tradições de luta do povo brasileiro''.
Ele disse que o bloco tem 75 parlamentares, super qualificados, respeitados dentro e fora da Casa, igual aos outros dois – PT e PMDB. Renildo lembrou que como o bloco de direita – PSDB, PFL e PPS – que já se desfez, o mesmo acontecerá com o bloco de centro-esquerda, formado pelo PT e PMDB, ''por que falta a eles consistência programática, o que o nosso tem''.
Calheiros insistiu que não se pode regulamentar demais o bloco. ''É uma construção política, só vai adiante se contar com paciência e dedicação; deixar de lado as vaidades e fazer concessões para ir adiante, afirmou.
Para o líder comunista, ''precisamos do movimento para qualificar a nossa ação parlamentar, o que prevalece são as proposições que aglutinam ou ela não irá adiante. A negociação, o entendimento serão sempre necessários, mas sem o bloco reduzimos o nosso papel político e a nossa influência nas decisões que aqui são tomadas''.
Expansão do bloco
Roberto Amaral disse que a proposta dos presidentes é de que o bloco não seja restrito a atuação parlamentar. ''Tem que ir para além de uma discussão na participação das comissões (técnicas) da Câmara dos Deputados'', disse, acrescentando que ''nós pensamos no bloco político, para além desse mandato, que pense nas eleições, de 2008, que pense nas eleições de 2010, que pense as grandes causas do País''.
Ele anunciou a constituição do Colégio dos Presidentes, ''que vai discutir a proposta de conformar atuação a partir de carta de princípios, um programa mínimo para explicar a sociedade por que estamos juntos e que oriente nossas lideranças e bancadas em suas atuações'', explicou.
Disse ainda que ''queremos estender a experiência da Câmara ao Senado e, respeitadas as circunstâncias regionais, trabalhar bloco nos Estados''.
Também o presidente do PSB fez um discurso de conciliação. ''Não somos contra ninguém'', ressaltou, lembrando que todos os partidos do bloco integram a coalizão que dá sustentação ao governo Lula. Segundo ele, o bloco vai ajudar ao governo Lula e à discussão no Congresso Nacional e na sociedade'', citando o exemplo do PAC, ''que vamos defender, examinando e estudando. Somos a favor da discussão dos grandes problemas nacionais''.
Agenda de trabalho
Márcio França – o tarefeiro do bloco – foi o primeiro a chegar ao plenário 5 que, ao final do ato, estava lotado. Ele falou sobre aquilo que seria discutido na reunião, mostrando-se mais preocupado com as questões práticas que vão dar continuidade aos atos do bloco.
Ele marcou agenda de trabalho – reunião para a próxima terça-feira (13), às 10 horas, para discutir a pauta da semana e definir uma atuação em plenário, unificando os votos. E manifestou preocupação com medida da oposição de questionar decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com relação à repartição dos recursos do fundo partidário. A decisão adotado pelo bloco é de ter acesso ao projeto e impedir a votação na tarde de hoje.
Ele defendeu ainda a designação de vice-líderes para ''dar formato ao bloco'', explicou que tem ''enes'' afazeres que não pode ser feito por uma só pessoa. A primeira delas é unificar as emendas ao PAC, precisamente na questão do uso do FGTS e limitação do reajuste do salário dos funcionários.
''Tem que sistematizar as emendas porque cada partido e cada parlamentar pode apresentar emendas e propostas, mas se for conjunto, as possibilidades de êxito são maiores'', afirmou.
De Brasília
Márcia Xavier