No Zócalo, Obrador afirma-se “presidente legítimo do México”
O dirigente de centro-esquerda mexicano Andrés Manuel López Obrador se empossa na noite desta segunda-feira (20) como “presidente legítimo do México”, contestando a alegada vitória do direitista Felipe Calderón por 0,6% dos votos, na eleição presidencial
Publicado 20/11/2006 18:42
O “governo legítimo” terá como sustentáculo o povo organizado, disse AMLO. Seu lançamento no 20 de Novembro coincide com o 96º aniversário da Revolução Mexicana.
López Obrador adverte que não lhe importam “as desqualificações e as burlas da direita”, porque governará com o povo, em “um governo legítimo, não de sombra nem simbólico”, mas atuando por meio de uma força popular que começa a crescer em todo o país, para enfrentar “um regime neofascista que só beneficia a uma minoria privilegiada”.
Papel “desonroso” da maioria da mídia
O ato público da posse está marcado para a Praça do Zócalo. A praça, que tem sua origem nos tempos pré-colombianos, constitui o centro histórico da capital mexicana e é o ponto de concentreação tradicional das manifestações de massas no país.
La Jornada quis saber sobre a forte campanha de mídia, que classifica López Obrador como “patinho feio” ao governo que encabeçará, e acusa-o de se autoproclamar presidente legítimo.
O líder do PRD contesta: “É lamentável e inclusive desonroso o papel da maioria dos meios de comunicação. Com honrosas exceções, quase todos atuam em bloco sempre a favor do poder. São muito poucos os que têm uma postura próxima da sociedade. Quando se põe de um lado da balança a imprensa livre e independente, e do outro a imprensa que defende o regime e sobretudo os grupos de interesse criados, há uma enorme desproporção”, opina.
“Vamos entrar numa nova etapa”
López Obrador afirma que vê o futuro com tranquilidade, pois, apesar das tentativas de liqüidá-lo politicamente, continua na luta. “Assim como a direita e a ultradireita conseguiram aglutinar os grupos mais conservadores”, argumenta, também do lado progressista os cidadãos se reagrupam. “Não digo que seja todo o povo, mas sim que há milhões de mexicanos dispostos a insistir na necessidade de uma mudança verdadeira”, afirma.
“Estou muito satisfeito com a decisão que tomamos. Foi correta. A partir de hoje vamos entrar numa nova etapa”, diz ainda.
“O fato de lhe arrebatarem a presidência foi um dos golpes mais fortes que já sofreu?”, quis saber o jornal. “Não sei. Já recebi muitos golpes, mas sempre me levantei, e isto me ajuda a não me deixar abater agora. Qheguei à conclusão de que a causa que defendemos é tão importante, tão justa, que não importa o tempo que leve. Se eu me retirasse, recuasse, seria como um ato de traição aos que se rebelam contra o predomínio das minorias”, respondeu AMLO.
Calderón, “pelego” e “gerentezinho”
Sobre o governo do presidente eleito conforme o resultado oficial, Andrés Manuel López Obrador é duro: “Não vou fazer prognósticos. O que posso dizer é que Calderón é cria dos delinqüentes de colarinho branco. Quando o chamo de pelego, não me proponho a insultá-lo, simplesmente o descrevo. É um gerentezinho dos poderosos. Por isso não vai representar o povo do México. Impuseram-no para representar um grupo, uma minoria. Ele sabe qual é o seu triste papel”, comenta.
Ainda sobre Calderón: “Ele recusou a recontagem voto por voto e urna por urna. Ele sabe que não ganhou, que é produto de uma fraude eleitoral. Isto não pode lhe dar tranqüilidade! Por mais cínico que seja, não pode se sentir seguro. Calderón fez um pacto com a quadrilha da política e a delinqüência de colarinho branco, para roubar a eleição. Está comprometido”, declara AMLO.
Ele promete fazer um governo intinerante, de segunda a quarta-feira em Cidade do México e nos dias restantes percorrendo “os 2.500 municípios do país”. E exemplifica: “Haverá um Diretório de representantes. Se, por exemplo, Calderón pretender marchar para a privatização da Pemex (a estatal petroleira mexicana), da Luz e Força, ou buscar socavar as conquistas trabalhistas, ou gravar os pobres, no sentido de cobrar impostos de vacinas e alimento, ou reprimir o povo, imediatamente convocarei esses representantes para nos mobilizarnos.”