Movimento estudantil sai fortalecido das eleições
O movimento estudantil foi uma das instituições mais coerentes e organizadas no processo eleitoral que terminou no último domingo (29) e decidiu os representantes da população pelos próximos quatro anos. Desde o início do debate público sobre os rumos do
Publicado 31/10/2006 15:40
Para o presidente da UNE, Gustavo Petta, a entidade mostrou durante todo o processo eleitoral que soube ser firme na defesa de um projeto de nação que levasse em conta a construção de um país mais justo e soberano. “Os estudantes avaliaram durante os nossos fóruns de discussão as melhores propostas para o futuro do Brasil. E foi dessa forma que soubemos nos posicionar diante da grande polarização que ocorreu nestas eleições. Agora, vamos para as ruas cobrar do presidente, deputados e governadores eleitos o compromisso com as nossas reivindicações”, diz.
A Vice-presidente da UNE, Louise Caroline, endossa a opinião de Petta. Ela reforça o importante papel das entidades estudantis e diz que quando a disputa se acirrou a UNE soube se posicionar: “Do lado das idéias progressistas, que colocavam como prioridade a defesa do patrimônio nacional, a distribuição de renda e a justiça social”, afirma.
O próximo passo? Para Louise o lugar da UNE é na rua, e na articulação para reforçar a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). “É necessário agora uma ofensiva de massa, com os estudantes nas ruas, junto aos movimentos sociais, para cobrar uma ampliação das políticas públicas e um governo mais de esquerda”, diz.
Para a diretora de Relações Internacionais da UNE, Lucia Stumpf, o movimento estudantil sai fortalecido após mais uma eleição em regime democrático – a quinta após o fim da ditadura militar – e com condições de se articular com independência: “Não só os estudantes, mas todos os movimentos sociais saem fortalecidos, porque pregaram o voto consciente, construíram junto com a sociedade uma opinião”, ressalta.
Coneb e Projeto Brasil
O debate dos estudantes em relação ao seu posicionamento nas eleições de 2006 começou em abril, com o 11º Conselho Nacional das Entidades de Base (CONEB), realizado na Universidade de Campinas (Unicamp). Nessa ocasião, mais de 3.000 Centros e Diretórios Acadêmicos de todo o Brasil definiram a preparação de uma plataforma eleitoral com pontos que o movimento estudantil considera indispensável para a construção de um projeto de desenvolvimento. Daí, foi elaborado o “Projeto UNE Brasil”.
Comprometidos em resistir às candidaturas de caráter neoliberal, os estudantes entregaram o documento com suas reivindicações aos principais candidatos à presidente durante o primeiro turno das eleições, que defendiam em seus programas de governo idéias progressistas.
Voto nulo e MTV
Ao longo das eleições, a UNE e a Ubes reforçaram a importância da participação política do jovem. As entidades se posicionaram contra o voto nulo, defendido por alguns setores da sociedade e por meio da internet, em e-mails e comunidades do orkut.
As entidades também rejeitaram a manifestação de alguns órgãos de comunicação, como a MTV, que em uma propaganda veiculada à exaustão sugeria uma certa despolitização da juventude, rejeitando o debate e propagando uma ofensiva vazia contra a classe política. A emissora receitou ao seu público que se armassem, ao invés de idéias, com ovos e tomates.
“A juventude é quem mais sofre os efeitos imediatos das condições do Brasil, por isso ela se interessa pela política”, afirma Lúcia. Na sua opinião, o jovem está politizado, buscando formas de participação mais ativa na vida pública e mais inclusão: “A violência atinge primeiro os jovens, a falta de empregos, a falta de vagas nas universidades. A juventude tem opinião para modificar sua realidade”.
Alckmin Não!
No segundo turno das eleições, com a polarização entre o candidato tucano e Luiz Inácio Lula da Silva, a UNE e a Ubes decidiram lançar a campanha “Alckmin não!”, em oposição à volta dos partidos de direita ao poder. A campanha foi divulgada no portal EstudanteNet, onde os estudantes puderam ler as suas resoluções e baixar o material de divulgação.
A transparência desse posicionamento, na opinião de Lúcia, permitiu a credibilidade da representação estudantil: “A UNE desde o começo não decidiu por nenhuma candidatura, garantindo a seus diretores apoiarem individualmente qualquer projeto que quisessem”, afirma.
Sobre a perda de votos do candidato tucano, Louise avalia que a população, no momento da decisão, teve a clareza da diferença de projetos em disputa. “Alckmin perdeu votos porque o seu projeto para o Brasil era de privatizações e sucateamento da educação”, frisa.
Futuro
Segundo a diretora da UNE, nos próximos quatro anos o movimento estudantil continuará reivindicando as mudanças que julga necessárias. “Os estudantes vão pedir que a política econômica mude, no sentido de conseguir mais investimento na área social, mudanças com mais intensidade na área da educação, mais vagas na universidade pública, no Prouni, etc. Desde o dia da eleição passando por todo próximo governo, o movimento estudantil vai estar mais mobilizado ainda”, diz.
Segundo Lúcia, o resultado democrático das urnas apenas altera os caminhos que o movimento estudantil precisa seguir para conquistar seus objetivos: “Se tivesse ganho um projeto neoliberal, os estudantes teriam uma postura de resistência ao desmonte do país. Com a eleição de um governo progressista, vamos nos mobilizar por mais qualidade e intensidade nas mudanças”, conclui