Gilda Almeida (CSC): Vamos fazer valer o resultado das urnas

Mal acabou o processo eleitoral e a grita já começou. Basta olhar os jornais de segunda e terça para perceber a tentativa de impor ao segundo mandato de Lula o que foi rechaçado pelas urnas. A imprensa, tal como vem agindo desde 2003, se escora nos pon

Lula recebeu uma votação consagradora. Recebeu o voto de confiança, porque o povo o enxerga como líder de uma posição política contrária aos ditames neoliberais. Foi o que se viu no segundo turno da eleição. Quando o presidente comparou governos, apresentou os dois projetos de país em jogo e empunhou a bandeira do desenvolvimento econômico só fez crescer.


 


A reeleição de Lula, mesmo depois de passar um ano e meio no olho do furacão de uma gravíssima crise política, e após ser atingido, às vésperas do primeiro turno, pela desastrada tentativa de compra do dossiê, demonstra um amadurecimento político do nosso povo. Mais do que isso, a ampla votação do presidente dá um recado cristalino: há espaço e apoio político e popular para maiores avanços, para mais ousadia no segundo mandato.


 


Não foi à toa que elegeram-se 16 governadores que apoiaram Lula decididamente (na prática, no Maranhão os dois candidatos apoiaram Lula) e outros tantos já deram sinalizações de que não farão oposição. Sem contar que, mesmo para os candidatos derrotados, foi bom negócio declarar apoio ao presidente, como atestam suas boas votações. É um capital político bastante grande e inimaginável para aqueles que pretenderam ganhar a eleição de véspera.


 


As forças políticas progressistas não têm o direito – aliás, têm o dever de fazer o contrário – de se curvar perante às tentativas de impor uma agenda conservadora ao próximo governo. De resto, uma agenda artificial, que apequena o Brasil e foi rechaçada pelo voto.


 


O próximo mandato, para cumprir o compromisso assumido na campanha, deve trazer crescimento econômico acentuado, gerar milhões de empregos, perseverar na política de recuperação do salário mínimo, prosseguir na política de integração da América Latina e de relação com os países em desenvolvimento e ampliar o ambiente democrático. Neste último aspecto, ganham especial relevância a Reforma Política e a democratização dos meios de comunicação.


 


A Reforma Política, tão acalentada como imprescindível, não pode ser restritiva. Tem que varrer o entulho autoritário da cláusula de barreira, respeitar a pluralidade política do Brasil e fortalecer os partidos. Não guarda nenhuma relação com a realidade o argumento segundo o qual os partidos pequenos atravancam o funcionamento parlamentar. Tão pouco vale nivelá-los por baixo, como legendas de aluguel. O que se pretende com restrições ao funcionamento dos partidos pequenos é criar uma reserva eleitoral para os grandes. A cláusula de barreira é inconstitucional e antidemocrática, por isso deve ser combatida.


 


Quanto aos grandes conglomerados de mídia, não é aceitável que não prestem contas à sociedade. Aliás, não é aceitável tamanha concentração de poder nas mãos de umas poucas famílias. Reiteradamente a grande imprensa tem se demonstrado pouco afeita ao contraditório, buscando impor agendas, desconstruir governantes que a desagradem e render governos ao status quo.


 


Não é saudável e não é democrático, já que a justíssima liberdade de imprensa não pode ser manto para acobertar leviandades e imposição de pensamento. A democratização dos meios de comunicação é um desafio urgente e o novo governo tem capacidade e legitimidade para enfrentá-lo. O povo dobrou a aposta, façamos valer a vontade das urnas.